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ÁFRICA OCIDENTAL
Líder muçulmano culpa governo pela situação de tensão; país acalma-se após a saída das candidatas a miss
Número de mortos na Nigéria chega a 215
DA REDAÇÃO
O número de mortos nos conflitos recentes na Nigéria já chegou a 215, segundo a Cruz Vermelha. Os choques deixaram ainda
mais de 1.100 feridos, depois que
milhares de muçulmanos começaram, quarta-feira, a sair às ruas
em Kaduna (norte) e em Abuja, a
capital, exigindo o cancelamento
do concurso de Miss Mundo,
marcado para o próximo dia 7, e a
prisão de jornalistas responsáveis
por um artigo jocoso em relação
ao profeta Muhammad.
Segundo as autoridades nigerianas, a calma havia voltado ontem
às regiões tumultuadas. O concurso foi transferido para Londres e os jornalistas foram presos.
Os organizadores do concurso
Miss Mundo e o governo nigeriano atribuíram os distúrbios à reação a um artigo do jornal "This
Day", em que se dizia que "até o
profeta Muhammad se casaria
com uma das belas mulheres".
Mas Nabiu Ahmed, secretário
do Conselho Nacional da Charia
(lei islâmica) na Nigéria, disse que
os muçulmanos estavam furiosos
porque os preparativos para o
concurso começaram durante o
mês sagrado do Ramadã.
"Suspender o concurso de beleza na Nigéria e transferi-lo para
outro lugar foi uma sábia decisão,
que já deveria ter sido tomada há
mais tempo. Mas é uma desgraça
que o governo só tenha atendido
ao desejo do povo depois que
ocorreram esses massacres", declarou Ahmed.
Indagado sobre o impacto causado pelo artigo publicado no
"This Day", Ahmed respondeu
que "o concurso foi a origem dos
distúrbios, porque, se esse controvertido evento não tivesse sido
programado, jamais teriam escrito esse artigo blasfematório".
Os jornalistas Simon Kolawole e
Isioma Daniel, responsáveis pela
edição do "This Day", foram presos no sábado.
Ahmed disse ainda que a chegada das candidatas no mês sagrado
[de jejum, orações e abstinência
sexual para os muçulmanos" havia aumentado as tensões e atacou
o governo nigeriano por financiar
esse tipo de espetáculo.
"É verdade que houve concursos na Nigéria durante quase 40
anos, mas nunca nos preocupamos como muçulmanos, pois
eram organizados por entidades
privadas. Mas, desta vez, o evento
foi organizado com ajuda do governo, que usou dinheiro dos impostos, e além disso durante o Ramadã, o que é inaceitável", concluiu o líder religioso.
Ahmed negou que a anulação
do concurso vá prejudicar economicamente a Nigéria. "Se a política econômica que nos foi imposta
pelo Fundo Monetário Internacional, pelo Banco Mundial e pelas instituições financeiras internacionais não podem ajudar a
atrais investimentos externos, é
impossível que uma exibição de
nudez consiga essa proeza."
Os organizadores do concurso
negaram, porém, que tivessem recebido verba do governo nigeriano, mas foram estreitamente associados à administração do presidente Olusegun Obasanjo.
O concurso recebeu o patrocínio do governo, dos Estados e da
companhia de petróleo estatal. O
governo também ofereceu medidas de segurança especiais, e a organização de caridade da mulher
do presidente nigeriano se beneficiou com as cerimônias de gala.
Na manhã de ontem, depois que
as misses haviam deixado o país, a
normalidade voltou à cidade de
Kaduna, cidade predominantemente muçulmana onde os confrontos foram mais acirrados. Ironicamente, o maior número de vítimas é de muçulmanos.
Famílias se aventuraram timidamente a sair de suas casas para
comprar comida nos mercados
desabastecidos.
Os combates destruíram pelo
menos 22 igrejas cristãs e oito
mesquitas, disse Shehu Sani,
membro do Congresso dos Direitos Civis baseado em Kaduna.
Dez hotéis também foram semidestruídos, informou Sani.
Com agências internacionais.
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