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Hospitais reabrem as
portas para mulheres
DO ENVIADO ESPECIAL A CABUL
O clínico-geral Ahmad Qader
Asaf, 40, está contente. Vai poder
trabalhar novamente com Namila, uma enfermeira de 35 anos
com quem fazia dupla no hospital
Ali Abed, centro de Cabul. ""É
muito bom poder voltar a ter essa
liberdade. Mas ainda não sabemos bem quais serão as regras",
afirma Asaf, repetindo o mantra
de quem vive na capital afegã pós-Taleban.
As regras antigas eram claras. E
obscurantistas. Em novembro de
1996, o Ministério da Saúde do
Taleban emitiu um decreto estipulando regras de trabalho impressionantes para os profissionais de hospitais estatais.
Namila não podia trabalhar
com Asaf por um simples motivo:
era mulher. ""Sentar e conversar
entre médicos e médicas não é
permitido. Se for imprescindível
uma conversa, que seja feita rapidamente e com "hijab" (véu islâmico)", dizia a regra. No Hospital
Italiano, que hoje é um centro para vítimas de guerra e suas consequências, como campos minados,
a violação da regra custou seu fechamento. Em 1998, uma batida
da polícia religiosa encontrou os
30 médicos e médicas do hospital
comendo juntos no refeitório.
Como em quase todas as áreas
da vida em Cabul, não se sabe
bem o que é permitido. O clínico
Asaf, por via das dúvidas, ainda
não trata mulheres -só médicas
poderiam fazer isso. E tem dúvidas sobre seu procedimento no
diagnóstico, quando voltar a
atendê-las. ""O médico não pode
tocar ou ver partes da paciente,
exceto a parte afetada", era a regra, um tanto complexa quando o
objetivo era buscar a causa não
evidente de um sintoma.
O efeito de tudo isso foi o afastamento do serviço público de saúde das mulheres, que eram 70%
da classe antes da guerra civil da
década de 90 -uma herança de
uma década de gestão soviética.
E também houve o afastamento
das mulheres dos hospitais. Segundo a Organização Mundial da
Saúde, o Afeganistão tem um dos
piores cenários de atendimento
feminino do mundo hoje. Uma
visita ao hospital Ali Abed dá uma
mostra: dos seus 110 pacientes,
80% são homens.
(IG)
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