São Paulo, terça-feira, 26 de abril de 2005

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Itamaraty estranha críticas argentinas

SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES

As críticas do governo argentino à atuação do Brasil na crise do Equador foram recebidas "com estranheza" pelo Itamaraty.
Sem admitir atrito, o Itamaraty enfatiza que as discordâncias do presidente argentino, Néstor Kirchner, com a dianteira da diplomacia brasileira no episódio são "versões divulgadas na imprensa argentina".
A irritação de Kirchner com a tentativa do Brasil de mediar a crise equatoriana foi noticiada anteontem pelo jornal "Clarín".
O enviado especial do diário a Roma -Kirchner foi à entronização do papa- informou que integrantes da comitiva oficial "não dissimularam seu aborrecimento com a decisão brasileira de ser protagonista na intermediação, acima até da OEA [Organização dos Estados Americanos]".
Na avaliação do governo argentino, o Brasil estaria aproveitando a crise no Equador para reforçar sua campanha pela obtenção de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
A Argentina é contra o ingresso do Brasil como membro permanente do CS e faz campanha para que não se ampliem as vagas permanentes no órgão.
O chanceler argentino, Rafael Bielsa, "recriminou" seu colega brasileiro, Celso Amorim, por haver descumprido acordo de que "qualquer declaração pública a respeito da situação equatoriana seria conjunta", segundo disse o analista político e editor do "Clarín", Eduardo van Der Kooy. Ele é um interlocutor freqüente de Kirchner e do primeiro escalão.
O Itamaraty informa que Amorim ligou pessoalmente para Bielsa, antes de emitir comunicado sobre a ida do chanceler ao Equador, datado do último dia 21.
Bielsa havia faltado ao encontro de chanceleres da Comunidade Sul-Americana de Nações, realizado dois dias antes, em Brasília.
O texto divulgado pelo Itamaraty diz: "A Comunidade Sul-Americana de Nações enviará uma missão constituída pelos chanceleres da tróica da Comunidade [Peru, Brasil e Bolívia], à qual aceita juntar-se a secretária pro-tempore do Grupo do Rio [Argentina], para dialogar com as forças políticas equatorianas".
Lançada em dezembro, no Peru, reunindo 12 países, a Comunidade Sul-Americana de Nações é uma iniciativa do governo Lula, com apoio do ex-presidente argentino Eduardo Duhalde (2002).
Com larga influência no Partido Justicialista, Duhalde foi o articulador da eleição de Kirchner à Presidência. Hoje, é seu principal rival na legenda peronista.
Kirchner não foi à cúpula que lançou a Comunidade Sul-americana de Nações. Na argentina, a ausência do presidente foi creditada à disputa política interna.
Na semana passada, Bielsa admitiu discordâncias do governo em relação ao "ritmo" de consolidação da entidade. "Não se pode pretender saltar 2,10 metros sem antes saltar 1,40 metro", disse.


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