São Paulo, terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Loja gourmet em Moscou atrai saudosistas com prateleiras de produtos soviéticos

DO ENVIADO A MOSCOU

As filas atravessando a gélida praça Vermelha não existem mais, mas o famoso centro comercial GUM resgatou parte de seu passado soviético, agora em versão novo-rico.
Aberta na semana passada, a loja para gourmets Gastronom Nº 1 está badalada com sua leitura "soviet chic" das antigas pilhas de latas e vidros que conservavam basicamente qualquer produto durante os anos da União Soviética.
A GUM (sigla russa para Loja Universal Principal, antiga Estatal) era um dos únicos pontos de Moscou em que, nos anos da dureza soviética, não havia falta generalizada de produtos. Daí as filas -que não se aplicam hoje, entre outros motivos, porque a Rússia é um lugar cujo salário médio mensal é de US$ 940 (cerca de R$ 1.600). Mas sobra mercado de luxo, até porque o país é o segundo no ranking mundial de bilionários.
Na Gastronom, que fica no primeiro dos três elegantes pisos da GUM, é possível comprar uma lata de caviar Beluga com 200 gramas a R$ 1.300. Vodcas custam o triplo do mercado. "Vins de pays" franceses, de qualidade discutível, não saem por menos de R$ 140, e há alguns por mais de R$ 5.000. Mas nem tudo é inacessível.
Há prateleiras cheias de latas com carne de porco, aves e gado, todas com o estilo retrô soviético. "Fiquei tão feliz quando vi os sucos que tomava na casa da minha avó que fiquei dando risada sozinha", conta a analista de mercado financeiro Masha Walsh. Um vidro com 3 litros de suco de amora selvagem sai por pouco menos que R$ 9 -o dobro do que os vendidos em embalagens Tetra-Pak nos "Produkti", as onipresentes lojas de mantimentos.
A GUM abrigou lojas de mantimentos soviéticas entre 1953 e o fim do país, em 1991. Foi privatizada e hoje ostenta dezenas de grifes famosas. O prédio, completado em 1893 para abrigar lojas de luxo servido aos nobres, é um espetáculo em si, misturando arquitetura russa antiga e técnicas de construção de estações de trem vitorianas.
O culto retrô resiste no país, apesar de o Partido Comunista não passar dos 15% de intenções de voto em média.
Alguns bares adotam temática soviética, e há três meses foi aberto um museu do fliperama, onde é possível jogar em antigas máquinas adornadas com heróis do comunismo em embates contra os malvados capitalistas -que, como se sabe e o "soviet chic" da GUM prova, ganharam no final. (IG)


Texto Anterior: Visando eleição, Putin dá a Medvedev missão popular na Sérvia
Próximo Texto: Zapatero e Rajoy expõem duas Espanhas diferentes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.