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São Paulo, segunda-feira, 26 de maio de 2003

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TRANSIÇÃO NA ARGENTINA

No discurso de posse, o presidente afirma que país precisa voltar a ser sério, com instituições fortes

Kirchner promete uma Argentina "normal"

Daniel Luna/Associated Press
O presidente Kirchner recebe aplauso em seu discurso de posse no Congresso em Buenos Aires


ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES

Néstor Kirchner, 53, assumiu ontem a Presidência da Argentina com a promessa de trazer o país de volta à normalidade. "Proponho um sonho, quero uma Argentina normal, com esperança e otimismo. Quero que sejamos um país sério, com instituições fortalecidas", disse em discurso de quase uma hora no Congresso.
Kirchner chega ao poder de um país que, além da crise econômica, enfrentou uma crise institucional. Após a renúncia de Fernando de la Rúa, em dezembro de 2001, passaram pela Casa Rosada (sede do governo) quatro presidentes. Eduardo Duhalde, conduzido à Presidência pelo Congresso em janeiro de 2002, foi obrigado a antecipar a eleição, inicialmente prevista para outubro.
Um processo eleitoral que, aliás, não foi concluído de forma normal. Carlos Menem, que venceu no primeiro turno com 24,4% dos votos, desistiu da disputa no segundo turno, levando Kirchner automaticamente ao poder com apenas 22,2% da votação.
Kirchner, que na última semana causou polêmica ao declarar que "a Argentina vive sem o FMI (Fundo Monetário Internacional)", disse que a dívida externa, apesar de ser um "problema central", não será prioridade.
"Não se pode voltar a pagar a dívida às custas da fome e da exclusão dos argentinos, gerando mais pobreza e conflito social. Os próprios credores têm de entender que só poderão cobrar se a Argentina estiver bem", disse.
"Não se trata de não cumprir, de não pagar. Não temos o projeto de um default (moratória). Mas tampouco podemos pagar às custas de que os argentinos, cada vez mais, sejam restringidos de uma moradia digna, de um trabalho seguro e da educação dos seus filhos. Crescendo a nossa economia, cresce a nossa capacidade de pagamento", disse.
Kirchner disse, porém, que pretende controlar os gastos públicos, manter o peso em flutuação e adotar uma meta de superávit primário -diferença entre receitas e gastos do governo-, como exige o FMI.

Economia
Kirchner voltou a criticar a política econômica adotada pelo governo do ex-presidente Menem (1989-1999), quando o peso tinha paridade cambial com o dólar. "O êxito dessa política foi dar ganhos aos grupos mais concentrados da economia, aumentar os investimentos especulativos, sem que houvesse preocupação com o aumento da pobreza e com exclusão social de milhões de argentinos, além da fragmentação nacional e do endividamento externo."
O presidente afirmou que não irá repetir esse tipo de erro e que a sua prioridade será a "reconstrução do capitalismo nacional", que, segundo ele, permitirá a retomada do desenvolvimento da indústria local e o aumento da oferta de emprego. "Mas isso não significa que a Argentina irá se fechar para o mundo. Temos que ampliar o nosso comércio internacional e vender produtos com maior valor agregado.
A recuperação da economia também não se dará com "jogadas mágicas ou messiânicas", de acordo com Kirchner. "Um governo não deve distinguir-se pelo discurso de seus funcionários e sim pelas ações de sua equipe."
"O objetivo básico da política econômica será o de assegurar um crescimento estável, que permita uma expansão da atividade e do emprego", disse, lembrando que pretende dobrar a produção de riqueza do país em 15 anos. "Nossas possibilidades giram em torno de uma melhor qualidade institucional e uma economia séria e com credibilidade."
O investimento público será a primeira arma de Kirchner para reativar a economia. Inicialmente, a intenção é investir em obras de infra-estrutura e construção de casas populares.

Mercosul
Kirchner voltou a afirmar que a prioridade da política externa da Argentina será a América Latina e que o Mercosul deve ser um projeto de política regional. "Queremos construir um Mercosul politicamente estável, próspero e unido, baseado nos ideais da democracia e justiça social", disse o presidente no discurso.
Kirchner afirmou que pretende cobrar mais ação da Justiça e reduzir a impunidade. "Há impunidade na Argentina. Em nosso país, cumprir a lei não dá prêmios nem reconhecimento social. Vivemos numa sociedade com elevados índices de desigualdade, empobrecimento, desintegração familiar e falta de horizonte para a juventude", disse.

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