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Washington critica força européia
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Os EUA acusaram ontem um
grupo de países da União Européia de tentar competir com a
Otan (aliança militar ocidental)
no que se refere à segurança do
continente europeu ao buscar fomentar uma maior integração
militar dentro do bloco.
Chamando a proposta de "contrária a uma relação de cooperação entre a aliança e a UE", o embaixador dos EUA na Otan, Nicholas Burns, afirmou que as duas
instituições deveriam trabalhar
lado a lado, "como parceiras".
Em 29 de abril, a França, a Alemanha, a Bélgica e Luxemburgo
propuseram que a UE deveria ter
seu próprio aparato militar de
planejamento e de comando, que
seria utilizado em operações em
que a Otan não estivesse envolvida. À época, a iniciativa pareceu
ser só um gesto político, já que os
quatro países eram contrários à
Guerra do Iraque, mas a Bélgica
decidiu, na semana passada, sugerir a concretização do projeto.
De acordo com especialistas
consultados pela Folha, os quatro
Estados europeus não estavam
apenas blefando quando divulgaram sua intenção de reforçar o
aparato de segurança europeu.
"Não há novidade no fato de a
UE querer dotar-se de uma força
de reação rápida. A diferença é o
modo como o projeto poderá
avançar agora, pois os europeus
parecem ter percebido que a Otan
é uma instituição desvalorizada e
controlada pelos EUA", avaliou
Sami Makki, especialista em defesa da Escola de Estudos Superiores em Ciências Sociais (Paris).
Para Charles Kupchan, do Conselho de Relações Internacionais
(Washington), alemães e franceses "já se deram conta de que os
interesses europeus nem sempre
correspondem aos americanos".
"Com o tempo, a toda a UE perceberá que os EUA têm sua agenda
própria e não pretendem debater
seus interesses com "parceiros"."
"A tendência é que o bloco europeu leve adiante seu plano de
montar uma estrutura de segurança confiável. Afinal, dependendo do caso, A UE não conseguiria persuadir os EUA da necessidade de uma ação da Otan. Isso
é um componente do processo de
distanciamento dos parceiros históricos", acrescentou Kupchan.
Todavia, por enquanto, os EUA
ainda contam com aliados de peso dentro da UE, como o Reino
Unido. Este não aceita nenhuma
iniciativa européia que possa levar os americanos a investir menos na segurança européia.
Ademais, há membros da UE
que são contrários à sua militarização, como a Finlândia e a Suécia, e outros que defendem o fortalecimento da Otan, como a Holanda e a Dinamarca. Assim, ao
menos por ora, Washington não
precisa preocupar-se tanto com a
"concorrência militar européia".
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