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Cristina segue versão light do chavismo
Para analistas, presidente argentina age com menos contundência que o venezuelano em sua guerra à mídia
Amplo apoio popular de Chávez e classe média argentina são outros fatores de diferenciação entre os governantes
GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES
A guerra entre o governo
de Cristina Kirchner e os jornais "Clarín" e "La Nación"
aponta para a aplicação, na
Argentina, de uma versão
"light" do modelo de intervenção sobre a mídia e a economia implementadas na
Venezuela pelo presidente
Hugo Chávez.
Na avaliação de analistas
ouvidos pela Folha, os governantes dos dois países
não têm uma base de apoio
semelhante e usam ferramentas distintas para implementar seus projetos.
Chávez, tem uma força política muito maior e, por isso,
toma decisões contrárias à liberdade de imprensa de forma mais "aberta, autoritária
e contundente" que o governo Kirchner, avalia o analista
da Universidade Torcuato Di
Tella, Sergio Berensztein.
"Chávez tem o apoio de
uma militância popular e da
inteligência cubana, enquanto os Kirchner são
apoiados por uma minoria",
afirma Berensztein.
Para o analista, a democracia é mais forte na Argentina e, principalmente, sua
classe média é "extremamente antiautoritária".
Mas ele acredita que a intimidação da mídia independente pode levar o país aum
"autoritarismo populista"
que elevará a tensão social.
Para o cientista político Julio Burdman, da Universidade de Belgrano, o governo de
Cristina deixa claro sua intenção ao agir contra os
meios de comunicação social
-usando concessões públicas e disputas acionárias para pressioná-las-, mas não
abandona as regras democráticas, como a Venezuela.
"Na Argentina, há uma
guerra explícita contra atores
concretos, como o grupo Clarín, mas não podemos dizer
que há ameaças à liberdade
de expressão dos jornalistas,
diretamente sobre o conteúdo publicado", diz.
ECONOMIA
Quanto às medidas econômicas tomadas pelos dois governos, Burdman vê uma estatização sem critérios e generalizada na Venezuela, enquanto Cristina optou por
reestatizar empresas de setores públicos e estratégicos,
como a Aerolineas, os fundos
previdenciários e a companhia de saneamento básico.
"Enquanto Chávez sai estatizando hotéis e joalherias,
com a intenção de estabelecer o socialismo, o governo
Kirchner nunca estatizou algo que já não tivesse sido do
Estado antes, e não quer
abandonar o sistema de mercado", diz Burdman.
Sobre a recente intensificação dos ataques da presidente à imprensa local, Berensztein afirma que o objetivo imediato é fragilizar os
meios independentes para as
eleições do próximo ano.
Anteontem, Cristina acusou os jornais "Clarín" e "La
Nación" de comprarem suas
partes na empresa de papel-jornal Papel Prensa, em 1976,
com a ajuda do regime militar argentino.
Ambos os veículos foram
denunciados por crimes contra a humanidade.
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