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CIA usou empresas comerciais de aviação em prisões
polêmicas
Operações de seqüestro de suspeitos de terrorismo teriam contado com firmas de fachada e até com uma subsidiária da Boeing; empresas se defendem
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
A CIA, a agência de inteligência norte-americana, usou empresas de avião de fachada, firmas legítimas e até uma subsidiária da Boeing na operação
secreta "Extraordinary Rendition" [rendição extraordinária], o programa de seqüestros-relâmpago de suspeitos de terrorismo em países europeus e
sua transferência para países
do Oriente Médio e Ásia Central mais flexíveis em relação
ao uso de tortura.
A informação sobre o uso das
empresas de fachada e de pequenas firmas consta do livro
"Ghost Plane - The True Story
of the CIA Torture Program"
(avião fantasma - a verdadeira
história do programa de tortura da CIA), recém-lançado por
Stephen Grey, repórter especializado em comunidade de
inteligência que colabora para
jornais como "New York Times" e "Guardian".
Foi confirmada à Folha pelo
jornalista. "Não tenho dúvidas
de que a operação continua na
ativa hoje em dia e é aprovada
diretamente pela Casa Branca." Já a acusação à Boeing foi
feita por um ex-empregado da
subsidiária Jeppesen à jornalista Jane Mayer, da revista semanal "The New Yorker".
A Aero Contractors, empresa
da Carolina do Norte citada por
Stephen Grey em seu livro como uma das mais ativas na colaboração, se defende dizendo
que o livro tem "muitas insinuações e poucos fatos" e que
apenas aluga seus aviões, mas
não é responsável pelo que as
pessoas fazem com eles depois
disso. A CIA não comenta o caso. A Boeing disse a Mayer que
os planejamentos de vôos que a
empresa fornece a clientes são
"confidenciais".
A operação "rendição extraordinária" não é invenção
do governo Bush, mas vem sendo utilizada com espantosa freqüência desde o 11 de Setembro. Em discurso em setembro,
o presidente norte-americano
admitiu parte de sua existência, ao confirmar que a CIA
mantinha prisões secretas espalhadas pelo mundo.
A operação completa, porém,
envolve a prisão-relâmpago de
suspeitos de terrorismo em
países europeus, sua transferência para prisões localizadas
em países amigos e, segundo
acusam ex-prisioneiros e organizações de direitos humanos,
a prática de tortura na obtenção de informações.
Até então, suspeitava-se da
colaboração de empresas aéreas no fornecimento de logística para viabilizar essas
"transferências". Stephen Grey
e Jane Mayer dão nomes aos
bois. O primeiro baseia suas
afirmações em entrevistas que
fez com ex-prisioneiros e com
membros graduados da administração Bush, que pediram
para não ser identificados, mas
principalmente em planos de
vôo registrados por essas empresas e obtidos com o governo
espanhol.
Segundo um dos planos de
vôo, este obtido por Jane Mayer, a Jeppesen ajudou na
transferência de Khaled el-Masri, um vendedor de carros
alemão que teria sido confundido com um membro homônimo da Al Qaeda enquanto cruzava a fronteira entre a Sérvia e
a Macedônia de ônibus, entregue pelas autoridades locais à
CIA e embarcado num Boeing.
Pelo plano de vôo da Jeppesen, o avião voou para Bagdá,
no Iraque, e dali para Cabul, no
Afeganistão. Durante o vôo,
Masri afirma ter sido sedado e
acorrentado ao chão; uma vez
em terra, foi aprisionado por
quatro meses numa solitária.
Ele seria solto em 2004, por ordem direta da então conselheira de Segurança Nacional, Condoleezza Rice.
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