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IRAQUE OCUPADO
Declaração ocorreria em porta-aviões na quinta; em entrevista à TV NBC, presidente diz esperar encontrar armas
Bush deve anunciar fim de fase militar
Agora podemos lidar mais efetivamente com as armas de destruição em massa, já deixamos claro que quem as armazenar terá o tratamento que merece
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DA REDAÇÃO
O presidente dos EUA, George
W. Bush, pode finalmente decretar o fim da campanha militar no
Iraque na semana que vem, informaram altos funcionários da Casa
Branca. O anúncio estaria planejado para acontecer na próxima
quinta, quando está previsto o retorno do porta-aviões Abraham
Lincoln, que está no golfo Pérsico.
Segundo esses funcionários,
que falaram na condição de anonimato, o teor do discurso, ainda
não escrito, dependerá das informações repassadas a Bush nos
próximos dias pelo comandante
da guerra no Iraque, o general
Tommy Franks.
Apesar de ainda não ter decretado o fim da guerra, já se passaram
17 dias desde a tomada definitiva
de Bagdá pelas tropas da coalizão
anglo-americana, quando uma
imensa estátua do ex-ditador Saddam Hussein foi derrubada.
O presidente americano, no entanto, não pretende decretar a vitória definitiva porque a coalizão
até agora não completou missões-chave, principalmente a localização de armas de destruição em
massa, a criação de um governo
interino e a confirmação do paradeiro de Saddam.
Em entrevista à TV americana
NBC, anteontem, Bush admitiu
pela primeira vez que as armas de
destruição em massa podem ter
sido destruídas pelo Iraque. Ele
também disse acreditar que Saddam esteja "no mínimo, gravemente ferido". Em momento de descontração, disse que o ex-ministro da Informação iraquiano
Mohammed Said al Sahaf, porta-voz do regime em seus últimos
dias, "era demais". Leia trechos da
entrevista concedida ao âncora da
NBC Tom Brokaw.
Pergunta - Antes de partirmos
para a guerra contra o Iraque, uma
das justificativas que o sr. dava para ela era a de que Saddam representava uma ameaça real aos EUA.
Já que ele não foi capaz sequer de
defender seu próprio país -e como ainda não conseguimos encontrar as armas de destruição em massa, que não foram usadas sequer em defesa do Iraque- , essa
afirmação não terá sido exagerada?
George W. Bush - Não, de maneira alguma. Na realidade, acho que
o tempo e as investigações vão
comprovar alguns pontos. Um
deles é que Saddam tinha, sim, conexões terroristas. O segundo é
que ele tinha um programa de armas de destruição em massa
-sabemos que ele tinha. E, agora, também sabemos que ele não
vai usá-las. Assim, alcançamos
um de nossos objetivos, que era
fazer com que Saddam Hussein
não pudesse golpear os EUA ou
nossos amigos ou aliados com armas de destruição em massa.
Em segundo lugar, estamos descobrindo mais à medida que interrogamos ou conversamos com cientistas iraquianos e pessoas
que faziam parte da estrutura iraquiana. Já sabemos que talvez ele
tenha destruído algumas das armas, talvez tenha espalhado outras. Sabemos também que existem centenas de locais possíveis
para esconder as armas, coisa que
ele fez durante dez anos -ele as
escondeu das Nações Unidas por
dez anos. Até agora, examinamos
apenas cerca de 90 desses locais.
São literalmente centenas de locais. Vamos encontrá-las, mas isso levará tempo. E a melhor maneira de encontrá-las é continuar
a obter informações dos iraquianos que tomaram parte no trabalho de esconder as armas.
Pergunta - Por que não incluir alguns dos inspetores da ONU nesse
trabalho -não entregá-lo a eles,
mas fazer com que eles participem?
Isso ajudaria a dar credibilidade, o
sr. não acha?
Bush - Acho que haverá ceticismo até que as pessoas descubram
que houve, de fato, um programa
de armas de destruição em massa.
Uma coisa sobre a qual não pode
haver ceticismo é o fato de que esse sujeito foi brutal e torturou o
povo iraquiano. Quero dizer que
ele brutalizava as pessoas, as torturava, as destruía, arrancava suas
línguas quando elas discordavam.
E agora as pessoas estão começando a ver o que significa a liberdade no Iraque. Veja as marchas e as peregrinações xiitas que estão
acontecendo.
O mundo verá que os EUA estão interessados em paz, segurança e
liberdade.
Pergunta - O sr. assistiu ao vídeo
de Saddam no dia seguinte ao primeiro ataque, de óculos, lendo a
partir de um bloco de anotações?
Bush - Sim, eu me diverti com
aquilo. Mas, você sabe, as pessoas
questionam se Saddam está morto. Algumas evidências sugerem
que ele esteja. Mas nunca faríamos uma afirmação dessa sem
termos certeza. A pessoa que nos
ajudou a direcionar os ataques, no
entanto, acredita que, no mínimo,
ele esteja gravemente ferido.
Pergunta - Seu velho amigo de família Brent Scrowcroft, que tem algumas divergências com suas políticas, diz que uma das coisas que o
preocupam é que não existe tradição de democracia no Iraque, que
as pessoas vão simplesmente agarrar o poder onde puderem. Muitas
pessoas estão achando que é isso o
que está acontecendo no sul do Iraque, especialmente com os xiitas.
Isso não é motivo de grande preocupação?
Bush - Bem, para início de conversa, estamos só começando. O
país ainda não está em segurança.
Nossas primeiras preocupações
são garantir que as unidades de
milícia dos velhos guerrilheiros
de Saddam não estejam lá fora,
matando pessoas. Assim, nossas
tropas estão trabalhando com forças da coalizão para tornar o país
mais seguro.
Em segundo lugar, estamos
preocupados em garantir que haja uma presença policial nessas
diferentes cidades, para manter a
ordem nelas. Estamos apenas começando a posicionar nossas
equipes para ajudar as burocracias iraquianas a se reerguerem e
começarem a funcionar.
Repudio os críticos que dizem
que a democracia não pode dar
certo no Iraque. Pode não ter a
mesma aparência da América.
Você sabe, pode não surgir nenhum Thomas Jefferson. Mesmo
assim, entretanto, acredito que
possa, sim, haver um governo representativo e que todas as facções possam ser representadas.
Pergunta - Mas, se o governo do
Iraque se tornar um governo islâmico -e, com uma maioria de 60%
formada por xiitas,
isso é muito possível-, isso seria
aceitável para o
sr.?
Bush - O que eu
gostaria de ver seria um governo no
qual religião e Estado fossem separados. E acredito
que haja gente suficiente no Iraque
que gostaria desse
tipo de governo
-talvez haja um
governo nacionalista, que realmente honre a história
e as tradições iraquianas, o próprio
Iraque. Mas é preciso que seja um governo que represente todas as pessoas.
Pergunta - Quanto tempo vai levar a missão dos EUA no Iraque?
Bush - Alguém me perguntou
outro dia quanto tempo seria preciso para nos livrarmos do regime
de Saddam. Minha resposta é: vai
levar o tempo que for preciso.
Pergunta - Mas pode levar até
dois anos?
Bush - Pode. Pode mesmo. Ou
menos -quem sabe? Mas o que
estou querendo mostrar é que estamos lá para promover a segurança, para garantir que a vida retorne ao normal. E para ajudar a
população iraquiana a estabelecer
um governo, porque acreditamos
que a democracia
possa funcionar
no Iraque. E o nacionalismo, você
sabe, significa que
é mais provável
que surja um governo centrado
no próprio Iraque, em suas tradições e em sua
história, em oposição a um governo centrado numa religião específica.
Pergunta - Quero
lhe perguntar sobre o futuro de alguns outros relacionamentos que temos -com as
Nações Unidas, por exemplo. Há
duas pessoas que o admiram muito
e que são analistas poderosos em
Washington, George Will e Bill Kristol. Referindo-se à ONU, George
Will disse: "Se não é o fim como nós
o conhecemos, então deveria ser".
E Bill Kristol falou: "Antigamente
eu achava a ONU apenas inútil.
Agora a acho prejudicial".
Bush - Bem, espero que a ONU
seja útil mesmo. Espero que a
ONU seja um organismo efetivo
que ajude a enfrentar as novas
ameaças do século 21, enfrentando o terror, os Estados terroristas
e a proliferação de armas.
E posso compreender por que
alguns setores se sentem frustrados com a ONU, porque a ONU
pareceu não estar disposta a unir-se à causa da liberdade. E era frustrante para os americanos que se tivesse a impressão de que a ONU
poderia criar obstáculos a uma
política externa norte-americana
que estava sendo conduzida em
nome da paz e da segurança.
Por outro lado, eu fui a pessoa
que foi à ONU em primeiro lugar.
Foi minha a decisão de ir lá e proferir o discurso em que cobrei
uma ação da ONU, em 12 de setembro de 2002. A ONU terá um
papel útil na reconstrução do Iraque, por exemplo, porque muitos
países não poderão dar dinheiro
para a reconstrução sem que ele
passe pelo canal da ONU.
E há um papel a ser exercido pela ONU nessa área. Espero que, à
medida que ameaças surjam, a
ONU reaja mais a essas ameaças.
Pergunta - O sr. vai convidar o
presidente francês, Jacques Chirac
[contrário à guerra], ao seu rancho
em Crawford?
Bush - Bem, meu primeiro convidado será John Howard [que
apoiou a guerra e enviou soldados], e ele está vindo.
Pergunta - O primeiro-ministro
da Austrália?
Bush - Sim, o primeiro-ministro
da Austrália. Ele é um grande
amigo e um aliado fantástico. Ele
virá uma semana depois da próxima sexta-feira.
Pergunta - Mas e o presidente
Chirac?
Bush - Você não vai receber comentário algum sobre isso. Duvido que ele venha ao rancho no futuro próximo. Por outro lado, sabe, há alguns pontos de tensão no relacionamento, obviamente,
porque alguns membros de nossa
administração e alguns setores de
nosso país acharam que a posição
francesa foi antiamericana.
E minha preocupação em relação à posição francesa é que ela
possa enfraquecer a aliança da
Otan. A Otan é uma aliança muito
importante. É algo que não apenas temos trabalhado para modernizar, como eu também tenho trabalhado para ampliar a Otan. E
é muito importante que a Europa
não fique dividida a tal ponto que
os Estados Unidos não possam
relacionar-se com uma Europa
unida, inteira, livre e em paz.
Pergunta - Já falamos sobre isso
antes. Agora que a guerra no Iraque já terminou de fato, o sr. já
pensou sobre uma Doutrina Bush
que seja uma estrutura abrangente de algum tipo, em base global,
para lidar com as armas de destruição em massa e a necessidade possível de ataques preventivos contra "Estados delinquentes"?
Bush - Na realidade, a Doutrina
Bush está sendo definida pela
ação, em oposição ao discurso. Se
bem que acho que, se você compilasse vários dos discursos que já
fiz, poderia chegar ao que é a
Doutrina Bush.
Vejo as oportunidades pós-Iraque com Saddam da seguinte maneira: um, que agora podemos lidar mais efetivamente com as armas de destruição em massa, que
já deixamos claro que quem armazenar essas armas terá o tratamento que merece. Esperemos que a maior parte desse trabalho
possa ser realizado por vias diplomáticas. E você nos verá -você
me verá e verá membros de nossa
administração começando a fazer
pressão para a criação de novos
protocolos internacionais que
tornem as organizações internacionais mais eficazes quando se
trata de interromper a difusão das
armas de destruição em massa.
Acredito também que a reforma
no Oriente Médio e a paz no
Oriente Médio seja uma iniciativa
que vamos continuar a impulsionar -que eu vou impulsionar-,
especialmente no processo de paz
do Oriente Médio, vou trabalhar
duro para conquistar a solução
dos dois Estados. E temos uma
boa oportunidade de consegui-lo.
Pergunta - E o que o sr. achou do
ministro da Informação iraquiano
[risos]?
Bush - Ele era demais, ele foi ótimo [risos]. Alguém até nos acusou de tê-lo contratado e colocado
lá. Ele foi um clássico.
Tradução de Clara Allain
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