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ARGENTINA
Denúncia envolve repartições do atual governo e dos três anteriores; ministro do Interior diz que casos serão investigados
Detectados telefonemas entre criminosos e Casa Rosada
CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES
Em um episódio que pode se
tornar o primeiro escândalo de
grandes proporções na gestão do
presidente da Argentina, Néstor
Kirchner, foram detectadas pelo
menos 2.000 chamadas telefônicas -feitas e recebidas- entre
repartições da Casa Rosada (sede
do governo) e organizações delinquentes investigadas por crimes
graves como homicídios, sequestros e vendas de armas.
A denúncia faz parte de um documento confidencial elaborado
pelo procurador-geral da Suprema Corte de Justiça da Província
de Buenos Aires, Eduardo Matías
de la Cruz, que a "vazou" para a
imprensa no fim de semana.
Foram rastreados telefonemas
feitos por acusados em mais de
200 casos sob investigação, entre
1997 e novembro de 2004 -ou
seja, incluem também os governos dos ex-presidentes Eduardo
Duhalde, Fernando De la Rúa e
Carlos Menem.
"É uma estrutura poderosíssima, que funciona independentemente do governo, embora seus
manipuladores estejam dentro do
Estado", disse o procurador.
O documento revela ainda a
existência de pelo menos 700 chamadas feitas e recebidas entre telefones sob investigação e aparelhos do Edifício Libertador, sede
do Ministério da Defesa e do
Exército. Na Casa Rosada, uma
das repartições investigadas é a
Secretaria Geral da Presidência. O
documento não responsabiliza
ninguém em particular.
O documento revela, por exemplo, 64 chamadas ligadas ao sequestro de Cristian Riquelme, que
esteve cativo entre 2 e 4 de abril de
2002, e 14 vinculadas ao assassinato do comissário de polícia Jorge
Piazza, em fevereiro passado.
Até o fechamento, o governo argentino não havia se pronunciado
oficialmente sobre o caso. Anteontem, o ministro do Interior,
Aníbal Fernández, disse, em referência às chamadas vinculadas ao
Edifício Libertador, que o governo pretendia investigar "a fundo"
e que não podia negar as conexões porque surgiam de uma investigação judicial.
Uma das hipóteses para o caso é
que se trate do uso, por parte de
criminosos, de um sistema informático que "disfarça" as chamadas reais com números de linhas
de órgãos do governo, com o benefício adicional de não pagar pelas chamadas feitas.
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