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Visando eleição, Putin dá a Medvedev missão popular na Sérvia
A seis dias do pleito, candidato do presidente russo a sucedê-lo vai a Belgrado para marcar posição contra secessão de Kosovo
Para analistas, posição de Moscou sobre ex-Província de aliado eslavo tem apelo entre o eleitorado, mas não deve ir além de retórica
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU
Na esperança de alavancar a
imagem do virtual novo presidente russo, Dmitri Medvedev,
o Kremlin o enviou em uma
missão extremamente popular
entre o eleitorado: defender os
interesses dos "irmãos eslavos"
da Sérvia no conflito contra a
independência de Kosovo.
Medvedev, ainda na condição de vice-premiê, esteve ontem em Belgrado para fechar
um acordo energético com o
governo sérvio. E para falar da
Província rebelde que foi reconhecida como Estado pelos
EUA e boa parte da União Européia: "Nós partimos da premissa de que a Sérvia é um país
unido, cuja jurisdição cobre todo seu território, e vamos nos
ater a esse princípio", afirmou
após se encontrar com o premiê sérvio, Vojislav Kostunica.
"Isso mostra que vamos continuar falando grosso, o que
não significa que algo vai acontecer de fato. De quebra, o eleitorado vai gostar de ver isso no
noticiário da noite", afirmou à
Folha Boris Leonov, um analista político de Moscou.
De fato, na morna campanha
eleitoral russa, desta vez com
cara de plebiscito, Kosovo é um
dos poucos temas de apelo popular. Ontem, uma concentração de jovens do partido do
Kremlin, o Rússia Unida, estava junto à estação de metrô
1905 Goda. Fumavam e tomavam cerveja, aproveitando o feriado prolongado do Dia do Defensor da Pátria. "Kosovo é terra sérvia. Nós devemos fazer algo", diz Oleg, 20 e poucos anos.
Mas, lembra Leonov, não é
de se esperar mais do que retórica e tentativas de ação na
ONU via Conselho de Segurança. "Já nos metemos numa fria
por causa dos sérvios, o que
custou um império", diz, exagerando o fato de que a Rússia imperial entrou na Primeira
Guerra, entre outros, por estar
atada à Sérvia por tratados militares -o conflito culminou na
Revolução Comunista.
Medvedev, que tem cerca de
70% das intenções de voto em
pesquisas, estava acompanhado do chanceler Sergei Lavrov.
Em entrevista à TV Rússia, Lavrov foi mais incisivo: "Apoiamos a restauração da integridade territorial da Sérvia".
A eleição de Medvedev, que
nunca disputou uma votação e
tem só 42 anos, é vista como
uma certeza desde que ele foi
escolhido pelo ultrapopular
Vladimir Putin para concorrer
à sua sucessão -e, imediatamente, já anunciou que Putin
seria seu premiê, mantendo,
portanto, as rédeas do poder.
Mas o Kremlin quer legitimar a escolha. Logo, há uma intensa campanha por comparecimento às urnas (o voto é facultativo), e Medvedev está
sendo preparado pelo chefe para representar a Rússia. Na semana passada, ele esteve com
Putin na cúpula das ex-repúblicas soviéticas e, segundo uma
jornalista que esteve presente,
não convenceu muito os autocratas da Ásia Central.
Analistas como Leonov vêem
nisso outro aspecto: Putin quer
um sucessor à sua sombra, porque tradicionalmente o poder
russo emana do Kremlin. Se
Medvedev, tido também como
inteligente e estrategista, vai
aceitar o jogo, é algo a conferir.
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