São Paulo, quinta-feira, 26 de setembro de 2002

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ÁSIA

O país de regime comunista mais fechado do mundo anuncia adoção de área livre para investimento, no molde da abertura chinesa

Coréia do Norte terá "zona capitalista"

HOWARD W. FRENCH
DO "THE NEW YORK TIMES", EM TÓQUIO

Na mais significativa virada de política econômica desde que foi fundada, a Coréia do Norte, país de regime comunista mais fechado do mundo, anunciou que terá uma zona autônoma de investimento capitalista, que deverá ficar numa área perto da fronteira com a China, no noroeste do país.
Segundo a agência oficial norte-coreana, Pyongyang adotou uma legislação que prevê a criação de uma zona "comercial, industrial e financeira internacional" perto de Sinuiju, numa área de 320 km2.
O local deverá funcionar sem nenhuma intervenção do Estado por um período de 50 anos. Essa zona capitalista deverá procurar investimentos privados da China, do Japão, da Coréia do Sul e de países do Ocidente.
Para tanto, operará o seu próprio sistema legal e econômico e até expedirá passaportes. Estrangeiros não precisarão de visto. O governo, porém, construirá muros em volta da área para impedir a entrada de norte-coreanos.
Talvez a maior surpresa de todas seja a de que a zona especial econômica será dirigida pelo empresário chinês de cidadania holandesa Yang Bin, 39.
Dono de uma fortuna calculada em US$ 900 milhões pela revista "Forbes", principalmente de empreendimentos agrícolas e manufaturas, Yang costuma ir à Coréia do Norte com frequência em seu jato particular. É tido como confidente de Kim Jong-il, o ditador norte-coreano.
O empresário afirma que contratará ocidentais para dirigir a nova zona franca dentro de um modelo europeu. "Essa é uma tentativa de construir uma Hong Kong ao norte. Além disso, é um salto extraordinário para o país", afirma Marcus Noland, especialista em economia norte-coreana no Instituto de Economia Internacional, baseado em Washington.
Noland diz que a Coréia do Norte já tentou construir zonas de administração especial no passado, há cerca de uma década, na região de Rajin-Sonbong. Fracassou, principalmente, por falta de planejamento e de empenho.
Os planos de hoje, que envolvem um lugar perto da fronteira com a China, são ambiciosos.
"O grau de autonomia descrito pelos anúncios é, inclusive, maior do que a autonomia dada às zonas especiais chinesas das décadas de 70 e 80", afirma Noland. Ele chama a empreitada de a "maior aposta" de Kim Jong-il desde que ele sucedeu seu pai, há oito anos.
A Coréia do Norte também cogitou recentemente a possibilidade de instituir uma zona econômica conjunta com a Coréia do Sul. Chegou a dar permissão especial à Hyundai para operar lá.
A Hyundai pulou fora antes da instituição da zona. A Coréia do Norte, então, acabou suspendendo o plano, temendo uma excessiva interferência sul-coreana em sua economia.
A nova zona estará próxima de uma área na China em que os habitantes de etnia coreana são numerosos. Talvez isso se dê por causa do exemplo da China, que conseguiu o sucesso de suas zonas especiais com a colaboração e o investimento de chineses de Hong Kong e Taiwan.
Falta saber se os coreanos terão o mesmo talento dos chineses.
Depois de uma onda de fome que, segundo estimativas de organizações internacionais de defesa dos direitos humanos, custou a vida de mais de 2 milhões de norte-coreanos, Kim Jong-il parece ansioso em atrair capitais privados e criar um mercado misto capitalista-comunista, como na China e no Vietnã.

Japão
O Ministério das Relações Exteriores do Japão disse que enviará um grupo de investigadores à Coréia do Norte para recolher informações sobre o desaparecimento de cidadãos japoneses no país.
Kim Jong-il reconheceu, no início deste mês, que 13 japoneses foram sequestrados nos anos 70 e 80 por "elementos entre os militares". Ao menos oito desses 13 já teriam morrido, disse ele então.
O desaparecimento desses japoneses é uma das questões que emperram o restabelecimento de relações normais entre os dois países asiáticos.


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