São Paulo, segunda-feira, 25 de novembro de 2002

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EQUADOR

Com 95% dos votos apurados, o coronel Gutiérrez, comparado a Chávez, tinha 54,4% contra 45,6% do milionário Noboa

Militar de esquerda é eleito presidente

DA REDAÇÃO

O coronel da reserva Lúcio Gutiérrez (centro-esquerda), 45, é o novo presidente do Equador. Com 95% dos votos apurados, ele tinha 54,4%, contra 45,6% de seu rival, o milionário Alvaro Noboa (centro-direita), na disputa do segundo turno das eleições presidenciais equatorianas.
Comparado ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, por ser militar, de esquerda e ter participado de um golpe militar, e também ao presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, Gutiérrez chega ao poder prometendo tirar da pobreza milhões de equatorianos.
"Quero unificar todas as forças políticas e trabalhar para reduzir a pobreza do Equador. Milhões de equatorianos depositaram a sua confiança em mim e não quero decepcioná-los. Terei a cabeça tranquila para encarar os grandes desafios desse país", afirmou o presidente eleito, após saber que a sua liderança era irreversível.
O presidente do país, Gustavo Noboa (não tem parentesco com Alvaro Noboa), confirmou a vitória de Gutiérrez, afirmando que "o povo equatoriano apoiou o coronel e quero respaldá-lo para o bem do Equador".
O presidente eleito recusa as comparações com Chávez, afirmando que, ao invés de dividir o país, como acontece na Venezuela, irá "unificar o Equador", onde aconteceram levantes indígenas nos últimos anos.
Gutiérrez promete ainda que não irá mexer na dolarização da economia do país, adotada após grave crise em 1999, que provocou a decretação de moratória e colapso do sistema financeiro.
O novo presidente tinha a vitória como certa nas últimas semanas. Porém pesquisa divulgada ontem indicava que poderia haver uma reviravolta. O coronel aparecia com apenas um ponto percentual a mais do que o rival. A margem de erro de três pontos percentuais indicava um empate técnico. Em pesquisa anterior, do dia 16 de novembro, ele tinha mais do que o dobro das intenções de voto de Noboa.
Apesar de as pesquisas no Equador terem um histórico de imprecisão, analistas concordavam ontem que Noboa seguramente tinha ganhado pontos com as acusações de que Gutiérrez teria agredido a sua mulher (o coronel nega a acusação). Mas o crescimento não foi suficiente para reverter o cenário e impedir a eleição do coronel.
Noboa, que foi derrotado ontem, é o homem mais rico do Equador, sendo proprietário das maiores fazendas de banana do país e dono de um império de 110 empresas.
Durante a campanha, foi acusado de utilizar trabalho infantil em suas fazendas de plantação de banana. A revelação havia sido feita meses antes da eleição por uma reportagem do jornal "The New York Times". Noboa negou a acusação e apresentou na propaganda depoimentos de funcionários de suas empresas, que se diziam felizes com o patrão.

Denúncias
Logo após votar, Gutiérrez denunciou fraudes em três Províncias na costa sudoeste do país. Segundo o candidato, em Guayas, Manabi e em Los Ríos, estavam tentando comprar votos.
"As pessoas estão me dizendo: "Lúcio, você irá vencer. Mas tome cuidado. Eles estão tentando comprar [as eleições""", disse o candidato do Partido Sociedade Patriótica (PSP). Gutiérrez pediu que as autoridades eleitorais e observadores internacionais reforçassem a vigilância. Ele votou em um bairro de classe média de Quito, capital do Equador. Observadores internacionais descartaram a ocorrência de fraudes.
Noboa, após uma campanha repleta de acusações contra Gutiérrez, evitou a confrontação ontem. Ele é do Partido Renovador Institucional de Ação Nacional (Prian).
Os dois candidatos prometeram na campanha que irão construir moradias baratas para os pobres do país, que correspondem a mais da metade dos 12 milhões de equatorianos.
Gutiérrez participou de um golpe em 2000 que derrubou o então presidente Jamil Mahuad. Na ocasião, ele contou com o apoio de indígenas e acabou tendo a sua popularidade alavancada.
As eleições de ontem foram decididas, segundo analistas, pelos indecisos. Os levantamentos indicavam que uma em cada quatro pessoas não sabia em quem iria votar. Os dois últimos presidentes eleitos do país não terminaram o mandato. Mahuad foi derrubado e Abdulah Bucaram foi deposto pelo Congresso por "não ter condições mentais de governar" em 1997, após ter sido eleito em 96.


Com agências internacionais


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