São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2011

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CLÓVIS ROSSI

Sobram palavras, faltam líderes


Em 2009, o G20 levantou US$ 1,1 trilhão para a economia; agora, há obsessão com os cortes

Em abril de 2009, os líderes do G20 chegaram para uma cúpula em Londres gritando que fariam tudo, tudo, tudo o que fosse necessário para debelar o incêndio que assolava o planeta.
Não conseguiram evitar o que o FMI chamaria de "A Grande Recessão", mas lograram impedir a depressão, que seria o apocalipse econômico-social.
Dois anos e meio depois e na antevéspera de nova cúpula (Cannes, novembro), seus ministros de Economia reúnem-se em Nova York e, de novo, anunciam uma "resposta internacional forte e coordenada" para apagar o novo incêndio.
Tudo resolvido, então? Nem por sombra. Em 2009, o G20 armou suas palavras com a impressionante cifra de US$ 1,1 trilhão em estímulos para sacudir a economia. Agora, o espírito é oposto: há uma obsessão com o corte de gastos. Só os EUA se autoimpuseram um ajuste de US$ 4 trilhões, que, se depender apenas do fundamentalismo dos republicanos, virão todos do corte de gastos.
Dá até para dizer que os líderes do mundo rico não aprendem as lições da história. A grande depressão de 1929 foi combatida com o "New Deal", um pacote de estímulos similar ao adotado em 2009. Mas o então presidente Roosevelt cancelou os estímulos prematuramente e a recessão voltou, em 1937.
É justo dizer que o presidente Barack Obama e seu secretário do Tesouro, Timothy Geithner, insistiram em apontar aos europeus, desde que a crise amainou em 2010, o exemplo de 1929/37. Inutilmente.
Está havendo uma leitura errada da crise da dívida -que é apenas um dos focos do novo incêndio. Paul de Grauwe, catedrático de Economia da Universidade de Louvain (Bélgica), lembra em artigo recente que o problema da dívida não foi causado por má gestão das finanças públicas, exceto na Grécia.
Tem a ver, isto sim, com a explosão da dívida privada, que aumentou de 50% para 70% do PIB, entre 1999 e o início da crise, em 2007. Os governos, ao contrário, reduziram sua dívida.
Quem mais se endividou, escreve De Grauwe, foi a banca: "O crescimento da dívida bancária na zona do euro chegou a superar 250% do PIB em 2007".
Com a crise, a dívida privada foi estatizada, inclusive grande parte da dívida bancária. Quando a crise amainou, os mercados apunhalaram os benfeitores pelas costas, ao cobrar juros obscenos para rolar a dívida. Os governos, acovardados, entoaram então o cantochão do "corta, corta, corta", como se fizesse sentido combater a anemia econômica com a redução de gastos.
Tem-se, então, outro foco de incêndio, na forma de desaceleração econômica em alguns países, recessão em outros e, por extensão, o obsceno desemprego que a presidente Dilma Rousseff mencionou na ONU.
Fecha o círculo a inapetência ou incompetência para abrir a caixa preta da banca (quem deve para quem, quem está exposto onde). Daí vem outro foco do incêndio: a desconfiança no sistema bancário, o que equivale a jogar areia nas engrenagens do sistema capitalista.
Sem bala na agulha para repetir Londres-2009, Cannes-2011 corre o risco de ser apenas palavras, palavras, palavras.

crossi@uol.com.br

AMANHÃ EM MUNDO
Luiz Carlos Bresser-Pereira


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