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AMÉRICA LATINA
Ex-presidente peruano é acusado de enriquecimento ilícito; governo japonês diz não saber seu paradeiro
Procurador abre inquérito contra Fujimori
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
O procurador José Ugaz anunciou ontem que instaurou um inquérito contra o ex-presidente Alberto Fujimori sob a acusação de
enriquecimento ilícito.
Ugaz, que havia sido nomeado
por Fujimori para investigar o ex-chefe informal do Serviço de Inteligência Nacional (SIN) Vladimiro Montesinos, pediu ontem que
a Procuradoria instaurasse um inquérito contra o ex-presidente
por ter recebido informações de
que Fujimori teria movimentado
grandes somas de dinheiro de
Cingapura para o Japão.
É o primeiro revés judiciário sofrido pelo ex-mandatário, que
anunciou sua renúncia no domingo, mas acabou destituído da
Presidência pelo Congresso peruano na quarta-feira por "incapacidade moral".
O Apra, partido de centro-esquerda, entrou anteontem com
um pedido no Congresso para
que Fujimori perca o direito de
exercer qualquer cargo público
pelos próximos dez anos.
Narcotráfico
A instauração do inquérito também foi motivada por denúncia
de Roberto Escobar, irmão de Pablo Escobar, o líder do cartel de
Medellín morto em 93. Roberto
disse que o traficante colombiano
deu dinheiro a Montesinos para a
primeira campanha presidencial
de Fujimori, em 1990.
"Isso indica que, além de Montesinos, Fujimori também pode
ter recebido dinheiro ilegal", disse
Ugaz. O procurador também afirma estar convencido de que Fujimori esteve em Cingapura para
garantir com seus advogados que
o dinheiro que supostamente
possui no país seja levado ao Japão.
O procurador disse que já pediu
aos governos dos dois países que
informem à Procuradoria sobre
movimentações financeiras feitas
por Fujimori na Ásia.
Japão
Fujimori está em Tóquio, possivelmente na casa de seu filho ou
de sua irmã. Ele já afirmou que
pretende "regularizar" sua situação no país, mas ninguém sabe ao
certo seu paradeiro -nem sua
nacionalidade.
"Ainda não sabemos se Fujimori é ou não japonês", disse ontem
Noriteru Fukushima, diretor para
a América Latina do Ministério
das Relações Exteriores do Japão.
Os pais do ex-presidente nasceram no Japão. O ex-presidente garante que é peruano, mas, em suas
três campanhas presidenciais, Fujimori teve de rejeitar acusações
de seus opositores segundo as
quais ele também seria japonês.
De qualquer modo, Fujimori
não pretende pedir asilo político
no Japão. Por ser filho de japoneses, o presidente devará pedir nacionalidade japonesa.
Segundo o governo japonês, o
ex-chefe de Estado peruano possui um visto diplomático emitido
no dia 4 de maio, o que lhe permitiria viver no Japão por um ano.
Mas Tóquio insiste que Fujimori
deve regularizar sua situação o
quanto antes.
Fukushima afirmou ontem que
o ex-presidente "não tem passaporte japonês". "O documento é
emitido pela Chancelaria; se ele tivesse um, saberíamos". Para Fukushima, "Fujimori ainda não
manifestou sua intenção de ficar
ou não" no Japão.
O site www.imediaPeru.com
colocou ontem no ar uma reportagem na qual afirma que Fujimori sempre possuiu nacionalidade
japonesa e mostra uma suposta
certidão de nascimento de Fujimori, apresentada em 1938 à Embaixada do Japão em Lima.
Governo de transição
O presidente Valentín Paniagua
reuniu-se ontem com seu primeiro ministro, o ex-secretário geral
da ONU Javier Pérez de Cuéllar,
que chegou anteontem ao Peru. A
administração de Paniagua
-presidente do Congresso que
assumiu a Presidência essa semana, após o afastamento de Fujimori e da renúncia de seus dois
vices- deverá durar oito meses.
O governo de transição deverá
administrar o país até a posse do
presidente eleito nas eleições gerais de 8 de abril de 2001.
O novo ministério peruano deverá ser anunciado hoje. Espera-se, de acordo com o que disseram
o presidente e seu premiê, que seja um "gabinete técnico" -"não
preenchido por cotas dos partidos (antifujimoristas)"- e que
"todos os setores sociais sejam
consultados para que o governo
reflita o consenso".
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