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Greve de professores vira revolta social no México
Prédios públicos, emissoras de rádio e até o Legislativo local estão ocupados
Repressão policial e recusa do governador a aumentar salários inflamam greve
que acontece no segundo
Estado mais pobre do país
Ulises Ruiz/Efe
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Silvio Rojas, membro da Assembléia Popular do Povo de Oaxaca, é ferido por repressão policial em protesto que dura 90 dias |
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma greve de professores no
Estado de Oaxaca, sul do México, transformou-se na mais violenta revolta popular do país
desde o levante liderado pelo
Subcomandante Marcos em
1994 em Chiapas.
Professores, sindicalistas,
camponeses e um pequeno
grupo guerrilheiro, a Frente
Revolucionária Popular, criaram a Assembléia Popular do
Povo de Oaxaca e ocuparam os
principais prédios públicos da
capital do Estado, também chamada Oaxaca (pronuncia-se
"oarraca"). O movimento exige
a renúncia do governador e
mais recursos para o Estado.
O conflito só comprova a tensão social do país, que ainda
discute quem venceu a eleição
presidencial de 2 de julho. A esquerda denunciou fraudes.
Mais de 70.000 professores
entraram em greve em maio,
quando há paralisações anuais
por conta da renegociação salarial. Só que o governador não
concedeu nenhum aumento e
ordenou uma violenta repressão para desalojá-los da praça
principal de Oaxaca.
Mais de 1.000 policiais atacaram os grevistas acampados
com gás lacrimogêneo em 15 de
junho. No último mês, os manifestantes ocuparam dez estações de rádio da cidade, além da
sede do governo e da Assembléia Legislativa. Governador e
deputados usam sedes provisórias.
O Estado é bastião do Partido
Revolucionário Institucional
(PRI), que governou o México
de forma autoritária por 71
anos. O governador é um caudilho que também teve sua vitória em 2 de julho contestada.
Os dois candidatos que ainda
disputam a vitória na eleição
presidencial, o conservador Felipe Calderón e o esquerdista
Andrés Manuel López Obrador, aproveitam o conflito.
Calderón fala da violência e
da manipulação dos movimentos sociais pela esquerda, enquanto López Obrador aponta
a insensibilidade do governo e a
repressão aos professores.
Até agora, o presidente Vicente Fox se negou a intervir,
dizendo que se tratava de um
problema "local". Agora, uma
inevitável intervenção pode gerar mais violência.
Miséria indígena
O protesto dos professores
ganhou o apoio imediato em
um Estado miserável. Oaxaca
vive da agricultura e, mais recentemente, do turismo. Dos
32 estados mexicanos, é o segundo pior em praticamente
todos os indicadores sociais,
acima apenas de Chiapas.
Cerca de 20% dos 3,3 milhões de habitantes é indígena
-80% dos indígenas vivem da
agricultura de subsistência e
60% das casas do Estado são de
piso batido ( em todo o México,
o índice é de 15%).
"Há muita raiva e descontentamento em um Estado com
problemas ancestrais", diz o
produtor cultural Ignacio Toscano, que dirige uma ONG de
formação musical em Oaxaca.
"Nenhum governo fez nada pelos mais pobres daqui, principalmente para os indígenas."
Jóia colonial
A revolta tomou Oaxaca, que
é uma das mais belas cidades
turísticas do país. A 465 quilômetros da Cidade do México,
foi declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela
Unesco. Além das construções
dos séculos 16, 17 e 18, um conjunto de pirâmides zapotecas
fica no vizinho Monte Albán.
Nos últimos anos, um movimento liderado pelo artista
plástico Francisco Toledo conseguiu restaurar todo o centro
colonial, que ganhou diversos
ateliês, hotéis cinco estrelas
instalados em antigos conventos e dezenas de galerias de arte
e artesanato. Um destino para
boêmios e intelectuais que não
passam por Cancún.
Agora, vários prédios coloniais estão pichados com dizeres como "Tourists, go home" e
"Oaxaca é anticapitalista".
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