São Paulo, domingo, 26 de março de 2006

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Eleitores da antiga União Soviética impulsionam líder direitista radical

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM TEL AVIV

A surpresa da campanha eleitoral em Israel é o partido de extrema direita Israel Beiteinu (Israel Nossa Casa), liderado pelo imigrante moldávio Avigdor Liberman. Com propostas de troca de territórios e populações para separar totalmente judeus e árabes, a legenda conseguiu roubar votos do Kadima e do Likud, líder natural da oposição, e espera tornar-se essencial para a formação de uma coalizão, ou para liderar uma eventual oposição.
"Retiradas unilaterais dos territórios palestinos não são uma boa idéia para dar segurança a Israel. É preciso separar judeus de árabes, nos mesmos moldes da separação entre gregos e turcos na ilha de Chipre. Israel é a nossa casa. A Palestina é a casa deles", disse Liberman em comício.
A proposta é entregar as maiores cidades árabes de Israel para o controle da Autoridade Palestina. Ele argumenta que a população considera-se palestina e por isso deve viver sob um governo palestino. Ele defende que Israel mantenha o controle dos assentamentos das Cisjordânia.
A força de Liberman é o voto dos imigrantes da antiga União Soviética, que formam quase 20% dos 6,7 milhões de habitantes de Israel. Na televisão, sua mensagem é simples. Fotos de Netanyahu e de Olmert com a locução "Niet" ("não" em russo) e, em seguida, a sua, com o som "Da" ("sim" em russo).
Em comício em um hotel de Jerusalém na semana passada, ele falou durante uma hora sem parar para mais de 200 idosos das ex-repúblicas soviéticas. Prometeu aumentar as aposentadorias, lutar por mais verbas para os imigrantes e eliminar a corrupção.
"Os israelenses decidem o voto por motivos emocionais. Os russos usam a lógica, e por isso votam em quem pode defender melhor os seus direitos e a segurança de Israel", disse Liberman depois do comício. Ele está convencido de que será fundamental para a formação do próximo governo de Israel. "Podemos fazer 15 deputados. Quem estiver no governo vai ter que debater o nosso plano também, que é mais abrangente e garante um futuro melhor para os judeus", afirmou.
Liberman nasceu em Moldova e chegou a Israel em 1978. Formou-se em Relações Internacionais e Ciências Políticas na Universidade de Jerusalém. Foi ministro da Infra-estrura e dos Transportes. Em 2004, foi demitido do governo por Ariel Sharon ao propor a expulsão de árabes que não se declarassem leais a Israel.
O lugar que Liberman assumiu seria do Likud, partido formado pelos rebeldes do governo Sharon que deveria ser a oposição natural ao Kadima. "Liberman nos incomoda. É claro que tira votos do Likud, das pessoas que são contra os planos de esquerda de Olmert", disse Reuven Rivlin, deputado do Likud e presidente do Parlamento.
"Mas ele vende sonhos, idéias impossíveis de serem realizadas. Nós somos responsáveis, realistas e temos que decidir entre fazer parte do governo, ou liderar a oposição", disse Rivlin, durante campanha em um ponto de ônibus de Jerusalém. (MG)


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