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REPRESSÃO
Durante onda de repressão na ilha, regime desmantela coleções de livros e detém 14 bibliotecários voluntários
Cuba fecha 22 bibliotecas independentes
PAULO A. PARANAGUA
DO "LE MONDE"
Em Cuba, a paixão pela leitura
pode ser perigosa. Durante a onda
de repressão iniciada em abril, 22
bibliotecas independentes, acusadas de subversão, foram desmanteladas pelo regime.
Entre os 14 bibliotecários voluntários detidos, José Garcia Paneque foi condenado a 24 anos de
prisão. Isso não impediu a biblioteca Liberdade e Democracia de
abrir suas portas ao público na segunda-feira, 21 de julho, em um
domicílio particular em Reparto
Avila, na Província de Camaguey,
oferecendo 300 livros.
Apesar do revés sofrido, as bibliotecas "em casa" continuam a
funcionar abertamente (www.bibliocuba.org). O endereço e os
nomes dos responsáveis pela Liberdade e Democracia estão disponíveis, igualmente, no site da
agência extra-oficial de notícias
Cubanet.
Um dos iniciadores do movimento, Ramón Humberto Colas,
de passagem por Paris, se lembra
de como tudo começou. "Durante a Feira Internacional do Livro,
em 1998, em Havana, Fidel Castro
declarou que, em Cuba, não existiam livros proibidos, mas sim falta de dinheiro para adquiri-los".
Berta Mexidor e Ramón Colas
decidiram, então, "seguir as palavras" do ditador e criaram a primeira biblioteca pública em casa,
em Las Tunas, sob os auspícios do
padre Félix Varela, um dos pensadores essenciais do século 19, em
Cuba.
Não demorou muito para que a
casa atraísse 1.500 visitantes. García Paneque foi o primeiro leitor,
antes de pagar caro pelo prazer de
desfrutar da leitura.
Apoio europeu
"Ler é um direito", relembra Ramón Colas, que insiste em uma
das condições requeridas pelos
animadores do projeto: "Não se
pode, de maneira nenhuma, ocultar a biblioteca. Tudo deve ficar
bem visível".
Os cubanos que vivem no exílio
e visitam suas famílias esporadicamente, os turistas e certas embaixadas -a dos Estados Unidos,
a da Holanda, a da Espanha, a da
República Tcheca e a da Suécia-
enriqueceram as estantes com várias obras em espanhol.
Os diários espanhóis "El País"
"El Mundo" e "ABC", além do
"Nuevo Heraldo" (editado pelo
"Miami Herald"), atraem leitores
acostumados à linguagem ideológica do "Granma", o jornal oficial
do Partido Comunista de Cuba.
No filme "Morango e Chocolate", ficava claro que os livros do
peruano Mario Vargas Llosa, que
rompeu com o castrismo, tinham
de circular às escondidas. Dez
anos mais tarde, pouca coisa mudou na ilha.
Os escritores exilados, cujos nomes há muito foram excluídos
das obras de referência, como o
"Dicionário da Literatura Cubana", ganharam direito a homenagens póstumas ou a edições de tiragem reduzida, como a do admirável "El Monte", da antropóloga
Lydia Cabrera. O romancista Guillermo Cabrera Infante continua a
ser o maior inimigo dos inquisidores cubanos.
Contratado como pesquisador
pela Universidade de Miami, Ramón Colas veio à Europa procurar apoio. "Se for a Cuba, leve um
livro", pede ele aos viajantes. Recebido no Ministério das Relações
Exteriores francês, ele solicitou
doações de clássicos e de livros didáticos franceses para as bibliotecas independentes.
Seguindo uma diretriz da União
Européia, as autoridades francesas reordenaram sua cooperação
e suspenderam a concessão de assistência à polícia cubana. Será
que a combativa diplomacia francesa apoiará o embrião de uma
sociedade civil, preferindo formar
bibliotecários a policiais?
No auge da ofensiva da coalizão
anglo-americana contra o regime
de Saddam Hussein, outro ditador, o cubano Fidel, viu uma
oportunidade para dar início a
uma onda de repressão à oposição. Esta resultou na prisão de 75
dissidentes e na execução sumária
de três homens acusados de sequestrar uma embarcação para
tentar fugir do país.
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