São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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ORIENTE MÉDIO

Em carta, grupo defende resistência pacífica contra Israel; família de menino-bomba critica terroristas

Intelectuais palestinos rejeitam vingança

DA REDAÇÃO

Um grupo de 60 intelectuais palestinos pediu ontem que não houvesse vingança contra o assassinato do líder do Hamas, xeque Ahmed Yassin, e que a Intifada (levante contra Israel) fosse transformada em resistência pacífica.
Também ontem, a família do menino-bomba palestino que foi interceptado por Israel antes de conseguir concluir uma missão suicida criticou duramente os grupos terroristas por recrutar crianças para cometer atentados. A condenação teve eco na sociedade palestina.
No Conselho de Segurança da ONU, os EUA vetaram resolução condenando Israel pela morte de Yassin. Os americanos exigiam a inclusão no texto de uma condenação aos atentados terroristas cometidos pelo Hamas. O embaixador dos EUA, John Negroponte, lamentou que a resolução ficasse "em silêncio sobre o terrorismo". A Argélia, que apresentou a resolução, e outros países não concordaram. Dos 15 membros do CS, 11 votaram a favor, os EUA, contra, e três se abstiveram.
Na faixa de Gaza, o Exército de Israel matou três palestinos que tentavam se infiltrar no assentamento de Gush Katif para cometer um atentado. Horas antes, os israelenses impediram que palestinos atacassem o assentamento de Emmanuel, na Cisjordânia.
O Hamas divulgou um vídeo ontem ameaçando retaliar Israel pela morte de Yassin e colocando o premiê israelense, Ariel Sharon, como um possível alvo. O grupo terrorista afirmou que a sua resposta será "um forte terremoto que fará esses filhos de macacos e de porcos sentirem a dor da morte". "Nós advertimos o porco Sharon de que sua fortaleza será esmagada e o amaldiçoaremos mil vezes somente por pensar em assassinar nossos líderes."

Manifesto
O pacifista e acadêmico Sari Nusseibeh, a legisladora Hanan Ashrawi e Abbas Zaki, uma importante figura do Fatah (grupo político de Iasser Arafat), estão entre os signatários do grupo que pediu uma resistência pacífica.
"Devemos responder a Sharon mostrando o seu fracasso moral e político, em vez de adotar os seus métodos de revanche", disse Ashrawi. "A resistência não precisa ser violenta", acrescentou.
Muitos palestinos duvidam que esse tipo de manifesto, já realizado anteriormente, produza resultados. Porém grande parte dos palestinos questiona a violência contra Israel, que até agora trouxe mais prejuízos do que benefícios.
Revoltada com o uso de seu filho para cometer um atentado suicida -abortado por Israel-, Tamam Abdo, a mãe, criticou os grupos terroristas. "Está proibido enviá-lo para lutar. Ele é jovem, ele é pequeno e deveria estar na escola. Alguém o pressionou a fazer isso. Se ele tivesse 18 anos, não ficaria tão brava."
Hussam Abdo tem 16 anos, mas apresentava problemas mentais. Segundo um de seus irmãos, tem inteligência de 12. Fisicamente também parece mais jovem. Seu pai, Mohammed, disse que o menino é ingênuo, com problemas para se enturmar na escola e sem ligação com terroristas.
Em entrevista ao diário israelense "Yediot Ahronot", Abdo disse que, depois de anos com os colegas pegando no seu pé por sua baixa estatura, ele decidiu "ir ao paraíso" sobre o qual havia aprendido na escola.
"Um rio de mel, um rio de vinho e 72 virgens. Desde que comecei a estudar o Alcorão, sei sobre a vida que me espera", disse o menino ao jornal israelense. "Mas, quando os soldados me pararam, mudei de idéia. Não queria morrer."
Segundo o Ministério da Defesa de Israel, 29 palestinos com menos de 18 anos já cometeram atentados suicidas contra israelenses desde o início da Intifada, em 2000. Em Gaza, membros do Hamas encenaram uma peça retratando como foi a morte de Yassin.


Com agências internacionais


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