São Paulo, domingo, 26 de abril de 1998

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Simplismo da Frente Nacional atrai eleitores

de Paris

O maior perigo de crescimento da Frente Nacional reside na sua facilidade em comunicar suas mensagens ao povo francês -faculdade que a direita tradicional perdeu há muito tempo.
Essa é a opinião do cientista político Xavier Corval, 29, pesquisador especializado na direita francesa do Cevipof (Centro de Estudos da Vida Política Francesa).
E pensar que ninguém falava mais ao coração do eleitor francês que o presidente Charles de Gaulle, herói da Segunda Guerra Mundial que dominou a cena política do país até 1969, até hoje a maior referência da direita francesa.
Para Corval, hoje em dia não há mais um grande interlocutor do pensamento direitista e nem mesmo novas idéias para serem apresentadas ao eleitor.
Com a FN acontece exatamente o contrário. Suas soluções simplistas para problemas do dia-a-dia atraem cada vez mais eleitores que se sentem abandonados por seus antigos representantes.
"A FN possui um poder ideológico e intelectual enorme, em termos de dinamismo, renovação e propostas", afirma Corval.
Por exemplo, a FN está sempre pronta a imolar os imigrantes como bodes expiatórios das altas taxas de desemprego -na falta de solução mais racional, essa acaba agradando muita gente.
"Por outro lado, há, na direita tradicional, uma grande dificuldade em comunicar as coisas simples", diz Corval. "As duas grandes correntes da direita (RPR e UDF) não conseguem produzir intelectuais capazes de formular novos conceitos, que precisam ser importados de outros países", afirma o pesquisador.
Ele dá um exemplo curioso: RPR e UDF buscam idéias aprovadas pelo primeiro-ministro britânico, Tony Blair -um trabalhista cujas teses deveriam estar muito alinhadas com as do Partido Socialista.
"Na verdade, o que a direita francesa busca é a facilidade de comunicação de Tony Blair", afirma o pesquisador do Cevipof, um dos mais conceituados centros de estudos políticos da França.
Mas Corval vê possibilidades de renovação na direita francesa -especialmente dentro da UDF, que atualmente passa por discussões que incluem até a formação de um novo partido. (RA)



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