São Paulo, sábado, 25 de junho de 2011

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'Deixem a Síria tranquila', diz diplomata

Representante do país no Brasil agradece por atitude do Itamaraty de não condenar repressão do regime de Assad

Ghassan Obeid nega massacre de civis e pede "um ou dois meses" para que o país volte a ser um bom parceiro

ISABEL FLECK
DE SÃO PAULO

O mais alto representante do governo sírio no Brasil só tem elogios à posição da diplomacia da gestão Dilma Rousseff em relação ao seu país no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Em entrevista à Folha, por telefone, o encarregado de negócios da embaixada em Brasília, Ghassan Obeid, agradeceu pelos esforços brasileiros para evitar resolução como a da Líbia -que permitiu a intervenção militar.
Ele diz que as reformas planejadas pelo ditador Bashar Assad farão o país voltar a ser bom parceiro internacional "em um ou dois meses".

 

Folha - O governo sírio acusa a imprensa de não retratar o que, de fato, ocorre na Síria. Qual é a situação no país?
Ghassan Obeid -
Estamos perto de um fim para a crise. Depois do discurso do presidente Bashar Assad [na última segunda-feira], milhões de pessoas saíram às ruas para manifestar apoio às reformas anunciadas nos dois últimos meses. E elas começaram com a criação de um novo governo, nomeado por um novo primeiro-ministro.

Ainda há uma forte presença militar, com tanques, nas ruas?
Sim, como [acontece] em todos os países democráticos do mundo, até no Brasil. O militar é uma presença de confiança para o povo, que quer sair da crise, mas não traz tranquilidade para grupos armados. Além disso, quem pode enfrentar um grupo armado com bombas, metralhadoras e antitanques, se não um grupo armado legal?

Há denúncias de mais de 1.300 civis mortos. Como o governo responde a elas?
Sabemos que dezenas de civis foram mortos por esses grupos armados, e a polícia e os militares chegaram para proteger o povo. Não sei por que a mídia não fala que perdemos mais de 300 mártires militares.

Como seu governo vê os esforços do Brasil em evitar uma resolução do Conselho de Segurança da ONU?
Nós agradecemos pela posição do Brasil e contamos com ela. Ela dá tempo para que as reformas alcancem resultados concretos e respeita a soberania do país.
Os europeus querem uma resolução com a mesma ambiguidade [do texto da Líbia], para abrir a possibilidade de intervenção militar na Síria.
Isso é um assunto interno nosso. Deixem a Síria tranquila por mais um ou dois meses e voltaremos a ser um bom parceiro internacional, que busca a paz na região.

O que diferencia a situação da Síria de outros países árabes?
Os atos na Síria não foram impulsionados por um movimento popular, e sim por grupos extremistas armados financiados pelo exterior.
Alguns deles confessaram ter recebido US$ 1.000 por dia e armas. Se fossem manifestantes pacíficos, não matavam médicos em ambulâncias, nem crianças.
Eles [os prisioneiros] falam que sempre tinham um mediador para repassar o dinheiro e as armas.

Os jornalistas têm sido perseguidos pelo governo?
Não é verdade. No início das manifestações, a imprensa foi parcial, usando fatos falsos e inclusive imagens de outros países. Por isso, o governo decidiu proibir a entrada de jornalistas.

FOLHA.com
Leia a íntegra da entrevista
www.folha.com/mu934689


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