São Paulo, sábado, 25 de novembro de 2000

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AMÉRICA LATINA
Ex-presidente peruano é acusado de enriquecimento ilícito; governo japonês diz não saber seu paradeiro
Procurador abre inquérito contra Fujimori

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O procurador José Ugaz anunciou ontem que instaurou um inquérito contra o ex-presidente Alberto Fujimori sob a acusação de enriquecimento ilícito.
Ugaz, que havia sido nomeado por Fujimori para investigar o ex-chefe informal do Serviço de Inteligência Nacional (SIN) Vladimiro Montesinos, pediu ontem que a Procuradoria instaurasse um inquérito contra o ex-presidente por ter recebido informações de que Fujimori teria movimentado grandes somas de dinheiro de Cingapura para o Japão.
É o primeiro revés judiciário sofrido pelo ex-mandatário, que anunciou sua renúncia no domingo, mas acabou destituído da Presidência pelo Congresso peruano na quarta-feira por "incapacidade moral".
O Apra, partido de centro-esquerda, entrou anteontem com um pedido no Congresso para que Fujimori perca o direito de exercer qualquer cargo público pelos próximos dez anos.

Narcotráfico
A instauração do inquérito também foi motivada por denúncia de Roberto Escobar, irmão de Pablo Escobar, o líder do cartel de Medellín morto em 93. Roberto disse que o traficante colombiano deu dinheiro a Montesinos para a primeira campanha presidencial de Fujimori, em 1990.
"Isso indica que, além de Montesinos, Fujimori também pode ter recebido dinheiro ilegal", disse Ugaz. O procurador também afirma estar convencido de que Fujimori esteve em Cingapura para garantir com seus advogados que o dinheiro que supostamente possui no país seja levado ao Japão.
O procurador disse que já pediu aos governos dos dois países que informem à Procuradoria sobre movimentações financeiras feitas por Fujimori na Ásia.

Japão
Fujimori está em Tóquio, possivelmente na casa de seu filho ou de sua irmã. Ele já afirmou que pretende "regularizar" sua situação no país, mas ninguém sabe ao certo seu paradeiro -nem sua nacionalidade.
"Ainda não sabemos se Fujimori é ou não japonês", disse ontem Noriteru Fukushima, diretor para a América Latina do Ministério das Relações Exteriores do Japão.
Os pais do ex-presidente nasceram no Japão. O ex-presidente garante que é peruano, mas, em suas três campanhas presidenciais, Fujimori teve de rejeitar acusações de seus opositores segundo as quais ele também seria japonês.
De qualquer modo, Fujimori não pretende pedir asilo político no Japão. Por ser filho de japoneses, o presidente devará pedir nacionalidade japonesa.
Segundo o governo japonês, o ex-chefe de Estado peruano possui um visto diplomático emitido no dia 4 de maio, o que lhe permitiria viver no Japão por um ano. Mas Tóquio insiste que Fujimori deve regularizar sua situação o quanto antes.
Fukushima afirmou ontem que o ex-presidente "não tem passaporte japonês". "O documento é emitido pela Chancelaria; se ele tivesse um, saberíamos". Para Fukushima, "Fujimori ainda não manifestou sua intenção de ficar ou não" no Japão.
O site www.imediaPeru.com colocou ontem no ar uma reportagem na qual afirma que Fujimori sempre possuiu nacionalidade japonesa e mostra uma suposta certidão de nascimento de Fujimori, apresentada em 1938 à Embaixada do Japão em Lima.

Governo de transição
O presidente Valentín Paniagua reuniu-se ontem com seu primeiro ministro, o ex-secretário geral da ONU Javier Pérez de Cuéllar, que chegou anteontem ao Peru. A administração de Paniagua -presidente do Congresso que assumiu a Presidência essa semana, após o afastamento de Fujimori e da renúncia de seus dois vices- deverá durar oito meses.
O governo de transição deverá administrar o país até a posse do presidente eleito nas eleições gerais de 8 de abril de 2001.
O novo ministério peruano deverá ser anunciado hoje. Espera-se, de acordo com o que disseram o presidente e seu premiê, que seja um "gabinete técnico" -"não preenchido por cotas dos partidos (antifujimoristas)"- e que "todos os setores sociais sejam consultados para que o governo reflita o consenso".


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