São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

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100 DIAS DE OBAMA

Democrata desfaz legado de Bush, mas economia empaca

Aos 100 dias de governo, na próxima quarta, presidente dos EUA impõe agenda e imagem, mas tem desempenho misto

Hiperativo na política externa, Obama propõe guinada em prioridades domésticas; crise econômica tarda a responder a pacotes


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Segundo o "obamômetro" do PolitiFact, tabela criada pelo site de vigilância política que foi ganhador do prestigioso prêmio Pulitzer de 2009, Barack Obama cumpriu 27 de suas promessas de campanha, quebrou 6, está trabalhando em 61 e ainda não fez nada em relação a 410 delas nos primeiros cem dias de Presidência, que se completam na quarta.
Dá uma promessa cumprida a cada três dias úteis, um feito numericamente notável. A marca ganha mais importância quando se disseca cada uma das ações realizadas, principalmente nos campos de política externa e doméstica. Nessas áreas, o democrata passou os primeiros meses de sua presidência desfazendo o que o republicano George W. Bush fez.
Internacionalmente, anunciou os planos de retirada do Iraque e de escalada no Afeganistão, abriu diálogo com países como o Irã, parte do "eixo do mal" do antecessor, eliminou as restrições de viagem, remessa de dinheiro e comunicação entre cubanos-americanos e seus parentes que moram na ilha caribenha, refez relações estremecidas com França e Alemanha e ensaia descongelamento com a Rússia.
Em casa, propôs um Orçamento que, mesmo com as perdas pontuais que a discussão atual no Congresso indica, marcará uma guinada social e ambiental dos gastos do governo, a ser paga por mais impostos para ricos e empresas poluidoras. Aprovou um pacote de estímulo de US$ 787 bilhões -ou "meio Brasil"- e assinou medida que na prática libera pesquisas com células-tronco bancadas pelo governo.
Mandou fechar a prisão militar de Guantánamo e os centros de detenção secretos da CIA no exterior, proibiu as chamadas "técnicas avançadas de interrogatório", eufemismo para tortura, e as "transferências extraordinárias", envio de prisioneiros para países onde correm o risco de ser torturados, quatro símbolos da Era Bush. Divulgou memorandos que autorizavam as práticas de exceção, o que suscita um debate acalorado.
Embora parte dessas iniciativas ainda não tenha resultados práticos, com elas Obama conseguiu impor um estilo e um ciclo noticioso majoritariamente positivo. É na crise econômica, no entanto, que está hoje seu ponto mais fraco.
Sob o democrata, o índice de desemprego passou de 7,2% para 8,5% -a cada dia que Obama dormiu como presidente, 20 mil pessoas em média foram demitidas. A crise financeira que deu início à recessão atual resiste, e o uso do dinheiro aprovado pelo Congresso ainda sob Bush não foi devidamente fiscalizado por Obama, como mostrou o escândalo dos bônus de executivos de empresas auxiliadas pelo governo.


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