São Paulo, domingo, 26 de março de 2000


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VISITA À TERRA SANTA
Arcebispo da Galiléia afirma que João Paulo 2º deixou uma "impressão profunda" em Israel
"Papa faz sua viagem mais importante"

PAULO DANIEL FARAH
enviado especial a Nazaré

O papa João Paulo 2º, 79, realiza a viagem mais importante de seu pontificado, pois "ele pisou o solo em que Cristo caminhou" e foi ao local onde Jesus pediu a Pedro que fosse a base da igreja.
A afirmação é do arcebispo da Galiléia, Pierre Mouallem, que morou em São Paulo entre 1990 e 1998 -ano em que foi nomeado para liderar a igreja na região que testemunhou o Sermão da Montanha e o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, segundo a tradição cristã.
À época, o governo de Israel tentou obstruir a indicação, mas o Vaticano rejeitou a ingerência e afirmou que um acordo firmado em 1993 garantia a autonomia da Igreja Católica em relação ao Estado, "cada um em seu domínio".
Mouallem inaugurou e ajudou a comandar a maior missa da peregrinação do líder católico (com a presença de cerca de 80 mil pessoas), realizada anteontem no Monte das Beatitudes. "Outro Pedro retorna à Galiléia 2.000 anos depois", disse Pierre (equivalente francês de Pedro) Mouallem, 71, durante a celebração.

Folha - Qual a sua avaliação da peregrinação do papa?
Pierre Mouallem -
Esta é sem dúvida a viagem mais importante das mais de 90 que o Santo Padre fez. Primeiro porque é a viagem do Grande Jubileu, do terceiro milênio. O papa já anunciou a peregrinação alguns anos atrás, e o mundo inteiro a preparava. Os outros eventos eram pastorais. Aqui é uma peregrinação, ou seja, o Santo Padre volta às fontes.
O papa pisou o solo em que Cristo caminhou. As outras viagens não demandaram tanto empenho. Nesta região, há tantas sensibilidades religiosas, políticas e étnicas. Não era uma tarefa fácil, mas ele sempre repetiu que a igreja tem de respirar com os dois pulmões (o ocidental e o oriental), para não morrer de asfixia.

Folha - Como os cristãos árabes o receberam?
Mouallem -
Todos tinham grandes expectativas e temiam sofrer decepções. Os cristãos árabes esperavam com amor e saudade a presença do Santo Padre, mas tinham medo de que sua vinda não fosse como imaginavam.

Folha - As expectativas incluíam a questão do Estado palestino e de Jerusalém?
Mouallem -
Sabíamos que nunca a viagem do Santo Padre deixou um país sem uma impressão profunda. Aqui, não foi diferente. Foi ainda maior (o papa visitou um campo de refugiados e defendeu o direito palestino a uma pátria). Ele conseguiu passar uma mensagem de paz.

Folha - Qual a contribuição do cristianismo oriental?
Mouallem -
O papa retornou ao local onde Cristo disse para Pedro ser a base da igreja. Somos os herdeiros diretos dos apóstolos. Temos as tradições mais antigas e mais veneráveis.
O mundo inteiro tem de voltar a essas fontes, à origem do cristianismo, como um novo batismo no espírito. Muitas vezes, pensam que árabe é sinônimo de muçulmano, israelense é sinônimo de judeu e católico é sinônimo de latino. Somos católicos, mas não latinos. Somos árabes, mas não muçulmanos. Somos israelenses, mas não judeus. Cada um desses desafios é uma cruz para nós.
Em cada canto, temos de ser um símbolo de entendimento e aproximação. Não é uma missão fácil, mas é fascinante.

Folha - Como está sua missão na Galiléia?
Mouallem -
Há muito trabalho, graças a Deus. Existem muitas igrejas aqui, vindas de fora, mas nós somos a igreja local, ligada a seu povo, mesmo muçulmano ou druso. Devemos assumir essa responsabilidade. Um bispo não pode ficar numa sacristia, deve engajar-se com o sofrimento e as esperanças do povo. Aprendi muito no Brasil, do qual tenho uma imensa saudade.

Folha - O que sr. pensa do acordo firmado entre os palestinos e o Vaticano em fevereiro?
Mouallem -
É muito positivo para o processo de paz na região. Contempla as dificuldades de Jerusalém e o futuro do país.


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