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São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Reconstrução atrai mais empréstimos que doações; números são confusos, mas superam expectativas

EUA arrecadam cerca de US$ 15 bilhões

DA REDAÇÃO

Acima das previsões iniciais, aquém das necessidades financeiras iraquianas. O saldo da Conferência Internacional de Doadores para a Reconstrução Iraquiana, que terminou ontem, em Madri, somou ao menos US$ 15 bilhões entre empréstimos e doações pelos próximos cinco anos.
A quantia é menor do que os US$ 35,58 bilhões previstos pelo Banco Mundial para cobrir o custo da reconstrução entre 2004 e 2007 -mas ainda assim surpreendeu por ser cerca de cinco vezes maior do que o valor anunciado até a véspera, diante do qual o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, dissera que poderia demorar para atingir seu objetivo.
Uma surpresa veio da União Européia, que de US$ 230 milhões anunciados previamente elevou sua oferta para US$ 826 milhões, apesar da forte oposição da França e da Alemanha à guerra. Se somadas doações individuais dos 15 países-membros, o montante chega a US$ 1,3 bilhão.
"Fossem quais fossem os desentendimentos anteriores, atingimos o consenso em torno da determinação de trabalhar com população do Iraque na construção de um futuro melhor na região", disse o comissário para Relações Exteriores da UE, Chris Patten.
O Japão, que já havia doado US$ 1,5 bilhão, calibrou sua contribuição com mais US$ 3,5 bilhões em empréstimos de médio prazo.
Países árabes, que até então não haviam contribuído, também fizeram ofertas. Os Emirados Árabes Unidos doaram US$ 215 milhões. O Irã ofereceu um acordo de logística para a exportação de petróleo e outro de compra do produto em troca de gás e eletricidade -mas não esclareceu se esta última virá da polêmica usina atômica que está construindo a despeito dos protestos americanos.
A Arábia Saudita anunciou US$ 1 bilhão em financiamento. O Kuait -invadido pelo Iraque em 1990- doou US$ 500 milhões, e Qatar, US$ 100 milhões.
O Banco Mundial também disponibilizou entre US$ 3 bilhões e US$ 5 bilhões em empréstimos.

Números nebulosos
"O povo iraquiano lembrará por muito tempo da ajuda que estamos dando neste momento crucial", disse Powell no encerramento do evento, que reuniu representantes de mais de 70 países.
Com tantos governos oferecendo acordos e empréstimos, o total arrecado em dinheiro de fato para a reconstrução ainda é obscuro. Os cerca de US$ 15 bilhões são um saldo divulgado por organizadores da conferência, patrocinada pelos EUA, e incluem condições.
Os empréstimos, em especial, trarão mais ônus à economia de um país cuja dívida soma US$ 125 bilhões, com juros anuais de US$ 7 bilhões. "Temos que reestruturar a dívida antiga e tomar cuidado com a nova", disse Powell.
Washington já havia liberado US$ 18,6 bilhões para a reconstrução, dinheiro que servirá para pagar despesas em áreas não cobertas pelo Banco Mundial, como petróleo e segurança. No entanto algumas das ofertas -caso da iraniana- entram nesse escopo, e não na conta da entidade.
Além disso, muitas das doações prevêem uma parcela para ajuda humanitária, outra conta à margem da reconstrução.
O ministro do Planejamento iraquiano, Mahdi Hafez, definiu o resultado como "um excelente começo".
Para o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, a comunidade internacional poderá contribuir mais quando a situação de segurança no país melhorar. "Não devemos julgar o sucesso da reconstrução do Iraque pelas contribuições feitas hoje. Isso é só o começo."
Annan, que, após a sede da ONU em Bagdá sofrer dois atentados, reduziu o quadro de funcionários no Iraque de 650 para menos de 20 em dois meses, disse que "o mundo mudou e a ONU deve mudar seu modo de trabalho para proteger seus funcionários". O secretário falava de um relatório que apontou falhas no esquema de segurança do organismo nos dias dos incidentes.


Com agências internacionais

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