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Contenda com esquerda fecha catedral no México
Jorge Gutiérrez -20.11.07/Efe
![](../images/e2511200701.jpg) |
Manifestante leva cartaz contra igreja em frente à catedral da capital mexicana |
Arquidiocese interrompe cultos por seis dias após invasão de militantes de Obrador
Incidente radicaliza disputa entre igreja, irritada com aprovação da lei do aborto, e PRD, que reclama do apoio católico à direita em 2006
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
Por quem os sinos da catedral da Cidade do México dobraram no domingo passado?
Para um grupo de militantes, as
badaladas tinham o objetivo de
atrapalhar a manifestação liderada pelo candidato à Presidência derrotado Manuel López
Obrador e por isso eles resolveram invadir a igreja, derrubar
bancos e gritar impropérios
contra o arcebispo ("Norberto
Rivera, o inferno te espera") e
contra o papa Bento 16.
A cúpula católica acusou o
partido de Obrador, o PRD
(Partido da Revolução Democrática), principal força da esquerda do México, de "terrorismo" e "sacrilégio". Em reação,
as portas da catedral foram fechadas no domingo pela primeira vez em 81 anos.
O templo, um dos mais emblemáticos do catolicismo latino-americano, só foi reaberto
ontem, seis dias depois, depois
de o prefeito da capital, Marcelo Ebrard, do PRD, dizer que a
igreja não poderia fechar por
ser "patrimônio do povo mexicano" e de intensas tratativas
diplomáticas da ala moderada
do partido. A prefeitura ofereceu instalar até um sistema de
vigilância interna para o local.
O episódio foi só mais um capítulo da confrontação entre os
perredistas e a cúpula católica e
o desenrolar do episódio joga
luz tanto nas divisões da sigla
como no movimento da igreja de ganhar cada vez mais espaço no
cenário político mexicano.
Os responsáveis pela catedral dizem que os sinos badalaram como sempre no último
domingo. Já López Obrador
condenou a invasão, mas afirmou que o dobrado foi uma clara provocação, mais alto e longo do que de costume.
"No episódio, foi o PRD que
saiu perdendo", diz o antropólogo e sociólogo mexicano Roger Bartra. Para ele, a imagem
de militantes ligados ao partido
na igreja, repetida inúmeras vezes na televisão, contribui para
enfraquecer a sigla que obteve
34% dos votos nas eleições presidenciais de julho de 2006,
quando Felipe Calderón venceu por 0,56% de diferença.
Ressentimentos
Da parte da igreja, diz Bartra,
o episódio foi o que faltava para
que a instituição expressasse
"todo o ressentimento" com o
PRD e com o governo da Cidade
do México. "Não foi a primeira
invasão. O fechamento da catedral foi para marcar posição."
A cúpula católica do México
-país onde 90% se declara fiel
da religião- ainda digere a
aprovação, em abril, da lei que
descriminaliza o aborto até a
12ª semana de gravidez na capital (na época, bispos e até o papa Bento 16 ameaçaram de excomunhão os parlamentares
que votaram a favor). A prefeitura aprovou ainda um modelo
de união civil entre gays.
"A igreja protestou pela lei do
aborto, mas não como queria
porque o governo Calderón interveio para freá-la. Ao presidente não interessa essa polarização", diz o antropólogo.
O porta-voz da Arquidiocese
da Cidade do México, Hugo
Valdemar, fez um paralelo histórico. Disse que o templo não
era fechado desde a "Guerra
Cristera" (1926-1929), conflito
armado no pós-revolução mexicana que opôs Estado, que na
Carta de 1917 havia aprovado
várias leis restritivas à igreja, e
grupos católicos.
A citação não é por acaso. A
igreja faz agora mais uma ofensiva para mudar a atual Constituição mexicana, que abrandou
as restrições de 17 em 1992
-quando o país retomou as relações com o Vaticano-, mas
ainda mantém a proibição do
ensino religioso nas escolas e
veta a participação política dos
clérigos. Uma reforma nesse
sentido foi entregue ao Congresso pelo Colégio de Advogados Católicos em outubro.
Embora proibidos, os padres
participam cada vez mais da vida política. Exemplo foi a atuação da ala esquerda católica
-diminuta, se comparada a outros países da região- em Chiapas, nos anos 90. E parte da
contenda com os "lopezobradistas" se deve à campanha de
2006, quando o arcebispo Norberto Rivera e outros clérigos
insinuaram ou apoiaram abertamente Calderón.
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