São Paulo, domingo, 25 de novembro de 2007

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Foi erro afastar Chávez, diz especialista colombiano

Para Alfredo Rangel, venezuelano estava bem posicionado para mediar negociações

Troca de guerrilheiros presos por seqüestrados é passo vital para diálogo de paz, diz diretor da Fundação Segurança e Democracia

MARCELO BERABA
DA SUCURSAL DO RIO

O afastamento do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, das negociações entre o governo da Colômbia e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) para a troca de 500 guerrilheiros presos por 45 seqüestrados políticos é uma grande frustração para a Colômbia. A avaliação é do cientista político Alfredo Rangel, diretor da Fundação Segurança e Democracia, de Bogotá, e ex-assessor de Segurança Nacional do governo colombiano. Ele esteve no Rio nesta semana para um seminário no Itamaraty.

FOLHA - Como analisa o afastamento do presidente Chávez das negociações com as Farc?
ALFREDO RANGEL
- Foi uma decisão do presidente Uribe muito frustrante para os colombianos, que tinham uma imensa expectativa de que muito em breve se resolveria o problema do intercâmbio humanitário. Lamentavelmente, a base da decisão foi o repúdio à falta de tato por parte do presidente Chávez num aspecto protocolar. Uribe deveria ter se dirigido diretamente a Chávez para dizer-lhe que não toleraria mais o contato direto dele com os militares colombianos.
O fato é que a mediação foi rompida e ao que parece não há possibilidade de ser reatada. Parece, portanto, que os sucessos obtidos dificilmente serão aproveitados num prazo médio. Chávez era a pessoa mais bem posicionada para fazer uma mediação bem sucedida. Não consigo ver que outro mediador poderá surgir em breve.

FOLHA - Por que Uribe foi tão incisivo?
RANGEL
- É o estilo dele. Uribe é uma pessoa muito apegada aos protocolos institucionais. O presidente Chávez é uma pessoa mais extrovertida e informal, afeito aos tratos coloquiais, fora das normas do comportamento diplomático que, sobretudo nestes casos de negociações tão complicadas, têm de ser respeitadas.

FOLHA - O senhor acredita na possibilidade de uma solução negociada com as Farc?
RANGEL
- O governo colombiano tem feito muitos esforços para conseguir a liberação dos seqüestrados políticos, alguns há dez anos nas mãos da guerrilha. Foram infrutíferas as tentativas anteriores. Chávez tinha a vantagem que todo mediador eficaz deve possuir, a confiança e o respeito de ambas as partes.
O governo e a guerrilha estão sinceramente interessados em realizar o intercâmbio. Por razões não exatamente humanitárias, mas pelos ganhos que terão. As Farc, porque recuperam o status de organização político-militar insurgente perdido. E o governo colombiano porque mostra, para a opinião pública nacional e internacional, que não só está disposto a negociar e a chegar a um acordo com grupos paramilitares, mas também com grupos guerrilheiros. A troca humanitária é importante na Colômbia não só por significar um alívio para o sofrimento das pessoas seqüestradas e para os presos mas por ser a condição absolutamente necessária para um futuro diálogo de paz entre Uribe e as Farc.

FOLHA - O que há em comum entre Chávez e Uribe?
RANGEL
- É muito curioso constatar que, apesar das diferenças ideológicas, sem dúvida há uma grande empatia. Ambos se consideram pessoas marcadas pelo destino para redimir seus países e resolver todos os problemas. Isso gera um estilo político muito semelhante. Ambos são muito verticais, explícitos em suas posições políticas. Não faz parte de seus estilos a ambigüidade, e ambos são inclinados a enfrentar os adversários políticos de modo muito direto.

FOLHA - A América do Sul vive uma corrida armamentista?
RANGEL
- Não se pode falar em corrida armamentista, embora Chile e Venezuela tenham feito, nos dois últimos anos, grandes compras de armas. Mas, além de distantes, esses dois países não têm questões estratégicas em disputa.
As compras obedecem, no caso da Venezuela, à mudança da doutrina de segurança nacional, agora baseada na hipótese de uma eventual invasão dos EUA. No caso do Chile, a compra de armas se deve mais a um afã de modernização do armamento do que a um incremento de sua capacidade militar com fim hostil. Há grande disposição de recursos financeiros por parte do Exército chileno devido ao aumento do preço internacional do cobre. A Lei do Cobre liga o orçamento das Forças Armadas do Chile à indústria do cobre estatal.

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