São Paulo, segunda-feira, 26 de fevereiro de 2001

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ESPIONAGEM

Medida acontece após prisão de ex-espião

Agentes do FBI passarão pelo teste do detector de mentiras

JAVIER VALENZUELA
DO "EL PAÍS", EM WASHINGTON

O escândalo da descoberta de que Robert Philip Hanssen, um alto funcionário do FBI, foi espião de Moscou durante 15 anos provocou uma primeira reação: o Comitê de Inteligência do Senado norte-americano realiza na quinta-feira uma sessão para estudar por que a traição demorou tanto a ser descoberta e começar a avaliar os danos. Hanssen entregou a Moscou cerca de 6.000 páginas de documentos confidenciais.
O Senado ordenará que todos os agentes do FBI sejam submetidos ao detector de mentiras.
O penúltimo mistério do caso Hanssen é como o FBI conseguiu o dossiê sobre ele. A acusação contra Hanssen está baseada em mensagens que ele escreveu a seus contatos russos em Washington. Um dos boatos, desmentido pelo FBI, assegura que o dossiê foi entregue por Serguéi Tretyakov, que em novembro desertou o posto de primeiro-secretário da Embaixada russa na ONU.
As mensagens revelam que Hanssen era um traidor atípico, diz o ex-diretor da CIA James Woolsey. "Não parece que acreditasse no comunismo, nem que fez por dinheiro. Sobressai o forte orgulho e a vontade de viver no fio da navalha." Apesar de ter cobrado US$ 600 mil e de ter uma conta na Rússia com outros US$ 800 mil, Hanssen, 56, casado e pai de seis filhos, vivia modestamente.
Hanssen começou a se fascinar pela vida esquizofrênica de agente duplo depois de ler, aos 14 anos, o livro de memórias do espião Kim Philby, "Minha Guerra Silenciosa". O tour SpyDrive (US$ 35 por pessoa), que mostra os passos de Philby em Washington, agora inclui também os parques da Virgínia que Hanssen usava para se comunicar com os russos.
Hanssen era também gênio em informática. Uma vez, segundo o "USA Today", invadiu o micro do encarregado máximo para assuntos russos no FBI e não foi punido porque disse que queria mostrar a vulnerabilidade do sistema.
O caso pode custar a Hanssen a condenação à morte. Mas espionagem continua sendo uma necessidade. "Enquanto houver interesses nacionais, haverá espiões", disse Oleg Kalugin, ex-general da KGB (serviço secreto soviético). "Os EUA já não são para a Rússia o inimigo número um; agora são algo mais importante: a prioridade número um".



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