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Foi erro afastar Chávez, diz especialista colombiano
Para Alfredo Rangel, venezuelano estava bem posicionado para mediar negociações
Troca de guerrilheiros presos por seqüestrados é passo vital para diálogo de paz, diz diretor da Fundação Segurança e Democracia
MARCELO BERABA
DA SUCURSAL DO RIO
O afastamento do presidente
da Venezuela, Hugo Chávez,
das negociações entre o governo da Colômbia e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias
da Colômbia) para a troca de
500 guerrilheiros presos por 45
seqüestrados políticos é uma
grande frustração para a Colômbia. A avaliação é do cientista político Alfredo Rangel,
diretor da Fundação Segurança
e Democracia, de Bogotá, e ex-assessor de Segurança Nacional do governo colombiano. Ele
esteve no Rio nesta semana para um seminário no Itamaraty.
![](http://www1.folha.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
FOLHA - Como analisa o afastamento do presidente Chávez das negociações com as Farc?
ALFREDO RANGEL - Foi uma decisão do presidente Uribe muito
frustrante para os colombianos, que tinham uma imensa
expectativa de que muito em
breve se resolveria o problema
do intercâmbio humanitário.
Lamentavelmente, a base da
decisão foi o repúdio à falta de
tato por parte do presidente
Chávez num aspecto protocolar. Uribe deveria ter se dirigido
diretamente a Chávez para dizer-lhe que não toleraria mais o
contato direto dele com os militares colombianos.
O fato é que a mediação foi
rompida e ao que parece não há
possibilidade de ser reatada.
Parece, portanto, que os sucessos obtidos dificilmente serão
aproveitados num prazo médio. Chávez era a pessoa mais
bem posicionada para fazer
uma mediação bem sucedida.
Não consigo ver que outro mediador poderá surgir em breve.
FOLHA - Por que Uribe foi tão incisivo?
RANGEL - É o estilo dele. Uribe é
uma pessoa muito apegada aos
protocolos institucionais. O
presidente Chávez é uma pessoa mais extrovertida e informal, afeito aos tratos coloquiais, fora das normas do comportamento diplomático que,
sobretudo nestes casos de negociações tão complicadas, têm
de ser respeitadas.
FOLHA - O senhor acredita na possibilidade
de uma solução negociada com as Farc?
RANGEL - O governo colombiano
tem feito muitos esforços para
conseguir a liberação dos seqüestrados políticos, alguns há
dez anos nas mãos da guerrilha.
Foram infrutíferas as tentativas anteriores. Chávez tinha a
vantagem que todo mediador
eficaz deve possuir, a confiança
e o respeito de ambas as partes.
O governo e a guerrilha estão
sinceramente interessados em
realizar o intercâmbio. Por razões não exatamente humanitárias, mas pelos ganhos que terão. As Farc, porque recuperam
o status de organização político-militar insurgente perdido.
E o governo colombiano porque mostra, para a opinião pública nacional e internacional,
que não só está disposto a negociar e a chegar a um acordo com
grupos paramilitares, mas também com grupos guerrilheiros.
A troca humanitária é importante na Colômbia não só por
significar um alívio para o sofrimento das pessoas seqüestradas e para os presos mas por ser
a condição absolutamente necessária para um futuro diálogo
de paz entre Uribe e as Farc.
FOLHA - O que há em comum entre
Chávez e Uribe?
RANGEL - É muito curioso constatar que, apesar das diferenças
ideológicas, sem dúvida há uma
grande empatia. Ambos se consideram pessoas marcadas pelo
destino para redimir seus países e resolver todos os problemas. Isso gera um estilo político muito semelhante. Ambos
são muito verticais, explícitos
em suas posições políticas. Não
faz parte de seus estilos a ambigüidade, e ambos são inclinados a enfrentar os adversários
políticos de modo muito direto.
FOLHA - A América do Sul vive uma
corrida armamentista?
RANGEL - Não se pode falar em
corrida armamentista, embora
Chile e Venezuela tenham feito, nos dois últimos anos, grandes compras de armas. Mas,
além de distantes, esses dois
países não têm questões estratégicas em disputa.
As compras obedecem, no
caso da Venezuela, à mudança
da doutrina de segurança nacional, agora baseada na hipótese de uma eventual invasão
dos EUA. No caso do Chile, a
compra de armas se deve mais a
um afã de modernização do armamento do que a um incremento de sua capacidade militar com fim hostil. Há grande disposição de recursos financeiros por parte do Exército
chileno devido ao aumento do
preço internacional do cobre. A
Lei do Cobre liga o orçamento
das Forças Armadas do Chile à
indústria do cobre estatal.
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