São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

Próximo Texto | Índice

ORIENTE MÉDIO

Presidente da ANP evita choque com Bush e promete para hoje data de pleito; conferência de paz está descartada

Arafat se diz líder palestino e acata eleições

DA REDAÇÃO

O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Iasser Arafat, afirmou ontem que apenas o "povo palestino pode escolher seu líder" e o líder é ele. Mas, acatando uma das exigências feitas anteontem no discurso do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, seu governo anunciou ontem que irá divulgar hoje a data de eleições presidenciais nos territórios palestinos.
O presidente americano condicionou a criação de um Estado palestino provisório a uma mudança na liderança palestina. Em nenhum momento do discurso ele citou Arafat, mas disse que o atual governo palestino "encoraja o terror" e deve ser substituído.
Arafat preferiu não entrar em colisão com Bush nas suas declarações ontem e insistiu, conforme havia feito no dia anterior, que o presidente não o criticou no seu discurso. Tentando ignorar a exigência dos EUA para uma "nova e diferente liderança palestina", Arafat disse que Bush pediu a realização de eleições e reformas na ANP e que isso será feito.
Saeb Erekat, principal negociador palestino, disse que serão anunciadas hoje as datas das eleições presidenciais, legislativas e municipais nos territórios palestinos. O pleito deve acontecer entre o fim deste ano e o início do próximo. Arafat foi eleito presidente palestino em 1996, mas seu mandato já se encerrou. Segundo ele, não foram realizadas novas eleições devido à eclosão da Intifada (levante palestino contra a ocupação israelense), iniciada em setembro de 2000.
No lado norte-americano, o "New York Times" afirmou que os EUA descartaram a realização de uma conferência de paz para o Oriente Médio, que era antes um dos principais pilares da política de Bush para a região.
Já o secretário de Estado Colin Powell afirmou que os EUA respeitarão a escolha que os palestinos fizerem nas urnas. "Se eles escolherem Arafat, iremos lidar com a situação", disse Powell.
Apesar de pedir uma nova liderança, os EUA "ainda reconhecem Arafat como líder e espera que ele combata o terror", disse Richard Boucher, porta-voz do Departamento de Estado.

Repercussão
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, foi um dos mais duros críticos do discurso de Bush, afirmando que pode produzir mais violência na região. "Podemos enfrentar uma situação na qual radicais podem ser eleitos, sendo esse o resultado do processo democrático, e teremos de aceitar isso."
O chanceler britânico, Jack Straw, disse que o Reino Unido continuará negociando com Arafat se ele for eleito. O chefe da diplomacia da União Européia, Javier Solana, disse que ajudará os palestinos a organizar o pleito.
O ministro das Relações Exteriores francês, Dominique de Villepin, disse, após se reunir com Arafat em Ramallah, que seu país o reconhece como líder palestino.
Os dois principais aliados árabes dos EUA no Oriente Médio não fizeram críticas ao discurso de Bush. O presidente do Egito, Hosni Mubarak, disse que a nova política de Bush para o Oriente Médio é "balanceada, mas precisa ser mais bem detalhada". Ele não fez comentários sobre Arafat.
O governo da Jordânia, também sem citar o líder palestino, disse que o discurso de Bush pode ajudar na solução conflito.
Os grupos extremista palestinos Hamas e o Jihad Islâmico atacaram a "arrogância dos EUA".


Com agências internacionais


Próximo Texto: Israel ocupa Hebron e mata quatro policiais da ANP
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.