São Paulo, Domingo, 25 de Julho de 1999
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JOHN EDITOR
Idéia é tratar política como "show business"
Projeto da revista "George" fracassa

Associated Press - 17.jan.96
Kennedy Jr. discursa em palanque com capa da revista "George"


da Sucursal de Brasília

Só duas edições da revista "George" esgotaram em bancas: a de estréia, em outubro de 1995, e a deste mês.
Nos dois casos, o motivo para o sucesso foi John Kennedy Jr., seu fundador e editor-chefe.
Quando apresentou "George" ao público, há quatro anos, Kennedy disse que em pouco tempo seu sobrenome já não teria importância para a revista.
Não foi assim. Nas raras ocasiões em que "George" teve repercussão, foi por causa dele: quando chamou os primos de "garotos-propaganda" do mau comportamento ou quando publicou foto de si próprio, aparentemente nu.
A revista não é ruim, mas não vai bem das pernas. Mesmo antes da morte de Kennedy Jr., já havia rumores de que poderia fechar. Esses boatos só se intensificaram nos últimos oito dias.
"George" é editada por uma associação da Random Ventures, de Kennedy Jr., com a Hachette Filipacchi, uma das maiores editoras de revistas do país. O contrato entre as duas termina em dezembro.
Há indícios de que a Hachette não tinha interesse em renová-lo. Kennedy Jr. estava buscando outros sócios capitalistas.
Ele chegou a se reunir com a Condé Nast, uma das concorrentes da Hachette. Mas sua aproximação foi rechaçada.
A proposta editorial da revista não colou, apesar de original e interessante. Ela pretendia tratar a política de um "modo incomum", como dizia Kennedy Jr..
Ou seja, assumir que a política virou espetáculo e abordá-la como se fosse "show business" mesmo: ênfase na personalidade dos políticos, nos aspectos fúteis e curiosos, mais do que no conteúdo ou no processo.
Reportagem típica de "George": os perfumes dos estadistas (em que FHC, definido como "um cavalheiro com um lado sexy e travesso", é citado como usuário de Monsieur de Givenchy).
Claro que, em todos os números, havia alguma coisa mais séria, como as várias (e bem feitas) entrevistas de Kennedy Jr. com personalidades.
Mas, da capa (onde apareceram, entre outros, Demi Moore, Julia Roberts, Cindy Crawford, Tom Hanks e Kevin Costner) à última página (a seção fixa "o que eu faria se fosse presidente"), o tom predominante era de brincadeira, diversão.
Kennedy Jr. argumentava que se faz política em qualquer atividade e que o poder político de uma atriz pode ser maior que o de um senador. Verdade. Mas "George" é muito mais Hollywood que Washington, e o público não aprovou a opção.
A publicidade vem em queda livre (40% menos páginas de anúncios no primeiro semestre deste ano em comparação com igual período em 1998). A venda avulsa também (28% menos). A circulação paga está em 400 mil exemplares mensais.
(CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA)


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