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São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2003

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ORIENTE MÉDIO

Pela primeira vez na história, Israel aceita criação de Estado palestino, mas ministros fazem reservas sobre proposta

Gabinete de Sharon aprova plano de paz

Ammar Awad/Reuters
Jovens palestinos fogem de escavadeira de Israel durante ação militar em Tulkarem (Cisjordânia)


DA REDAÇÃO

O gabinete do premiê israelense, Ariel Sharon, aprovou ontem condicionalmente o novo plano de paz com os palestinos proposto pelos Estados Unidos. Foi a primeira vez na história que Israel se comprometeu com a criação de um Estado palestino, conforme prevê um dos pontos do plano.
O "roteiro para a paz", como é denominado o plano, conta com o apoio da ONU, da União Européia e da Rússia e prevê em sua última etapa a criação de um Estado palestino em 2005.
Os palestinos já aceitaram o plano que, na sua primeira fase, os obriga a combater o terrorismo contra alvos israelenses. Já Israel deve congelar a construção de assentamentos judaicos na Cisjordânia e na faixa de Gaza.
A principal pré-condição israelense para implementar a primeira etapa do plano é que os palestinos combatam o terrorismo antes de qualquer ação de Israel.
A aprovação do plano de paz no gabinete de Sharon foi conquistada por 12 votos a 7, com quatro abstenções.
A decisão do gabinete israelense veio acompanhada por uma série de reservas de Israel sobre o plano e a rejeição a qualquer possibilidade de direito de retorno dos refugiados palestinos.
A rejeição ao direito de retorno dos refugiados, um dos temas mais delicados das negociações de paz, foi aprovada no gabinete israelense por 16 votos a 1.
Sharon afirmou na reunião de gabinete que "não é certo, nem justificável que Israel controle 3,5 milhões de palestinos". "Vocês querem que fiquemos estacionados em Jenin (Cisjordânia) para sempre?", acrescentou o primeiro-ministro em declarações que contrastam com seu passado de opositor de qualquer acordo de paz com os palestinos.
O primeiro-ministro disse ainda, em entrevista ao diário "Yediot Ahronot", que "chegou a hora de dizer sim aos EUA e dividirmos a terra com os palestinos".
Analistas dizem que a aprovação do plano por Sharon é uma tática dele para atender à pressão dos EUA. O primeiro-ministro estaria apostando que os palestinos não conseguirão aplicar a sua parte do "roteiro para a paz" e o plano acabará fracassando.
O premiê argumentou para o seu gabinete, um dos mais conservadores da história de Israel, que progressos no plano de paz podem melhorar a situação econômica por que passa o país, segundo o diário "Haaretz".
"O plano de paz não é o meu sonho. Mas temos de encontrar uma solução para as próximas gerações", disse Sharon, segundo um porta-voz do governo.
O porta-voz da Casa Branca Adam Levigne disse que o presidente Bush classificou a aprovação do plano pelo gabinete israelense "como um importante passo em direção à paz".
O presidente dos EUA, George W. Bush, pode ir no próximo mês à Jordânia para reunião de cúpula com Sharon e o premiê palestino, Abu Mazen. Seu governo afirma que o plano deve ser implementado do modo como foi apresentado a Israel e aos palestinos. Mas indicou que as reservas israelenses serão consideradas.
A França, a União Européia e a ONU elogiaram a aprovação. A Rússia disse que as reservas israelenses não podem atrasar a implementação do plano de paz.
O ministro da Informação palestino, Nabil Amr, disse que a aprovação foi "uma coisa positiva". "Porém acreditamos que, para uma implementação efetiva do "roteiro para a paz", Israel deve criar um ambiente favorável, libertando prisioneiros, congelando os assentamentos, os cercos e as ações militares", acrescentou.
Abdel Aziz Rantisi, líder do grupo terrorista Hamas, afirmou que a decisão do gabinete israelense faz parte de "conspiração para liquidar a causa e a resistência dos palestinos".

Encontro
Ministros palestinos afirmaram que, com a aprovação do gabinete israelense, o premiê palestino e Sharon podem se reunir nas próximas 48 horas. Seria o segundo encontro dos dois líderes.
O presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Iasser Arafat, disse em entrevista a um diário árabe que "não há coordenação total" entre ele e Mazen no comando do governo palestino.
Com agências internacionais

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