|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ÁSIA
O país de regime comunista mais fechado do mundo anuncia adoção de área livre para investimento, no molde da abertura chinesa
Coréia do Norte terá "zona capitalista"
HOWARD W. FRENCH
DO "THE NEW YORK TIMES", EM TÓQUIO
Na mais significativa virada de
política econômica desde que foi
fundada, a Coréia do Norte, país
de regime comunista mais fechado do mundo, anunciou que terá
uma zona autônoma de investimento capitalista, que deverá ficar numa área perto da fronteira
com a China, no noroeste do país.
Segundo a agência oficial norte-coreana, Pyongyang adotou uma
legislação que prevê a criação de
uma zona "comercial, industrial e
financeira internacional" perto de
Sinuiju, numa área de 320 km2.
O local deverá funcionar sem
nenhuma intervenção do Estado
por um período de 50 anos. Essa
zona capitalista deverá procurar
investimentos privados da China,
do Japão, da Coréia do Sul e de
países do Ocidente.
Para tanto, operará o seu próprio sistema legal e econômico e
até expedirá passaportes. Estrangeiros não precisarão de visto. O
governo, porém, construirá muros em volta da área para impedir
a entrada de norte-coreanos.
Talvez a maior surpresa de todas seja a de que a zona especial
econômica será dirigida pelo empresário chinês de cidadania holandesa Yang Bin, 39.
Dono de uma fortuna calculada
em US$ 900 milhões pela revista
"Forbes", principalmente de empreendimentos agrícolas e manufaturas, Yang costuma ir à Coréia
do Norte com frequência em seu
jato particular. É tido como confidente de Kim Jong-il, o ditador
norte-coreano.
O empresário afirma que contratará ocidentais para dirigir a
nova zona franca dentro de um
modelo europeu. "Essa é uma
tentativa de construir uma Hong
Kong ao norte. Além disso, é um
salto extraordinário para o país",
afirma Marcus Noland, especialista em economia norte-coreana
no Instituto de Economia Internacional, baseado em Washington.
Noland diz que a Coréia do
Norte já tentou construir zonas de
administração especial no passado, há cerca de uma década, na região de Rajin-Sonbong. Fracassou, principalmente, por falta de
planejamento e de empenho.
Os planos de hoje, que envolvem um lugar perto da fronteira
com a China, são ambiciosos.
"O grau de autonomia descrito
pelos anúncios é, inclusive, maior
do que a autonomia dada às zonas
especiais chinesas das décadas de
70 e 80", afirma Noland. Ele chama a empreitada de a "maior
aposta" de Kim Jong-il desde que
ele sucedeu seu pai, há oito anos.
A Coréia do Norte também cogitou recentemente a possibilidade de instituir uma zona econômica conjunta com a Coréia do
Sul. Chegou a dar permissão especial à Hyundai para operar lá.
A Hyundai pulou fora antes da
instituição da zona. A Coréia do
Norte, então, acabou suspendendo o plano, temendo uma excessiva interferência sul-coreana em
sua economia.
A nova zona estará próxima de
uma área na China em que os habitantes de etnia coreana são numerosos. Talvez isso se dê por
causa do exemplo da China, que
conseguiu o sucesso de suas zonas
especiais com a colaboração e o
investimento de chineses de
Hong Kong e Taiwan.
Falta saber se os coreanos terão
o mesmo talento dos chineses.
Depois de uma onda de fome
que, segundo estimativas de organizações internacionais de defesa
dos direitos humanos, custou a
vida de mais de 2 milhões de norte-coreanos, Kim Jong-il parece
ansioso em atrair capitais privados e criar um mercado misto capitalista-comunista, como na China e no Vietnã.
Japão
O Ministério das Relações Exteriores do Japão disse que enviará
um grupo de investigadores à Coréia do Norte para recolher informações sobre o desaparecimento de cidadãos japoneses no país.
Kim Jong-il reconheceu, no início deste mês, que 13 japoneses foram sequestrados nos anos 70 e 80 por "elementos entre os militares". Ao menos oito desses 13 já
teriam morrido, disse ele então.
O desaparecimento desses japoneses é uma das questões que emperram o restabelecimento de relações normais entre os dois países asiáticos.
Texto Anterior: Arafat dorme no chão e come conservas em lata Próximo Texto: EUA mandarão enviado especial a Pyongyang Índice
|