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FRANÇA
Eleições regionais de março refletiram aumento da influência dos ultranacionalistas da Frente Nacional
Crise da direita dá espaço a extremismo
RODRIGO AMARAL
de Paris
Dividida e sem apresentar novas
alternativas, a direita francesa
atravessa uma crise que pode abrir
caminho para o crescimento da
FN (Frente Nacional), o principal
grupo ultranacionalista do país.
Com isso, a crise ganha um caráter que supera a instância político-partidária. A FN, devido a teses
que pregam da expulsão de estrangeiros até a saída da França da
União Européia, é frequentemente
qualificada de fascista e preocupa
os setores liberais da sociedade.
Em março, as eleições regionais
exemplificaram bem os riscos dessa crise. Cinco presidentes de conselhos regionais da UDF, segundo
maior partido da direita, foram
eleitos com o apoio da FN.
Sinal de que a FN já tem influência suficiente para decidir eleições
e que parte da direita tradicional
pode aceitar negociar com ela.
Os acordos geraram fortes reações na sociedade, incluindo protestos nas principais cidades do
país. Dois dos presidentes eleitos
desistiram dos cargos, e os três
que ficaram foram expulsos da
UDF.
Um deles, o presidente da Região Rhône-Alpes, Charles Millon,
formou até mesmo um novo movimento político, chamado simplesmente La Droite (A Direita).
A atitude de Millon foi saudada
pelo eurodeputado Bruno Mégret,
número dois da FN, prenunciando futuras colaborações.
A situação do maior partido direitista, a RPR, do presidente Jacques Chirac, não é muito melhor.
Na semana passada, por exemplo,
o partido se absteve da votação na
Assembléia do projeto da passagem ao euro, a moeda única da
União Européia, para não rachar.
A RPR ameaçava votar contra a
medida, o que não impediria sua
aprovação (todo o Partido Socialista e a UDF votaram a favor),
mas contradiria o próprio Chirac,
que, há duas semanas, fez veemente defesa da integração européia na TV.
A votação contrária ao projeto
proposto pelo governo socialista,
na interpretação do presidente do
partido, o deputado Philippe Séguin, significaria uma reprovação
à política econômica do primeiro-ministro Lionel Jospin.
Mesmo assim, as tropas fiéis a
Chirac, lideradas pelo ex-primeiro-ministro Alain Juppé, desencadearam uma pressão pela abstenção que acabou tendo resultado.
Chirac e Juppé, aliás, são os dois
protagonistas do grande revés sofrido pela direita francesa, que
funcionou como um estopim da
crise vivida hoje.
No ano passado, Juppé era o primeiro-ministro, e a RPR e a UDF
detinham 480 das 577 cadeiras na
Assembléia Nacional.
Essa legislatura havia sido eleita
em 1993, e, legalmente, não haveria necessidade de haver nova eleição até a metade deste ano. Mas o
presidente pode dissolver a Assembléia e convocar novo pleito
quando considerar necessário.
Em abril de 97, Chirac tomou a
decisão de dissolver a Assembléia
esmagadoramente conservadora e
convocar nova eleição para maio.
O objetivo formal do presidente
era evitar que as eleições legislativas fossem muito próximas da entrada em vigor do euro (que, a
partir de janeiro do ano que vem,
passa a ser usado em transações
interbancárias).
Mas Chirac também contava obter respaldo popular para reformas econômicas defendidas por
Juppé que encontravam resistência entre seus próprios aliados.
No fim, a medida mostrou-se
uma má idéia. A coalizão conservadora foi derrotada pelo desemprego e pela estagnação econômica que, então, ainda era manifesta.
Quem elegeu a maioria foi o Partido Socialista, que formou um
governo com o apoio do Partido
Comunista e dos Verdes.
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