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IRAQUE
País evita "hegemonia americana'
Embargo
cai este ano,
prevê editor
SÉRGIO MALBERGIER
enviado especial a Bagdá
A imprensa iraquiana está tentando vender à população que o
Iraque saiu vitorioso do impasse
com a ONU. Segundo os jornais
locais, os EUA e o Reino Unido ficaram isolados na crise, enquanto
aumentou o apoio estrangeiro à
causa iraquiana.
O acordo seria o primeiro passo
para o levantamento do embargo
que dura quase oito anos e que
destruiu a economia iraquiana.
Salah al Mukhtar, 53, é o editor-chefe do "Al Jumhuria" (A República), o principal jornal iraquiano, de propriedade do governo. Falando em tom pomposo e
olhando para o vazio, suas opiniões refletem a mensagem que o
regime de Saddam Hussein quer
passar ao mundo e aos iraquianos.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista concedida à Folha na sede do jornal.
Folha - Como o sr. vê o acordo
ONU-Iraque?
Al Mukhtar - Se você olhar para
as reações internacionais, árabes e
da própria ONU, nós podemos dizer que é um grande sucesso para a
paz e para a legitimidade internacional.
Mas para garantir a sua implementação, nós precisamos da cooperação americana. Se os EUA
cooperarem de boa fé haverá uma
saída pacífica para a crise e evitaremos uma grande guerra, que não
afetaria apenas o Oriente Médio,
mas certamente todo o mundo
-uma guerra que não teria justificação alguma, apenas as mentiras
fabricadas pelos EUA e por Richard Butler (chefe das equipes de
inspeção da ONU).
Agora, nós estamos desafiando o
governo dos EUA a aceitar e respeitar o acordo. Para facilitar o trabalho da ONU, estamos dispostos
a receber as equipes de inspeção o
mais cedo possível.
Que elas venham verificar os
"palácios presidenciais", para ficar claro que os EUA falaram
grandes mentiras quando disseram que o Iraque guardava armas
de destruição em massa neles, capazes de destruir o mundo todo.
Folha - O sr. acha que foi uma vitória do presidente Saddam?
Al Mukhtar - Foi uma vitória da
paz, da liberdade, da independência de toda a humanidade, não só
do Iraque. O mundo estava caminhando para uma ditadura americana mundial, cristalizada pela atitude americana. Eles dizem abertamente que querem controlar o
mundo todo. A América quer impor ao mundo a sua cultura, o seu
modo de vida, a economia de mercado no estilo americano, o que é
um novo colonialismo.
O Iraque, por meio de sua resistência à hegemonia americana, ao
expor a verdadeira natureza do
projeto neocolonialista, ajudou a
humanidade a evitar uma ditadura
mundial.
Folha - E Saddam Hussein?
Al Mukhtar - O presidente Saddam Hussein está liderando o seu
país numa guerra de libertação.
Não é uma rivalidade entre os presidentes Saddam Hussein e Bill
Clinton.
E o presidente (Saddam) recebeu
agora apoio de várias partes porque ele está representando uma
causa nobre que tem o apoio de todos os árabes e de todos os muçulmanos. Todas as pessoas amantes
da liberdade estão começando a
compreender que o presidente luta por essa causa. Por isso vemos
agora essas manifestações de
apoio ao Iraque em quase toda
parte.
Folha - Sendo um jornal oficial, o
"Al Jumhuria" faz críticas ao regime?
Al Mukhtar - Claro. Nós podemos criticar qualquer ministro ou
funcionário quando eles cometem
algum erro.
Folha - Que futuro o sr. vê para o
Iraque?
Al Mukhtar - Este ano nós testemunharemos a suspensão das sanções. É o último estágio de nossa
luta para suspender o embargo.
Simplesmente porque quando a
ONU for aos "palácios presidenciais", descobrirá que não há nada,
e o Conselho de Segurança tomará
a decisão de suspender o embargo,
pelo menos parcialmente.
Folha - Há espaço para a oposição ao regime na imprensa iraquiana?
Al Mukhtar - Acho que não podemos descrever nenhum jornal
iraquiano como de oposição, pois
no Iraque, durante a guerra, todo
o povo deve estar unido para defender a pátria. Nosso maior problema é o embargo. Nenhum cidadão iraquiano deve poder detonar
uma crise por um assunto menor.
Nós temos grupos religiosos,
nasseristas, curdos, que estão se
preparando para estabelecer novos partidos. De acordo com uma
nova lei, todo grupo de mais de 150
pessoas pode estabelecer um partido e, com isso, ter direito a um jornal para expressar suas opiniões.
Folha - Quando foi a última vez
que o sr. encontrou o presidente?
Al Mukhtar - Há dois anos.
Conversamos sobre jornalismo e
assuntos políticos.
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