São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 2002

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VIZINHO EM CRISE

Grupo culpa "surdez" do governo pela crise; para líder oposicionista, país está "à beira de uma guerra civil"

Oposição quer mais protestos contra Chávez

Fernando Llano/Associated Press
Manifestantes da oposição fazem protesto pelas avenidas de Caracas, no qual pediram eleições


DA REDAÇÃO

A Coordenação Democrática (CD), organização que reúne os principais partidos, entidades e movimentos de oposição da Venezuela, emitiu ontem um comunicado no qual disse que intensificará suas ações para forçar o governo a convocar eleições antecipadas. A CD, que promove uma greve geral desde o dia 2 de dezembro. pede a renúncia do presidente Hugo Chávez, cujo mandato vai até 2007.
A oposição acusa Chávez de arruinar economicamente o país. O presidente se diz vítima de um complô golpista por ter acabado com os privilégios da elite que dominou o país por décadas.
No comunicado de ontem, a CD diz que a crise por que passa hoje o país foi provocada "pela surdez do governo diante dos problemas do país e sua incapacidade para apresentar soluções".
O governo tem dito que aposta no diálogo para encontrar uma solução para a crise, mas uma mesa de negociação mediada pelo secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), César Gaviria, há mais de um mês, teve até agora resultados pífios.
A greve geral, que atingiu fortemente a PDVSA (gigante estatal petroleira) vem provocando desabastecimento e filas. As exportações de petróleo, que representam 80% das receitas externas do país, estão praticamente paralisadas. O país é o quinto maior produtor mundial de petróleo.
Ontem o governo retomou mais um petroleiro que havia sido tomado por grevistas e que estava ancorado no lago Maracaibo, no noroeste do país, principal região produtora de petróleo na Venezuela. Apesar disso, não havia sinais de normalização nos envios de petróleo ao exterior. O presidente da PDVSA, Alí Rodríguez, disse que as perdas com a paralisação já superam US$ 1,3 bilhão.
Anteontem à noite, dezenas de milhares de venezuelanos fizeram um protesto com lanternas e velas perto da sede da PDVSA em sinal de apoio aos grevistas, que, horas antes, rejeitaram a trégua natalina proposta pelo governo de Chávez.
Os manifestantes cercaram a sede da companhia, agitando bandeiras e faixas anti-Chávez e cantando músicas de protesto. Ainda anteontem, uma granada explodiu perto dos escritórios da Fedecámaras (principal associação empresarial do país), um dos grupos que lideram a greve geral. Não houve feridos.

"Guerra civil"
Em uma entrevista publicada ontem no diário espanhol "El País", o negociador oposicionista Américo Martín refutou as acusações do governo de que seu grupo "só representa as oligarquias, esquecendo-se da maior parte da população venezuelana".
"A situação é explosiva. As pessoas estão nas ruas porque não aguentam mais essa situação. Estamos à beira de uma guerra civil", afirmou ele na entrevista ao diário espanhol. Martín, que, no passado, foi um intelectual marxista, fundou o Movimento da Esquerda Revolucionária nos anos 60, mas não apóia as políticas de esquerda de Chávez.

Com agências internacionais


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