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ONU adia voto
de imunidade
para americanos
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O Conselho de Segurança da
ONU adiou indefinidamente a
votação de uma resolução que daria a soldados dos EUA que participam de missões de paz imunidade a processos no Tribunal Penal Internacional, segundo disse
ontem um diplomata americano.
O texto, que organizações de defesa dos direitos humanos classificaram de "vexatório" por conta
do escândalo gerado pela tortura
de presos no Iraque, deveria ter sido votado na sexta ou anteontem.
De acordo com especialistas em
direito internacional ouvidos pela
Folha, o adiamento da votação
não foi uma surpresa. "Após as
fotos de abusos na prisão de Abu
Ghraib, ficou bem mais difícil para Washington obter imunidade
para seus militares", avaliou Anthony Clark Arend, da Universidade Georgetown (EUA).
"É bem provável que o adiamento seja uma manobra diplomática dos EUA, que, no momento em que negociam uma nova resolução sobre o Iraque, não querem correr o risco de melindrar
outros países, como a França e a
Alemanha. Para líderes europeus,
seria complexo explicar à população por que aceitaram dar imunidade a soldados americanos."
Na semana passada, os EUA
afirmaram que queriam a aprovação do texto em breve, já que uma
resolução similar prescreverá no
final de junho. "Os EUA só admitiram retirar o texto da pauta do
CS porque sabiam que a oposição
era muito forte", apontou Arend.
Entre os 15 países do CS ao menos quatro -o Brasil, a França, a
Alemanha e a Espanha- indicaram que se absteriam. Outros
dois, o Benin e a Romênia, também poderiam fazê-lo. Os seis
países são signatários do Estatuto
de Roma (1998), que criou o TPI.
Os EUA não firmaram o texto. O
CS tem cinco membros permanentes: os EUA, o Reino Unido, a
China, a Rússia e a França.
Allan Ryan, da Universidade
Harvard (EUA), lembrou que,
mesmo que os EUA fossem signatários do estatuto, "o TPI só poderia ser acionado se a Justiça -civil ou militar- americana não
pudesse ou não quisesse analisar
os supostos crimes cometidos por
militares do país no exterior".
"Os EUA se opõem ao TPI. Teoricamente, seus militares não precisariam ser julgados em Haia, já
que a Justiça americana teria primazia. Contudo os EUA temem a
politização de algum caso em que
sua Justiça considere o suposto
criminoso inocente", disse Ryan.
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