São Paulo, quinta-feira, 26 de fevereiro de 2004

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AMÉRICA CENTRAL

Paris insinua que presidente haitiano deve renunciar; governistas tentam impedir entrada da oposição na capital

França culpa Aristide pelo caos e pressiona

Pablo Aneli/Associated Press
Em Cabo Haitiano, uma das cidades tomadas pela oposição, mulher chora enquanto casa queima


DA REDAÇÃO

A França propôs ontem o envio de uma força internacional de polícia para restabelecer a ordem no Haiti, sua ex-colônia, palco há três semanas de uma revolta em que morreram mais de 60 pessoas.
Em um comunicado, o chanceler francês, Dominique de Villepin, atribuiu ao presidente Jean-Bertrand Aristide a responsabilidade pelo caos que se instalou no país e afirmou que ele deve "arcar com as conseqüências do impasse que criou". Fontes diplomáticas citadas pela agência Reuters afirmaram que o teor do comunicado pode ser resumido a uma recomendação para que Aristide renuncie. "Qualquer um pode ver que está na hora de iniciar um novo capítulo na história do Haiti", diz De Villepin no texto.
Ontem, Porto Príncipe foi palco de saques. As estradas para a capital, inclusive a que leva ao aeroporto, foram bloqueadas por partidários do presidente, que, usando barricadas com carros, refrigeradores e pneus em chamas, tentavam impedir a chegada dos rebeldes, que já controlam cinco dos nove Departamentos (Estados). Mas, munidos de armas e pedras, os partidários do presidente usaram as barreiras para roubar quem se aproximasse.
Estrangeiros residentes na cidade tentaram fugir, escoltados por fuzileiros navais americanos convocados para proteger a Embaixada dos EUA.
Os líderes rebeldes, que exigem a renúncia de Aristide e se recusam a negociar, disseram que esperarão um pouco pela decisão do presidente até invadir a capital.
Segundo fontes diplomáticas citadas pela agência France Presse, as duas filhas do presidente deixaram o país com destino aos EUA. Ambas têm menos de dez anos.

Força internacional
A proposta da França prevê, além de uma força civil com policiais de diversos países, o envio de ajuda humanitária e de observadores de direitos humanos.
"A força internacional seria responsável por garantir o restabelecimento da ordem e apoiaria um governo de unidade nacional", disse De Villepin. Um porta-voz da Chancelaria francesa disse que "ainda é cedo" para aventar quais os países que tomariam parte nessa força ou se ela seria armada.
Segundo o chanceler, o plano de ajuda internacional seria submetido ao Caricom (Comunidade dos Estados Caribenhos) e à OEA (Organização dos Estados Americanos) e, mediante a aprovação das duas entidades, enviado ao Conselho de Segurança da ONU.
Em Washington, o presidente George W. Bush disse que a deterioração da situação de segurança no Haiti pode requerer a presença internacional após ser atingido um acordo político -algo que parece distante. "Assim que houver acordo político, pediremos à comunidade internacional que mantenha uma presença de segurança", disse Bush.
Na noite de ontem, o Itamaraty emitiu um comunicado em nome dos 19 países que compõem o Grupo do Rio, do qual o Brasil detém a presidência rotativa. No texto, o grupo diz "respaldar as atividades da A OEA e da Caricom com vistas a uma solução pacífica no Haiti" e apóia "a oferta da ONU de enviar ajuda humanitária ao país".

Com agências internacionais

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