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Economista de Menem quer ligação com EUA
DO ENVIADO A BUENOS AIRES
Os dois períodos de Carlos Menem como presidente argentino,
de 1989 a 1999, ficaram celebrizados, em relações internacionais,
com a afirmação de que a Argentina pretendia manter "relações
carnais" com os Estados Unidos,
frase atribuída a seu chanceler,
Guido di Tella, já morto.
Agora, se Menem ganhar de novo, as relações carnais tendem ao
orgasmo múltiplo, posto que Pablo Rojo, tido hoje como principal
economista do ex-presidente,
quer um acordo com Washington
que preveja alinhamento total.
Em segurança, combate ao terrorismo, relações comerciais
(leia-se Alca, Área de Livre Comércio das Américas), a Argentina seguiria estritamente as posições norte-americanas. Em troca,
ganharia uma ajuda financeira
substancial, entre US$ 25 bilhões
e US$ 30 bilhões.
É claro que Rojo precisa, primeiro, combinar com os norte-americanos e, depois, com o próprio Menem, que hoje parece menos inclinado a um relacionamento tão íntimo com Washington.
De todo modo, é uma indicação
preciosa das dificuldades que
provocará para a relação Brasil/
Argentina uma eventual vitória
de Menem.
Ainda mais que outro assessor importante do ex-presidente, Jorge Castro, que foi seu chefe de Inteligência, defende uma ação conjunta Brasil/Argentina na Colômbia, em respaldo ao Plano Colômbia, liderado pelos Estados Unidos e visto com forte desconfiança por Brasília.
Como é natural nos bons diplomatas, o embaixador brasileiro
em Buenos Aires, José Botafogo
Gonçalves, trata de manifestar a
mais completa naturalidade.
"Não vejo nenhum dos candidatos com um viés anti-Mercosul", diz o embaixador, em referência ao projeto que é a menina
dos olhos da diplomacia brasileira
desde José Sarney até Lula.
É uma maneira de não acentuar
a impressão de que Menem, por
ser pró-EUA, acabaria por sepultar o Mercosul.
Relações bilaterais
O embaixador acha que Menem
(como qualquer candidato) poderia, sim, causar um enorme
problema nas relações bilaterais e
no bloco sulista se adotasse uma
política cambial diferente do
câmbio flutuante que hoje vigora
nos dois países.
Mas, ao que tudo indica, o ex-presidente abandonou a idéia de
dolarizar a economia argentina, o
que de fato seria o último prego
no caixão do Mercosul.
Quanto aos outros quatro principais candidatos, todos falam
bem do Mercosul.
Ricardo López Murphy conhece
bem o Brasil e gosta do país, com
o qual tem relações afetivas: sua
mãe foi chefe de comissárias de
bordo da Varig.
Mas, sobre o Mercosul, a coisa
pode ser mais complicada: López
Murphy está disposto a propor a
revisão da TEC (Tarifa Externa
Comum), que é o imposto de importação igual para todos os quatro países do Mercosul.
Ele não diz, mas o alvo mais
provável são os bens de capital,
que hoje a Argentina pode importar com tarifa zero, concessão
brasileira durante a crise de 2001.
Acontece que, para modernizar
as fábricas argentinas, qualquer
governo disposto a recuperar a
produção não vai querer onerar,
com tarifa alta de importação, justamente a compra no exterior de
máquinas e equipamentos.
(CR)
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