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VISITA À TERRA SANTA
Arcebispo da Galiléia afirma que João Paulo 2º deixou uma "impressão profunda" em Israel
"Papa faz sua viagem mais importante"
PAULO DANIEL FARAH
enviado especial a Nazaré
O papa João Paulo 2º, 79, realiza
a viagem mais importante de seu
pontificado, pois "ele pisou o solo
em que Cristo caminhou" e foi ao
local onde Jesus pediu a Pedro
que fosse a base da igreja.
A afirmação é do arcebispo da
Galiléia, Pierre Mouallem, que
morou em São Paulo entre 1990 e
1998 -ano em que foi nomeado
para liderar a igreja na região que
testemunhou o Sermão da Montanha e o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, segundo a tradição cristã.
À época, o governo de Israel
tentou obstruir a indicação, mas o
Vaticano rejeitou a ingerência e
afirmou que um acordo firmado
em 1993 garantia a autonomia da
Igreja Católica em relação ao Estado, "cada um em seu domínio".
Mouallem inaugurou e ajudou a
comandar a maior missa da peregrinação do líder católico (com a
presença de cerca de 80 mil pessoas), realizada anteontem no
Monte das Beatitudes. "Outro Pedro retorna à Galiléia 2.000 anos
depois", disse Pierre (equivalente
francês de Pedro) Mouallem, 71,
durante a celebração.
Folha - Qual a sua avaliação da
peregrinação do papa?
Pierre Mouallem - Esta é sem
dúvida a viagem mais importante
das mais de 90 que o Santo Padre
fez. Primeiro porque é a viagem
do Grande Jubileu, do terceiro
milênio. O papa já anunciou a peregrinação alguns anos atrás, e o
mundo inteiro a preparava. Os
outros eventos eram pastorais.
Aqui é uma peregrinação, ou seja,
o Santo Padre volta às fontes.
O papa pisou o solo em que
Cristo caminhou. As outras viagens não demandaram tanto empenho. Nesta região, há tantas
sensibilidades religiosas, políticas
e étnicas. Não era uma tarefa fácil,
mas ele sempre repetiu que a igreja tem de respirar com os dois
pulmões (o ocidental e o oriental), para não morrer de asfixia.
Folha - Como os cristãos árabes o receberam?
Mouallem - Todos tinham
grandes expectativas e temiam
sofrer decepções. Os cristãos árabes esperavam com amor e saudade a presença do Santo Padre,
mas tinham medo de que sua vinda não fosse como imaginavam.
Folha - As expectativas incluíam a questão do Estado palestino e de Jerusalém?
Mouallem - Sabíamos que nunca a viagem do Santo Padre deixou um país sem uma impressão
profunda. Aqui, não foi diferente.
Foi ainda maior (o papa visitou
um campo de refugiados e defendeu o direito palestino a uma pátria). Ele conseguiu passar uma
mensagem de paz.
Folha - Qual a contribuição do
cristianismo oriental?
Mouallem - O papa retornou ao
local onde Cristo disse para Pedro
ser a base da igreja. Somos os herdeiros diretos dos apóstolos. Temos as tradições mais antigas e
mais veneráveis.
O mundo inteiro tem de voltar a
essas fontes, à origem do cristianismo, como um novo batismo
no espírito. Muitas vezes, pensam
que árabe é sinônimo de muçulmano, israelense é sinônimo de
judeu e católico é sinônimo de latino. Somos católicos, mas não latinos. Somos árabes, mas não
muçulmanos. Somos israelenses,
mas não judeus. Cada um desses
desafios é uma cruz para nós.
Em cada canto, temos de ser um
símbolo de entendimento e aproximação. Não é uma missão fácil,
mas é fascinante.
Folha - Como está sua missão
na Galiléia?
Mouallem - Há muito trabalho,
graças a Deus. Existem muitas
igrejas aqui, vindas de fora, mas
nós somos a igreja local, ligada a
seu povo, mesmo muçulmano ou
druso. Devemos assumir essa responsabilidade. Um bispo não pode ficar numa sacristia, deve engajar-se com o sofrimento e as esperanças do povo. Aprendi muito
no Brasil, do qual tenho uma
imensa saudade.
Folha - O que sr. pensa do
acordo firmado entre os palestinos e o Vaticano em fevereiro?
Mouallem - É muito positivo
para o processo de paz na região.
Contempla as dificuldades de Jerusalém e o futuro do país.
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