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ORIENTE MÉDIO
Campanha morna e vitória quase certa do sucessor de Ariel Sharon marcam pleito com ares de referendo
Apatia esconde eleições cruciais em Israel
MICHEL GAWENDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE TEL AVIV
Sob a sombra de Ariel Sharon,
primeiro-ministro que está em
coma desde 4 de janeiro, Israel
prepara-se para eleger um governo que promete impor as fronteiras definitivas entre o país e os vizinhos palestinos nos próximos
quatro anos.
O Kadima, criado por Sharon,
tem maioria nas pesquisas e promete tornar-se o partido da estabilidade seguindo os passos históricos do ex-general.
O resultado previsível e um certo cansaço com sucessivas eleições tornaram a campanha deste
ano morna, sob o temor de que o
índice de votação não passe de
65%, considerado baixo num país
explosivamente politizado como
Israel. Será a terceira eleição em
cinco anos. Desde a fundação, em
1948, o país teve 31 governos. Só
dois completaram os mandatos.
A apatia, no entanto, não condiz
com a importância do que está
em jogo, uma conjunção de circunstâncias políticas que dão ares
de referendo à votação. Sete meses após deixar a faixa de Gaza e
fazer a maior retirada territorial
de sua história e dois meses depois de ver o lendário premiê
Ariel Sharon ser retirado de cena
por um derrame, Israel decide nas
urnas temas cruciais para a estabilidade da região, como a definição de suas fronteiras e a relação
com o governo palestino, controlado pelo grupo terrorista Hamas.
O premiê interino e líder da legenda, Ehud Olmert, considera a
eleição da próxima terça-feira
vencida, mesmo com a queda nas
pesquisas. E já afirmou: só aceitará parceiros de coalizão que concordem com seu plano de governo, que prevê retirar assentamentos da Cisjordânia, anexar blocos
de colônias judaicas no território
palestino e ignorar o governo
controlado pelo Hamas.
O Kadima chegou a ter 44 das
120 cadeiras do Parlamento nas
sondagens, mas nos últimos dias
caiu para um número entre 36 e
38. Em seguida vêm o Partido
Trabalhista, com cerca de 19, e o
Likud, do ex-primeiro-ministro
Binyamin Netanyahu, com 14.
Por fim aparecem partidos religiosos, de esquerda e árabes.
O principal argumento do Kadima é o de que não há com quem
negociar no lado palestino, já que
o Hamas é um grupo terrorista
que não reconhece Israel nem os
acordos de paz assinados.
"O Hamas é um grupo fanático
religioso que vive fora da realidade. Ele não tem condições de governar por portar-se de maneira
antidemocrática e sem lógica.
Partidos religiosos não fazem
acordos", disse o veterano Shimon Peres, número 2 da chapa
eleitoral do Kadima.
"Estamos dispostos a negociar
com Mahmoud Abbas (presidente palestino). O problema é o nível
de autoridade que ele terá", disse
Peres. "Líderes que têm uma dissidência armada estão em péssima situação."
Os trabalhistas, do ex-líder sindical Amir Peretz, são possíveis
parceiros do Kadima. Sua condição é o aumento do salário mínimo, de US$ 750, para US$ 1.000 e
mais benefícios sociais. Rejeitam
entrar no governo ao lado de partidos de direita belicistas e que defendam a expulsão de árabes, como o Israel Beiteinu (Israel Nossa
Casa), do líder Avigdor Liberman.
"Vamos lutar sem descanso
contra o terrorismo. Mas não vamos deixar que ações militares sejam parte das nossas decisões políticas", disse Peretz. "As fronteiras definitivas devem ser definidas somente em bases morais."
A posição de unilateralismo
também inibe o Meretz, partido
secular de esquerda que pode eleger dez deputados, a entrar em
uma coalizão com o Kadima. "A
solução unilateral é péssima, mesmo sendo melhor do que continuar nos territórios palestinos.
Primeiro temos de tentar negociar. E não sabemos se o Kadima é
mesmo sério nas suas propostas
de retirada", disse o líder da legenda, Iossi Beilin.
Entre os árabes, que são 20%
dos 6,7 milhões de habitantes de
Israel, o sentimento é de que não
há diferença entre a direita e a esquerda. "Todos os partidos sionistas são iguais. Somos discriminados desde a criação de Israel,
não temos os mesmos direitos
dos judeus. Nossas cidades, escolas e hospitais têm menos verba e
nossa educação é controlada pelo
Estado", disse Khalil Joabri, candidato a deputado na cidade de
Um el Fahm.
Além do plano unilateral, durante a campanha o Kadima apresentou-se como o partido capaz
de dar estabilidade a Israel e dar
seguimento às idéias de Sharon de
garantir maioria judaica da população através da retirada da Cisjordânia. "Israel já mostrou ao
mundo que não se rende ao terrorismo. E agora podemos fazer
uma mudança histórica e dar estabilidade ao país", afirmou o ministro da Defesa e candidato a deputado do Kadima, Shaul Mofaz.
Campanha sonolenta
Nas ruas, a campanha vem sendo sonolenta. Somente na última
semana apareceram cartazes e ativistas distribuindo material dos
candidatos. Em Israel não há cultura de debates entre candidatos
na televisão; a discussão ficou
centrada em fóruns na internet.
São 31 partidos concorrendo. O
Exército e a polícia já estão em
alerta e 22 mil homens vão vigiar
as ruas e as seções eleitorais. Estão
registrados 5.014.522 eleitores.
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