São Paulo, quinta, 26 de junho de 1997.



Próximo Texto | Índice

PERSONALIDADE
Oceanógrafo francês, cujas expedições popularizaram o mergulho, sofreu problema cardíaco em sua casa
Jacques Cousteau morre aos 87 em Paris

MARTA AVANCINI
de Paris

Jacques Cousteau partiu para o mundo do silêncio. Foi assim que a família anunciou, na manhã de ontem, a morte do oceanógrafo francês. Cousteau, que tinha 87 anos, morreu às 2h30 de ontem (21h30 de anteontem) em sua casa, em Paris, devido a complicações cardíacas decorrentes de problemas respiratórios.
Havia alguns tempo ele passava por tratamento médico e chegou a ser internado, cinco meses atrás. Recentemente, estava em fase de recuperação em casa.
Ao longo de quase 50 anos, Cousteau criou uma obra pela qual foi elogiado e criticado.
O motivo das duas reações é o mesmo: a popularização do mundo submarino por meio de seus nove longas-metragens, 50 livros e inúmeras produções para a TV.
Os elogios vêm de seu pioneirismo na exploração do então desconhecido mundo do mar, ainda nos anos 50, possibilitado por aparelhos e equipamentos inventados por ele próprio, como o aqualung (conjunto do tubo de ar, válvula e respirador), que permitiu mergulhos autônomos. A invenção, em parceria com engenheiros, ocorreu em 1943, quando ele era da Marinha.
Palma de Ouro e Oscar
Foi também por causa do mar que ele recebeu uma Palma de Ouro no festival de Cannes em 1956 e um Oscar no ano seguinte.
O filme "O Mundo do Silêncio", realizado em conjunto com Louis Malle (então um jovem cineasta), trouxe para a grande tela, pela primeira vez, imagens do fundo do mar colhidas em uma exploração do mar Vermelho -sua primeira campanha, realizada em 1952.
Os críticos, por sua vez, o acusam de ter transformado o fundo do mar em um evento de mídia e de ter sido superficial em suas contribuições aos diversos domínios que abordou -oceanografia, a biologia marinha e a arqueologia marinha, entre outros. Cousteau, suas roupas azuis, seu gorro vermelho e o barco Calypso se tornaram suas "marcas registradas".
Conhecido como o "agente de publicidade" do mar, Cousteau construiu um império financeiro: a Fundação Cousteau, na França, e a Sociedade Cousteau, nos EUA, responsáveis pelo financiamento e administração das expedições, pela exploração comercial dos produtos associados a ele e pela difusão das idéias do capitão.
A amplitude e diversidade de interesses são outras características que tornaram Cousteau internacionalmente famoso. Ele se dedicou à exploração científica e passou, nos anos 80, a atuar na defesa do meio ambiente e no combate aos testes nucleares.
Proximidade com o mar
Sua paixão pelo mar veio da infância. Nascido em Saint-André de Cubzac em 11 de junho de 1910, Cousteau foi criado em Marselha, cidade portuária do sul da França.
Apesar disso, o oceano se tornou seu principal foco de interesses depois que um acidente de carro, nos anos 30, o impediu de se tornar piloto de aviões.
Ele tinha terminado os estudos na Escola Naval de Brest e na Escola de Aviação Marítima. Foi nessa época ainda (1937), que ele se casou com Simone Melchior, sua primeira mulher. Durante a Segunda Guerra Mundial, atuou na resistência ao nazismo.
Nada tira de Cousteau o mérito de ter atraído a atenção de pelo menos três gerações para o mundo submarino e a natureza, de ter colaborado para o desenvolvimento da consciência ambiental e contribuído para o desenvolvimento da pesquisa oceanográfica.
Por suas contribuições, Cousteau, sempre citado em pesquisas como um dos homens mais populares da França, foi incorporado à Academia Francesa, em 1988.
Ele será homenageado na segunda na catedral de Notre-Dame, em Paris, e enterrado no mesmo dia.



Próximo Texto | Índice



Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita do Universo Online ou do detentor do copyright.