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DIREITOS HUMANOS
Ordem segue pedido feito por juiz espanhol, que investiga abusos da ditadura; extradição deve ser pedida
Juiz argentino manda prender 45 militares
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
O juiz federal argentino Rodolfo
Canicoba Corral pediu ontem a
prisão preventiva de 45 militares e
ex-militares e de um civil acusados de praticar tortura durante a
última ditadura militar na Argentina (1976-1983). A decisão foi baseada numa solicitação de detenção encaminhada no dia 8 de julho pelo juiz espanhol Baltasar
Garzón e que foi entregue à Justiça argentina pela Interpol.
Segundo Canicoba, a ordem de
prisão é um trâmite necessário
antes da oficialização do pedido
de extradição, que deve ser reencaminhado pela Espanha à Argentina num prazo de 30 dias.
O primeiro pedido foi feito em
1999, mas foi negado pelo governo do então presidente Fernando
de la Rúa (1999-2001), que, em seguida, assinou um decreto impedindo as extradições. A alegação
era de que o julgamento de militares argentinos no exterior feria o
direito de soberania nacional.
"Trata-se de uma detenção provisória, porque havia uma ordem
de captura internacional", disse o
juiz. Segundo ele, as 46 pessoas
são acusadas de genocídio e terrorismo. "Depois que se notifica a
prisão, pode-se levar adiante o
julgamento da extradição, o que
leva meses", afirmou.
Por meio de um comunicado, o
ministro da Defesa argentino, José Pampuro, determinou que as
Forças Armadas serão responsáveis pelas prisões.
Entre os nomes que figuram na
lista do juiz espanhol estão o do
ex-ditador Jorge Rafael Videla
(1976-1981), o de Emilio Eduardo
Massera -que já cumprem prisão domiciliar pela acusação de
roubo de bebês de desaparecidos
na ditadura- e o do ex-capitão
Alfredo Astiz, acusado do desaparecimento de duas freiras francesas. O atual prefeito de Tucumán,
o ex-general Antonio Domingo
Bussi, também teve pedido de prisão decretado contra ele.
Polêmica
Os pedidos de extradição e a
possibilidade de o governo do
presidente Néstor Kirchner autorizar o julgamento de militares e
de ex-militares no exterior provocam polêmica. Militares e alguns
setores dentro do próprio governo vêem as extradições como perda de soberania e argumentam
que essas pessoas devem ser julgadas dentro do próprio país.
Kirchner, em recentes declarações, cogitou a possibilidade de
revogar o decreto assinado por De
la Rúa pelo qual o país vem rejeitando pedidos de extradição. A
Argentina já negou pedidos da
Espanha, da França, da Itália e da
Alemanha.
Recentemente, Kirchner e o seu
ministro da Justiça, Gustavo Beliz,
afirmaram que o governo "não
tem intenção de limitar as extradições solicitadas por outros países para julgar acusados de repressão em tribunais no exterior".
Ontem, em Nova York, Alberto
Fernández, chefe do gabinete ministerial de Kirchner, voltou a
afirmar que a extradição de militares terá de ser resolvida "pela
Justiça da Argentina".
"É uma medida positiva, mas o
ideal seria que esses criminosos
fossem julgados no país. Respeitamos o pedido de extradição e
sabemos que Garzón será duro. O
problema mais sério da Argentina
é a impunidade, e a prisão desses
militares seria um avanço para a
Justiça do país", afirmou Mabel
Gutierrez, do grupo Familiares de
Desaparecidos.
A "guerra suja" argentina deixou, segundo organizações de direitos humanos, pelo menos 30
mil desaparecidos. Os defensores
da ditadura alegam que a repressão era necessária para conter
grupos subversivos armados.
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