São Paulo, terça-feira, 25 de novembro de 2003

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CHILE

Ditadura volta a ser discutida com denúncia de que militares jogaram corpos de 400 a 500 presos políticos no mar

Pinochet faz 88 e diz que é "anjo bom"

DA REDAÇÃO

O ex-ditador chileno Augusto Pinochet, que completa hoje 88 anos, disse, em entrevista que seria transmitida ontem à noite por uma TV de Miami, que nunca mandou matar seus opositores e que não pedirá perdão às vítimas do regime que chefiou.
Os excessos cometidos durante o período em que Pinochet esteve no comando do país (1973-1990) voltaram a ser debatidos após o jornal "La Nación" ter divulgado no domingo reportagem em que afirma que as forças de repressão jogaram no mar os corpos de 400 a 500 opositores.
Segundo adiantou Luis Suárez, produtor do canal 22 WDLP, Pinochet declarou ser ele quem deveria receber um pedido de perdão, pelo atentado que sofreu em setembro de 1986.
Na entrevista de uma hora, Pinochet afirma que se vê como um "anjo bom" e que nunca quis matar ninguém porque antes de tudo é um cristão. Disse que "faria tudo de novo" e que, por sua causa, o país "foi para a frente". Afirmou ainda que não se sente um ditador, porque os ditadores sempre acabam mal e ele está "em paz em seu lar no final de sua vida".
As declarações de Pinochet provocaram a reação de seu porta-voz, o general aposentado Guillermo Garín: "Sabe-se que ele não tem condições de enfrentar esse tipo de entrevista e as eventuais réplicas que possam surgir".
O porta-voz informou que o ex-ditador está sob cuidados médicos permanentes e que a única comemoração de seu aniversário será um almoço familiar. A sua saúde está abalada devido a uma série de complicações em razão de diabetes e de uma "demência moderada", que foi a causa alegada pela Justiça chilena para dispensá-lo de enfrentar processos por violações dos direitos humanos, em julho de 2001. O arquivamento final do processo ocorreu em 2002. Novas ações contra ele vêm sendo rechaçadas pela Justiça.

Jogados ao mar
No domingo, o jornal "La Nación" publicou reportagem em que afirma que de 400 a 500 presos políticos assassinados tiveram seus corpos lançados ao mar.
Segundo o jornal, a informação foi apurada pelo juiz Juan Guzmán Tapia, que interrogou os tripulantes dos helicópteros que teriam feito a operação entre 1974 e 1978. A notícia vem se somar a testemunhos anteriores e a um relatório das Forças Armadas entregue ao presidente Ricardo Lagos, em janeiro de 2001, no qual elas admitiam que centenas de presos haviam sido jogados no mar.
A ditadura chilena é responsabilizada pela morte ou desaparecimento de mais de 3.000 opositores políticos. Os defensores do regime afirmam que travaram uma guerra contra grupos armados e que dezenas de militares foram mortos por grupos de esquerda.


Com agências internacionais


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