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São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003

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ENTORPECENTES

Segundo a ONU, 200 milhões de pessoas usaram drogas no período 2000-2001; maconha é substância mais usada

Cresce uso de drogas ilegais no mundo

ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO

O uso de drogas ilícitas no mundo vem crescendo, apesar dos esforços mundiais de controle. Segundo dados de um relatório do Escritório da ONU de Combate às Drogas e ao Crime (Unodc), divulgado ontem, 4,7% da população mundial acima de 15 anos consumiu drogas ilegais no período 2000-2001 -contra 4,3% na média do período 1998-2000.
Em números absolutos, o uso de drogas ilícitas cresceu, entre os dois períodos, de 185 milhões para 200 milhões de pessoas.
A principal razão desse aumento foi o crescimento no número de usuários de maconha (de 147,4 milhões para 162,8 milhões de pessoas), que continua sendo a droga mais largamente utilizada no mundo.
Para o representante da Unodc no Brasil e no Cone Sul, o italiano Giovanni Quaglia, 52, o aumento no número de usuários de drogas não deve ser considerado um fracasso das políticas proibicionistas.
"Quando comparamos com o consumo global de tabaco e álcool, que é de 40% e 60%, respectivamente, vemos que esses 4,7% de consumo de drogas ilegais são um percentual pequeno", disse, acrescentando que uma eventual descriminação ou legalização poderia elevar consideravelmente esse percentual.
"Esse aumento de 0,4 ponto percentual é um alerta",disse ele. "Não dá para banalizar as drogas consideradas mais leves, como a maconha, o ecstasy ou as anfetaminas, porque o aumento verificado no consumo recente foi principalmente em relação a essas drogas, que são mais banalizadas pela sociedade", afirmou.
De acordo com o relatório, 50% dos países do mundo relataram um aumento no uso de maconha em 2001, contra apenas 14% que registraram uma queda. No caso das anfetaminas e do ecstasy, o percentual de países que registraram aumento no uso foi de 46% e 33%, respectivamente.
Para Quaglia, o relatório mostra que a situação hoje "está sob controle". "A pressão social e a pressão legal conseguiram manter o consumo dentro de patamares relativamente baixos", disse. "Os problemas hoje podem ser, de alguma forma, tratados dentro dos sistemas de saúde e de educação dos diferentes países."
Os EUA permanecem como os principais consumidores de maconha e cocaína no mundo, mas, ao contrário da tendência mundial, o consumo no país parou de crescer. No caso da cocaína, pesquisas nos EUA mostram que o uso em 2002 foi 15% menor que em 1998 e cerca de 60% menor que em 1985. O abuso no consumo da maconha, por sua vez, caiu cerca de 10% em relação a 1997 e 30% em relação ao fim dos anos 1970.

Drogas sintéticas
O consumo de drogas sintéticas, como anfetaminas e ecstasy, permaneceu estável em relação ao ano passado, segundo o relatório, interrompendo uma tendência de aumento verificada nos anos anteriores. O aumento no consumo das drogas sintéticas é considerado preocupante pela facilidade com que elas são produzidas, já que não são necessárias grandes áreas de plantações como para a produção das drogas tradicionais.
As drogas sintéticas são consideradas hoje pela Unodc como "o inimigo público número um". "Ao contrário das drogas tradicionais, feitas à base de plantas, as drogas sintéticas são feitas com produtos químicos facilmente obtidos, em laboratórios improvisados", disse Antonio Maria Costa, diretor-executivo da Unodc, em Viena. Segundo ele, isso torna o combate "muito mais difícil".
Para Giovanni Quaglia, o uso das drogas sintéticas hoje é "uma questão de moda". "Assim como vimos, nos anos 1960, o crescimento do uso de LSD e heroína ligado ao movimento hippie, hoje há a cultura da música tecno, que incentiva o uso de drogas como o ecstasy", afirmou. "Essa situação preocupa, porque vai mudar o paradigma do combate às drogas. A prevenção vai ganhar uma importância muito maior do que a repressão", disse Quaglia.


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