São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 2006

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Uribe vê melhora de indicadores e a relaciona a nível de segurança

Para analista, custo fiscal e moral de priorizar o combate às guerrilhas é alto

CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A BOGOTÁ

Em mais um trunfo a favor da reeleição de Álvaro Uribe à Presidência da Colômbia na votação deste domingo, um balanço dos quatro anos de seu governo mostra reativação econômica, aumento dos investimentos privados e melhora dos principais indicadores sociais.
Mas muitos analistas vêem uma situação fiscal complicada e insustentável no longo prazo devido aos altos gastos na luta contra grupos armados, em especial as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Em larga medida beneficiada pela perda de competitividade do dólar, a economia colombiana cresceu 5,2% em 2005 -mais do que o dobro do registrado há quatro anos e a melhor taxa nos últimos dez anos.
As exportações aumentaram de US$ 12 bilhões em 2002 para US$ 21 bilhões em 2005. E, no mesmo período, o crescimento dos investimentos privados foi de 15%, segundo o governo.
A reativação provocou uma queda do desemprego para 11,8%, enquanto a taxa de pobreza caiu de 60% a 49% - ainda que, nesse caso, a oposição diga que o índice só diminuiu graças a uma mudança na fórmula de cálculo pelo governo.
Endossando a tese de Uribe de que a melhora na segurança necessariamente beneficia o país economica e socialmente, analistas avaliam que a política de "segurança democrática" influiu nesse quadro.
"A política de segurança influi positivamente nesse quadro econômico porque melhorou as expectativas dos investidores nacionais e estrangeiros", afirma o economista e analista militar Alfredo Rangel.
Já Hernando Gomes Buendía, um dos principais analistas políticos colombianos, questiona o impacto. "A Colômbia está crescendo por fatores internacionais, ajudada pela economia chinesa e a situação do dólar. Mas na verdade é o segundo país de crescimento mais lento na América Latina no ano passado. Ou seja, se recupera menos do que a média da região."
Mas reconhece que o argumento "tem alguma validade": "O que houve foi um aumento do controle do território, e isso faz com que a guerrilha diminua seus ataques e que diminui a criminalidade, o que gera mais tranqüilidade e permite que haja maior investimento".

Populismo
Gomes Buendía também faz críticas à política social uribista. "A Colômbia sempre teve uma política social tradicional, ortodoxa, com programas bem desenhados para os setores de educação e saúde. Isso na Colômbia é bastante institucionalizado. A esses programas Uribe não acrescentou nada. Deixou que seguissem a força da inércia porque a prioridade é a guerra [contra as Farc]", diz.
"O novo que Uribe fez foi incluir um ingrediente populista. É pessoalmente o presidente quem intervém e distribui os subsídios, percorrendo os departamentos e municípios."
Rangel discorda. "Há ocasiões em que o presidente efetivamente reparte subsídios para as pessoas mais pobres, para os idosos, mas comparando isso com o que se faz institucionalmente, creio que são ações mais simbólicas e mais marginais."

Custos
A questão dos custos -financeiros e políticos- da prioridade dada pelo governo ao combate à guerrilha também preocupa os analistas. Seguindo uma tendência de alta desde 1990, o gasto de defesa corresponde hoje a 4% do PIB -tradicionalmente, não superava 2%.
"Há muitas perguntas sobre se esse gasto é sustentável", diz Gomes Buendía. "O outro grande custo é o de uma sociedade que se concentra em derrotar um de seus inimigos e para isso tolera ou se alia implicitamente com outra série de bandidos", acrescentou, em referência à aproximação de Uribe com os grupos paramilitares de direita.


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