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São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2003

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Premiê aposta em fracasso dos palestinos

TIMOTHY HERITAGE
DA REUTERS, EM JERUSALÉM

A aprovação do "roteiro para a paz" por Israel ontem removeu um obstáculo para encerrar o conflito contra os palestinos, mas há muitos desafios pela frente.
Embora o gabinete israelense tenha votado pela primeira vez uma eventual criação de um Estado palestino, foram reafirmadas pelos ministros as reservas em relação ao plano e os dois lados continuam divergindo sobre temas cruciais que há tempos têm bloqueado os acordos de paz.
Ao apoiar o plano, um dos objetivos iniciais do premiê israelense, Ariel Sharon, é satisfazer os EUA, principal aliado de Israel.
O primeiro-ministro também estaria apostando no fracasso dos palestinos de cumprirem a sua promessa de combater os grupos terroristas, dando a Israel a licença para não levar adiante qualquer exigência de congelar as construções de assentamentos judaicos nos territórios palestinos.
"Sharon acredita que os palestinos irão implodir o processo de paz com atentados terroristas. Assim ele não precisará congelar os assentamentos", diz Menachem Klein, pesquisador do Instituto de Estudos de Israel, em Jerusalém.
"E isso talvez ocorra. Estou certo de que radicais nos dois lados irão ajudá-lo [a Sharon] e sua tarefa será mais fácil", acrescentou.
Sharon não pode desafiar os desejos dos EUA, que concede ajuda anual de US$ 3 bilhões ao país. Especialmente em um momento em que Israel enfrenta uma grave crise econômica.
"[A aprovação do plano] evita um conflito com os EUA, o que é importante para Sharon, e também divide a responsabilidade com os palestinos", disse Gerald Steinberg, na Universidade Bar Ilan. "Os palestinos irão agora desarmar os grupos terroristas e acabar com a violência? As expectativas são muito baixas."
O gabinete israelense também votou ontem a rejeição a qualquer direito de retorno para o que hoje é Israel de palestinos que deixaram ou foram forçados a sair quando o Estado judeu foi criado em 1948.
O "roteiro para a paz" não afirma que os refugiados palestinos devem ter o direito de retorno. Porém diz que "deve ser encontrada uma solução realista para o tema dos refugiados" na fase final do plano.
Os palestinos há muito tempo têm exigido o direito de retorno nas negociações de paz. E também não tem havido progresso em outros temas centrais das negociações, como o controle sobre Jerusalém e o desmantelamento dos assentamentos judaicos.
As diferenças nesses temas devem tornar o progresso no plano de paz difícil. E devem reduzir as esperanças de paz no longo prazo.
"É importante prestar atenção no que o gabinete disse sobre os refugiados", afirma Steinberg. "Não há sinal de movimento em nenhum dos temas cruciais."
Os palestinos temem que Israel esteja buscando uma maneira de não implementar o "roteiro para a paz". Já os israelenses duvidam que os palestinos cumpram a sua parte do plano.
Os palestinos exigem o fim dos bloqueios militares israelenses nas áreas palestinas, a libertação de prisioneiros e o fim das ações regulares do Exército israelense na Cisjordânia e na faixa de Gaza, que têm ocorrido desde o início da Intifada, em setembro de 2000.
Autoridades palestinas deram declarações ontem afirmando que de nada adianta a aprovação do plano de paz pelo gabinete israelense se não houver ações práticas de Israel.

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