São Paulo, domingo, 25 de novembro de 2001

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Hospitais reabrem as portas para mulheres

DO ENVIADO ESPECIAL A CABUL

O clínico-geral Ahmad Qader Asaf, 40, está contente. Vai poder trabalhar novamente com Namila, uma enfermeira de 35 anos com quem fazia dupla no hospital Ali Abed, centro de Cabul. ""É muito bom poder voltar a ter essa liberdade. Mas ainda não sabemos bem quais serão as regras", afirma Asaf, repetindo o mantra de quem vive na capital afegã pós-Taleban.
As regras antigas eram claras. E obscurantistas. Em novembro de 1996, o Ministério da Saúde do Taleban emitiu um decreto estipulando regras de trabalho impressionantes para os profissionais de hospitais estatais.
Namila não podia trabalhar com Asaf por um simples motivo: era mulher. ""Sentar e conversar entre médicos e médicas não é permitido. Se for imprescindível uma conversa, que seja feita rapidamente e com "hijab" (véu islâmico)", dizia a regra. No Hospital Italiano, que hoje é um centro para vítimas de guerra e suas consequências, como campos minados, a violação da regra custou seu fechamento. Em 1998, uma batida da polícia religiosa encontrou os 30 médicos e médicas do hospital comendo juntos no refeitório.
Como em quase todas as áreas da vida em Cabul, não se sabe bem o que é permitido. O clínico Asaf, por via das dúvidas, ainda não trata mulheres -só médicas poderiam fazer isso. E tem dúvidas sobre seu procedimento no diagnóstico, quando voltar a atendê-las. ""O médico não pode tocar ou ver partes da paciente, exceto a parte afetada", era a regra, um tanto complexa quando o objetivo era buscar a causa não evidente de um sintoma.
O efeito de tudo isso foi o afastamento do serviço público de saúde das mulheres, que eram 70% da classe antes da guerra civil da década de 90 -uma herança de uma década de gestão soviética.
E também houve o afastamento das mulheres dos hospitais. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Afeganistão tem um dos piores cenários de atendimento feminino do mundo hoje. Uma visita ao hospital Ali Abed dá uma mostra: dos seus 110 pacientes, 80% são homens. (IG)


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