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Itamaraty estranha críticas argentinas
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
As críticas do governo argentino à atuação do Brasil na crise do
Equador foram recebidas "com
estranheza" pelo Itamaraty.
Sem admitir atrito, o Itamaraty
enfatiza que as discordâncias do
presidente argentino, Néstor
Kirchner, com a dianteira da diplomacia brasileira no episódio
são "versões divulgadas na imprensa argentina".
A irritação de Kirchner com a
tentativa do Brasil de mediar a crise equatoriana foi noticiada anteontem pelo jornal "Clarín".
O enviado especial do diário a
Roma -Kirchner foi à entronização do papa- informou que integrantes da comitiva oficial "não
dissimularam seu aborrecimento
com a decisão brasileira de ser
protagonista na intermediação,
acima até da OEA [Organização
dos Estados Americanos]".
Na avaliação do governo argentino, o Brasil estaria aproveitando
a crise no Equador para reforçar
sua campanha pela obtenção de
um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.
A Argentina é contra o ingresso
do Brasil como membro permanente do CS e faz campanha para
que não se ampliem as vagas permanentes no órgão.
O chanceler argentino, Rafael
Bielsa, "recriminou" seu colega
brasileiro, Celso Amorim, por haver descumprido acordo de que
"qualquer declaração pública a
respeito da situação equatoriana
seria conjunta", segundo disse o
analista político e editor do "Clarín", Eduardo van Der Kooy. Ele é
um interlocutor freqüente de
Kirchner e do primeiro escalão.
O Itamaraty informa que Amorim ligou pessoalmente para Bielsa, antes de emitir comunicado
sobre a ida do chanceler ao Equador, datado do último dia 21.
Bielsa havia faltado ao encontro
de chanceleres da Comunidade
Sul-Americana de Nações, realizado dois dias antes, em Brasília.
O texto divulgado pelo Itamaraty diz: "A Comunidade Sul-Americana de Nações enviará
uma missão constituída pelos
chanceleres da tróica da Comunidade [Peru, Brasil e Bolívia], à
qual aceita juntar-se a secretária
pro-tempore do Grupo do Rio
[Argentina], para dialogar com as
forças políticas equatorianas".
Lançada em dezembro, no Peru, reunindo 12 países, a Comunidade Sul-Americana de Nações é
uma iniciativa do governo Lula,
com apoio do ex-presidente argentino Eduardo Duhalde (2002).
Com larga influência no Partido
Justicialista, Duhalde foi o articulador da eleição de Kirchner à
Presidência. Hoje, é seu principal
rival na legenda peronista.
Kirchner não foi à cúpula que
lançou a Comunidade Sul-americana de Nações. Na argentina, a
ausência do presidente foi creditada à disputa política interna.
Na semana passada, Bielsa admitiu discordâncias do governo
em relação ao "ritmo" de consolidação da entidade. "Não se pode
pretender saltar 2,10 metros sem
antes saltar 1,40 metro", disse.
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