São Paulo, quinta-feira, 26 de agosto de 2010

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Cristina segue versão light do chavismo

Para analistas, presidente argentina age com menos contundência que o venezuelano em sua guerra à mídia

Amplo apoio popular de Chávez e classe média argentina são outros fatores de diferenciação entre os governantes


GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES

A guerra entre o governo de Cristina Kirchner e os jornais "Clarín" e "La Nación" aponta para a aplicação, na Argentina, de uma versão "light" do modelo de intervenção sobre a mídia e a economia implementadas na Venezuela pelo presidente Hugo Chávez.
Na avaliação de analistas ouvidos pela Folha, os governantes dos dois países não têm uma base de apoio semelhante e usam ferramentas distintas para implementar seus projetos.
Chávez, tem uma força política muito maior e, por isso, toma decisões contrárias à liberdade de imprensa de forma mais "aberta, autoritária e contundente" que o governo Kirchner, avalia o analista da Universidade Torcuato Di Tella, Sergio Berensztein.
"Chávez tem o apoio de uma militância popular e da inteligência cubana, enquanto os Kirchner são apoiados por uma minoria", afirma Berensztein.
Para o analista, a democracia é mais forte na Argentina e, principalmente, sua classe média é "extremamente antiautoritária".
Mas ele acredita que a intimidação da mídia independente pode levar o país aum "autoritarismo populista" que elevará a tensão social.
Para o cientista político Julio Burdman, da Universidade de Belgrano, o governo de Cristina deixa claro sua intenção ao agir contra os meios de comunicação social -usando concessões públicas e disputas acionárias para pressioná-las-, mas não abandona as regras democráticas, como a Venezuela.
"Na Argentina, há uma guerra explícita contra atores concretos, como o grupo Clarín, mas não podemos dizer que há ameaças à liberdade de expressão dos jornalistas, diretamente sobre o conteúdo publicado", diz.

ECONOMIA
Quanto às medidas econômicas tomadas pelos dois governos, Burdman vê uma estatização sem critérios e generalizada na Venezuela, enquanto Cristina optou por reestatizar empresas de setores públicos e estratégicos, como a Aerolineas, os fundos previdenciários e a companhia de saneamento básico.
"Enquanto Chávez sai estatizando hotéis e joalherias, com a intenção de estabelecer o socialismo, o governo Kirchner nunca estatizou algo que já não tivesse sido do Estado antes, e não quer abandonar o sistema de mercado", diz Burdman.
Sobre a recente intensificação dos ataques da presidente à imprensa local, Berensztein afirma que o objetivo imediato é fragilizar os meios independentes para as eleições do próximo ano.
Anteontem, Cristina acusou os jornais "Clarín" e "La Nación" de comprarem suas partes na empresa de papel-jornal Papel Prensa, em 1976, com a ajuda do regime militar argentino.
Ambos os veículos foram denunciados por crimes contra a humanidade.


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