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Uribe vê melhora de indicadores e a relaciona a nível de segurança
Para analista, custo fiscal e moral de priorizar o combate às guerrilhas é alto
CAROLINA VILA-NOVA
ENVIADA ESPECIAL A BOGOTÁ
Em mais um trunfo a favor da
reeleição de Álvaro Uribe à Presidência da Colômbia na votação deste domingo, um balanço
dos quatro anos de seu governo
mostra reativação econômica,
aumento dos investimentos
privados e melhora dos principais indicadores sociais.
Mas muitos analistas vêem
uma situação fiscal complicada
e insustentável no longo prazo
devido aos altos gastos na luta
contra grupos armados, em especial as Farc (Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia).
Em larga medida beneficiada
pela perda de competitividade
do dólar, a economia colombiana cresceu 5,2% em 2005
-mais do que o dobro do registrado há quatro anos e a melhor
taxa nos últimos dez anos.
As exportações aumentaram
de US$ 12 bilhões em 2002 para
US$ 21 bilhões em 2005. E, no
mesmo período, o crescimento
dos investimentos privados foi
de 15%, segundo o governo.
A reativação provocou uma
queda do desemprego para
11,8%, enquanto a taxa de pobreza caiu de 60% a 49% - ainda que, nesse caso, a oposição
diga que o índice só diminuiu
graças a uma mudança na fórmula de cálculo pelo governo.
Endossando a tese de Uribe
de que a melhora na segurança
necessariamente beneficia o
país economica e socialmente,
analistas avaliam que a política
de "segurança democrática" influiu nesse quadro.
"A política de segurança influi positivamente nesse quadro econômico porque melhorou as expectativas dos investidores nacionais e estrangeiros", afirma o economista e
analista militar Alfredo Rangel.
Já Hernando Gomes Buendía, um dos principais analistas
políticos colombianos, questiona o impacto. "A Colômbia está
crescendo por fatores internacionais, ajudada pela economia
chinesa e a situação do dólar.
Mas na verdade é o segundo
país de crescimento mais lento
na América Latina no ano passado. Ou seja, se recupera menos do que a média da região."
Mas reconhece que o argumento "tem alguma validade":
"O que houve foi um aumento
do controle do território, e isso
faz com que a guerrilha diminua seus ataques e que diminui
a criminalidade, o que gera
mais tranqüilidade e permite
que haja maior investimento".
Populismo
Gomes Buendía também faz
críticas à política social uribista. "A Colômbia sempre teve
uma política social tradicional,
ortodoxa, com programas bem
desenhados para os setores de
educação e saúde. Isso na Colômbia é bastante institucionalizado. A esses programas Uribe não acrescentou nada. Deixou que seguissem a força da
inércia porque a prioridade é a
guerra [contra as Farc]", diz.
"O novo que Uribe fez foi incluir um ingrediente populista.
É pessoalmente o presidente
quem intervém e distribui os
subsídios, percorrendo os departamentos e municípios."
Rangel discorda. "Há ocasiões em que o presidente efetivamente reparte subsídios para
as pessoas mais pobres, para os
idosos, mas comparando isso
com o que se faz institucionalmente, creio que são ações mais
simbólicas e mais marginais."
Custos
A questão dos custos -financeiros e políticos- da prioridade dada pelo governo ao combate à guerrilha também preocupa os analistas. Seguindo
uma tendência de alta desde
1990, o gasto de defesa corresponde hoje a 4% do PIB -tradicionalmente, não superava 2%.
"Há muitas perguntas sobre
se esse gasto é sustentável", diz
Gomes Buendía. "O outro grande custo é o de uma sociedade
que se concentra em derrotar
um de seus inimigos e para isso
tolera ou se alia implicitamente
com outra série de bandidos",
acrescentou, em referência à
aproximação de Uribe com os
grupos paramilitares de direita.
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