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São Paulo, sábado, 26 de julho de 2003

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Washington critica força européia

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Os EUA acusaram ontem um grupo de países da União Européia de tentar competir com a Otan (aliança militar ocidental) no que se refere à segurança do continente europeu ao buscar fomentar uma maior integração militar dentro do bloco.
Chamando a proposta de "contrária a uma relação de cooperação entre a aliança e a UE", o embaixador dos EUA na Otan, Nicholas Burns, afirmou que as duas instituições deveriam trabalhar lado a lado, "como parceiras".
Em 29 de abril, a França, a Alemanha, a Bélgica e Luxemburgo propuseram que a UE deveria ter seu próprio aparato militar de planejamento e de comando, que seria utilizado em operações em que a Otan não estivesse envolvida. À época, a iniciativa pareceu ser só um gesto político, já que os quatro países eram contrários à Guerra do Iraque, mas a Bélgica decidiu, na semana passada, sugerir a concretização do projeto.
De acordo com especialistas consultados pela Folha, os quatro Estados europeus não estavam apenas blefando quando divulgaram sua intenção de reforçar o aparato de segurança europeu.
"Não há novidade no fato de a UE querer dotar-se de uma força de reação rápida. A diferença é o modo como o projeto poderá avançar agora, pois os europeus parecem ter percebido que a Otan é uma instituição desvalorizada e controlada pelos EUA", avaliou Sami Makki, especialista em defesa da Escola de Estudos Superiores em Ciências Sociais (Paris).
Para Charles Kupchan, do Conselho de Relações Internacionais (Washington), alemães e franceses "já se deram conta de que os interesses europeus nem sempre correspondem aos americanos". "Com o tempo, a toda a UE perceberá que os EUA têm sua agenda própria e não pretendem debater seus interesses com "parceiros"."
"A tendência é que o bloco europeu leve adiante seu plano de montar uma estrutura de segurança confiável. Afinal, dependendo do caso, A UE não conseguiria persuadir os EUA da necessidade de uma ação da Otan. Isso é um componente do processo de distanciamento dos parceiros históricos", acrescentou Kupchan.
Todavia, por enquanto, os EUA ainda contam com aliados de peso dentro da UE, como o Reino Unido. Este não aceita nenhuma iniciativa européia que possa levar os americanos a investir menos na segurança européia.
Ademais, há membros da UE que são contrários à sua militarização, como a Finlândia e a Suécia, e outros que defendem o fortalecimento da Otan, como a Holanda e a Dinamarca. Assim, ao menos por ora, Washington não precisa preocupar-se tanto com a "concorrência militar européia".


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