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O nome do jogo venezuelano é petróleo
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
A polarização política na Venezuela pode ter como objeto de cobiça o Palácio de Miraflores, a sede governamental, mas há um outro prédio bem menos notório
que é o pano de fundo da batalha:
o edifício de La Campiña, sede
central da PDVSA.
É a sigla de Petróleos de Venezuela S/A, uma portentosa estatal
de 40 mil trabalhadores, frota
própria e uma subsidiária nos Estados Unidos. Responde por 25%
da economia venezuelana, 50%
dos impostos arrecadados e 80%
das exportações.
O petróleo foi estatizado em
1976, no primeiro governo de
Carlos Andrés Pérez. Mas nos 20
anos anteriores a Chávez, iniciou-se um processo de liberalização
que acabaria conduzindo à privatização da companhia.
Chávez interrompeu o processo
com a Lei de Hidrocarburetos,
editada junto com um pacote de
medidas no ano passado, não por
coincidência quando o confronto
com a oposição começou a se tornar mais agudo.
A nova lei, que mal começou a
ser aplicada, requer maioria do
Estado em todas as novas "joint-ventures" no setor, por exemplo.
Em recente entrevista ao jornal
espanhol "El País", José Toro
Hardy, ex-diretor geral da
PDVSA, hoje acadêmico do Instituto de Altos Estudos para Defesa
Nacional, considerou "desastrosa" a gestão de Chávez, exatamente por ter interrompido a liberalização. "Se continuasse a abertura
que propúnhamos a partir de 94,
com um investimento de US$ 65
bilhões, a Venezuela deveria estar
produzindo hoje 4 bilhões de barris/dia, quando está produzindo
2,8 bilhões", contabilizou.
É óbvio que há enormes interesses por trás da perspectiva de privatização da PDVSA, na medida
em que a Venezuela conta com as
maiores reservas do mundo, que
dão para 500 anos. São 74 bilhões
de barris de petróleo convencional e 270 bilhões de barris de petróleo cru exportável na bacia do
Orenoco, muito mais que o total
da Arábia Saudita.
O presidente Chávez, na entrevista que a Folha publicou no último domingo, disse que o plano de
privatização da empresa estava
pronto e mencionou, sem especificar, o interesse de "conexões estrangeiras".
Só faltou dizer que são firmas
norte-americanas e a espanhola
Repsol, além do grupo Cisneros,
conduzido por Gustavo Cisneros,
dono da Venevisión (um dos canais mais ativos na conspiração
anti-Chávez) e de um império midiático presente em 39 países, por
meio de 70 empresas.
O que torna o xadrez do petróleo mais complicado é que Chávez é contra a privatização, mas é
também contra a maneira como a
PDVSA vem sendo conduzida,
uma espécie de Estado dentro do
Estado.
A companhia parece uma daquelas estatais do período soviético, que pertenciam teoricamente
ao Estado mas eram conduzidas
de acordo com os interesses de
seus gerentes e administradores,
muitos dos quais ganharam dinheiro suficiente para comprarem as estatais caso sejam privatizadas.
Certamente por isso, escreve Ibsen Martínez, um dos mais respeitados analistas econômicos venezuelanos: "O petro-Estado venezuelano, invicto, incólume,
apesar de tantas mudanças políticas, é talvez quem esteja verdadeiramente à espreita e seja o verdadeiro inimigo de Hugo Chávez. E
de todos nós".
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