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ÁSIA
Senadora se diz "ultrajada'; Pequim minimiza cortes
China publica o livro de Hillary, mas censura trechos sobre o país
JOSEPH KAHN
DO "NEW YORK TIMES", EM PEQUIM
Em sua autobiografia, "Vivendo
a História", a senadora Hillary
Clinton relata como a prisão, na
China, do conhecido ativista pelos direitos humanos Harry Wu
provocou sensação nos EUA e
quase pôs fim aos planos dela, Hillary, de assistir à conferência da
ONU sobre as mulheres realizada
em Pequim, em 1995.
Entretanto, na edição chinesa
do livro de Clinton, oficialmente
autorizada, Harry Wu aparece
apenas de passagem. Embora seu
nome seja citado, ele é identificado apenas como uma pessoa que
"foi processada por espionagem e
detida, aguardando julgamento".
O livro de Clinton virou best-seller na China, e a foto da sorridente ex-primeira-dama americana
enfeita livrarias e lojas de aeroportos em todo o país. A Yilin
Press, editora governamental responsável pela versão do livro distribuída na China, diz que "Vivendo a História" é o livro de memórias políticas estrangeiro mais
lido na história do país, tendo
vendido 200 mil exemplares em
pouco mais de um mês.
Mas quase tudo que Hillary disse sobre a China, incluindo descrições de suas próprias visitas ao
país, das reuniões do ex-presidente Bill Clinton com lideranças chinesas às críticas que ela fez ao
controle social imposto pelo Partido Comunista e à sua política de
direitos humanos, foi encurtado
ou extirpado, de modo a excluir
do livro comentários vistos por
Pequim como ofensivos.
A Yilin Press admitiu ter feito
modificações, mas disse que foram "técnicas e pequenas" e que
não afetaram a integridade do livro. Hillary e sua editora americana, a Simon & Schuster, discordam. "Fiquei estarrecida e ultrajada", disse Hillary. "Censuraram
meu livro, exatamente como tentaram me censurar."
Um porta-voz da senadora e da
Simon & Schuster enviou uma
carta à editora chinesa pedindo
que ela faça o "recall" da edição
chinesa e providencie uma nova
tradução que seja fiel ao original.
A China frequentemente censura conteúdos políticos em seus
jornais, programas de TV, filmes,
livros e manifestações artísticas,
sem falar na internet.
Mas a publicação de livros como "Vivendo a História" faz parte
de um esforço para mostrar que a
China está se tornando mais aberta -devido, em parte, ao compromisso de afrouxar o controle
sobre a mídia que assumiu como
precondição para entrar na Organização Mundial do Comércio.
De início, a forte campanha de
promoção do livro de Hillary
Clinton parecia estar assinalando
uma nova tolerância, dado que a
edição original do livro faz referências repetidas à repressão política na China, ao status do Tibete e
outros tópicos que não costumam
ser mencionados na China.
Na verdade, a Yilin Press vem
anunciando "Vivendo a História"
como o livro estrangeiro de memórias políticas menos alterado
na história do país. "A tradução
chinesa de "Vivendo a História"
mantém 99,9% do original", disse
um representante da editora.
Tradução de Clara Allain
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