São Paulo, terça-feira, 26 de outubro de 2004

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O IMPÉRIO VOTA - RETA FINAL

Possibilidade de que a presença de eleitores seja a maior desde 1968 eleva a chance de vitória do democrata, dizem analistas

Kerry torce por comparecimento em massa

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

A eleição presidencial americana será decidida pelo grau de comparecimento do eleitor às urnas. Segundo analistas, Quanto maior for esse afluxo, maiores as chances do democrata John Kerry vencer. Quanto menor, maior a possibilidade de reeleição do presidente George W. Bush.
A uma semana da votação, números e análises indicam um aumento das chances de Kerry.
A incógnita, no entanto, é saber qual dos grupos de eleitores, favoráveis a Kerry ou a Bush, estará mais disposto a sair de casa para votar na próxima terça-feira.
Em 2000, 105,3 milhões de eleitores votaram nos EUA, onde o voto não é obrigatório. Em termos percentuais, 51,16% das pessoas aptas a votar saíram de casa para exercer esse direito.
Com os eleitores divididos ao meio, Bush é o favorito em 2004 em uma projeção de comparecimento às urnas semelhante à de 2000, de cerca de 112 milhões de eleitores -levando em conta o crescimento demográfico.
Se o comparecimento ficar acima de 118 milhões, aumentam as chances para os democratas. Algumas análises estimam em até 121 milhões o total de eleitores que votarão neste ano, o que representaria 59% do total.
"A intensidade da participação do eleitorado nesta eleição é a maior desde 1968, durante a Guerra do Vietnã. Haverá até 15 milhões de eleitores a mais em todos os grupos demográficos, e isso deve beneficiar Kerry", afirma Curtis Gans, do apartidário Centro de Estudos do Eleitorado Americano.
Gans afirma que Bush se tornou "uma espécie de pára-raios" de americanos descontentes. "Resta saber se esse descontentamento tirará as pessoas anti-Bush de casa no dia da eleição."
Basicamente, as chances de Kerry aumentam pelo fato de o democrata ter margens maiores de apoio entre os principais grupos de novos eleitores, principalmente entre os mais jovens.
Também favorecem o democrata os latinos e os negros. Mas isso não quer dizer que o aumento do número de pessoas aptas a votar levará também a um comparecimento maior às urnas.
Do lado de Bush, por exemplo, o grupo que mais apóia o presidente é o chamado eleitor religioso conservador. Cerca de 4 milhões deles não votaram em 2000, e o foco da estratégia da Casa Branca nesta eleição tem sido convencê-los a sair de casa no próximo dia 2 de novembro.
Na hipótese extrema de os 4 milhões saírem para votar, eles anularão as vantagens de Kerry entre jovens e latinos, por exemplo.
Bush também é o favorito entre os militares e as pessoas que vivem em áreas rurais e subúrbios afastados, outros dois alvos principais dos republicanos.
Do lado de Kerry, a maior vantagem está no eleitorado jovem (abaixo de 30 anos). Em compensação, esse também é o eleitor mais arredio a sair para votar.
Pesquisa do Instituto de Política da Universidade Harvard mostra que Kerry tem 52% da preferência dos mais jovens, e Bush, 39%. Outros levantamentos revelam uma divisão maior.
"Esta eleição talvez seja a que os jovens mais terão participação", diz Andrew Kohut, do Centro de Pesquisas Pew. Em 2000, apenas 33% dos jovens entre 18 e 30 anos votaram. Mas, mesmo entre os jovens, não há uma tendência clara sobre quais eleitores, os de Kerry ou os de Bush, estão mais mobilizados. Nos centros urbanos, definitivamente são os de Kerry.
Do lado democrata, os votos latinos e dos negros também são considerados fundamentais.
Duas pesquisas recentes mostram que Bush dobrou, de 9% para 18%, o seu eleitorado negro. Mas Kerry mantém a preferência entre mais de 80%.
Entre os latinos, grupo de eleitores que mais cresce nos EUA, um aumento do número de votantes beneficiará Kerry. Desde 2000, os republicanos tem lutado, sem grande sucesso, para elevar os 35% de apoio que tiveram do grupo em 2000.
Depois de perder no voto popular em 2000, os republicanos iniciaram um esforço para registrar novos eleitores e, na semana passada, informaram ter registrado cerca de 3 milhões de pessoas.
Mas a mobilização democrata no mesmo sentido (os dados gerais ainda não estão disponíveis) pode ter anulado essa vantagem. Daí a importância do novo eleitor "espontâneo" nessa eleição.
Finalmente, restam os indecisos, estimados em 10% e concentrados em 11 Estados-chave.
Com exceção do Novo México e da Flórida, nove desse Estados já tiveram, em 2000, um percentual de comparecimento às urnas acima da média nacional, de 51,16%.
Não há consenso se o número de votantes no país subirá na mesma proporção nesses 11 Estados, fato que complica ainda mais prever os resultados.


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