São Paulo, domingo, 26 de abril de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FRANÇA
Eleições regionais de março refletiram aumento da influência dos ultranacionalistas da Frente Nacional
Crise da direita dá espaço a extremismo

RODRIGO AMARAL
de Paris

Dividida e sem apresentar novas alternativas, a direita francesa atravessa uma crise que pode abrir caminho para o crescimento da FN (Frente Nacional), o principal grupo ultranacionalista do país.
Com isso, a crise ganha um caráter que supera a instância político-partidária. A FN, devido a teses que pregam da expulsão de estrangeiros até a saída da França da União Européia, é frequentemente qualificada de fascista e preocupa os setores liberais da sociedade.
Em março, as eleições regionais exemplificaram bem os riscos dessa crise. Cinco presidentes de conselhos regionais da UDF, segundo maior partido da direita, foram eleitos com o apoio da FN.
Sinal de que a FN já tem influência suficiente para decidir eleições e que parte da direita tradicional pode aceitar negociar com ela.
Os acordos geraram fortes reações na sociedade, incluindo protestos nas principais cidades do país. Dois dos presidentes eleitos desistiram dos cargos, e os três que ficaram foram expulsos da UDF.
Um deles, o presidente da Região Rhône-Alpes, Charles Millon, formou até mesmo um novo movimento político, chamado simplesmente La Droite (A Direita).
A atitude de Millon foi saudada pelo eurodeputado Bruno Mégret, número dois da FN, prenunciando futuras colaborações.
A situação do maior partido direitista, a RPR, do presidente Jacques Chirac, não é muito melhor. Na semana passada, por exemplo, o partido se absteve da votação na Assembléia do projeto da passagem ao euro, a moeda única da União Européia, para não rachar.
A RPR ameaçava votar contra a medida, o que não impediria sua aprovação (todo o Partido Socialista e a UDF votaram a favor), mas contradiria o próprio Chirac, que, há duas semanas, fez veemente defesa da integração européia na TV.
A votação contrária ao projeto proposto pelo governo socialista, na interpretação do presidente do partido, o deputado Philippe Séguin, significaria uma reprovação à política econômica do primeiro-ministro Lionel Jospin.
Mesmo assim, as tropas fiéis a Chirac, lideradas pelo ex-primeiro-ministro Alain Juppé, desencadearam uma pressão pela abstenção que acabou tendo resultado.
Chirac e Juppé, aliás, são os dois protagonistas do grande revés sofrido pela direita francesa, que funcionou como um estopim da crise vivida hoje.
No ano passado, Juppé era o primeiro-ministro, e a RPR e a UDF detinham 480 das 577 cadeiras na Assembléia Nacional.
Essa legislatura havia sido eleita em 1993, e, legalmente, não haveria necessidade de haver nova eleição até a metade deste ano. Mas o presidente pode dissolver a Assembléia e convocar novo pleito quando considerar necessário.
Em abril de 97, Chirac tomou a decisão de dissolver a Assembléia esmagadoramente conservadora e convocar nova eleição para maio.
O objetivo formal do presidente era evitar que as eleições legislativas fossem muito próximas da entrada em vigor do euro (que, a partir de janeiro do ano que vem, passa a ser usado em transações interbancárias).
Mas Chirac também contava obter respaldo popular para reformas econômicas defendidas por Juppé que encontravam resistência entre seus próprios aliados.
No fim, a medida mostrou-se uma má idéia. A coalizão conservadora foi derrotada pelo desemprego e pela estagnação econômica que, então, ainda era manifesta.
Quem elegeu a maioria foi o Partido Socialista, que formou um governo com o apoio do Partido Comunista e dos Verdes.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.