São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2011

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Rancor contra gestão Obama cresce em região carvoeira

Moradores atribuem alta do desemprego à política energética do presidente

Economia extrativista responde por baixos índices sociais em área de maioria branca e majoritariamente rural

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL À APPALACHIA

A pobreza que impregna a Appalachia -uma região montanhosa quase do tamanho da Bahia no leste dos EUA- amplificou outro efeito colateral da crise econômica americana: o rancor contra Barack Obama.
Inflada pela indústria carvoeira, força política dominante na região, cresce entre parte da população a ideia de que o presidente quer exterminar empregos locais com sua política energética.
"Obama fala que quer mudar o país. O Kentucky não precisa mudar. A Virgínia Ocidental não precisa mudar", diz à Folha o franzino Charley Nunley.
A Folha visitou os dois Estados da Appalachia central, onde a população sob a linha de pobreza é 30% maior que a média nacional. "O presidente diz que se preocupa com empregos, mas só se for com os empregos no governo, os empregos 'verdes' [inovação e tecnologia]. E o emprego dele."
Nunley não é uma voz dissonante em um país que chega ao ápice da polarização sob um presidente que se elegeu como conciliador. Mas a cacofonia é mais aguda nessa região branca e majoritariamente rural, onde a economia extrativista perpetua baixos índices sociais.
"Obama quer o fim do carvão, mas é disso que as pessoas aqui vivem", reclama Jennings Moore, que voltou a Huntington, após 35 anos na Pensilvânia.
Desde os anos 1970, os empregos na indústria carvoeira local foram de 48 mil a 30 mil -no vértice da queda, há 10 anos, chegaram a 20 mil, segundo o governo da Virgínia Ocidental. Dependem do carvão, ainda, dezenas de milhares de vagas em transporte e infraestrutura. A mecanização e a troca da mineração subterrânea pela de superfície são a causa maior da perda -e o prognóstico ante uma possível recessão só não é pior porque a região exporta à Índia.
Mas as leis ambientais mais duras também pesam. Sob Obama, a EPA, agência ambiental federal, tem protelado as licenças para explorar a região, onde a água é contaminada por metais que sobram do processo carvoeiro e não pode ser bebida. O embate com o lobby carvoeiro se acirrou na Virgínia Ocidental e no Kentucky, e as doações -3/4 do total é para republicanos- cresceram 130% de 2008 a 2010.
Em um paradoxo, os dois Estados têm governo democrata. Mas aparecem em pesquisas de intenção de voto para 2012 como eleitores do candidato republicano à Presidência, seja quem for.
"O carvão é o motor dessas comunidades desde o século 19, está na herança cultural", diz Stephanie McSpiritt, socióloga da Universidade do Leste de Kentucky.
"Bem ou mal, ainda é um fluxo de renda do Estado. E é difícil romper com isso."


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