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O IMPÉRIO VOTA - RETA FINAL
Possibilidade de que a presença de eleitores seja a maior desde 1968 eleva a chance de vitória do democrata, dizem analistas
Kerry torce por comparecimento em massa
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
A eleição presidencial americana será decidida pelo grau de
comparecimento do eleitor às urnas. Segundo analistas, Quanto
maior for esse afluxo, maiores as
chances do democrata John Kerry
vencer. Quanto menor, maior a
possibilidade de reeleição do presidente George W. Bush.
A uma semana da votação, números e análises indicam um aumento das chances de Kerry.
A incógnita, no entanto, é saber
qual dos grupos de eleitores, favoráveis a Kerry ou a Bush, estará
mais disposto a sair de casa para
votar na próxima terça-feira.
Em 2000, 105,3 milhões de eleitores votaram nos EUA, onde o
voto não é obrigatório. Em termos percentuais, 51,16% das pessoas aptas a votar saíram de casa
para exercer esse direito.
Com os eleitores divididos ao
meio, Bush é o favorito em 2004
em uma projeção de comparecimento às urnas semelhante à de
2000, de cerca de 112 milhões de
eleitores -levando em conta o
crescimento demográfico.
Se o comparecimento ficar acima de 118 milhões, aumentam as
chances para os democratas. Algumas análises estimam em até
121 milhões o total de eleitores
que votarão neste ano, o que representaria 59% do total.
"A intensidade da participação
do eleitorado nesta eleição é a
maior desde 1968, durante a
Guerra do Vietnã. Haverá até 15
milhões de eleitores a mais em todos os grupos demográficos, e isso deve beneficiar Kerry", afirma
Curtis Gans, do apartidário Centro de Estudos do Eleitorado
Americano.
Gans afirma que Bush se tornou
"uma espécie de pára-raios" de
americanos descontentes. "Resta
saber se esse descontentamento
tirará as pessoas anti-Bush de casa
no dia da eleição."
Basicamente, as chances de
Kerry aumentam pelo fato de o
democrata ter margens maiores
de apoio entre os principais grupos de novos eleitores, principalmente entre os mais jovens.
Também favorecem o democrata os latinos e os negros. Mas
isso não quer dizer que o aumento do número de pessoas aptas a
votar levará também a um comparecimento maior às urnas.
Do lado de Bush, por exemplo,
o grupo que mais apóia o presidente é o chamado eleitor religioso conservador. Cerca de 4 milhões deles não votaram em 2000,
e o foco da estratégia da Casa
Branca nesta eleição tem sido
convencê-los a sair de casa no
próximo dia 2 de novembro.
Na hipótese extrema de os 4 milhões saírem para votar, eles anularão as vantagens de Kerry entre
jovens e latinos, por exemplo.
Bush também é o favorito entre
os militares e as pessoas que vivem em áreas rurais e subúrbios
afastados, outros dois alvos principais dos republicanos.
Do lado de Kerry, a maior vantagem está no eleitorado jovem
(abaixo de 30 anos). Em compensação, esse também é o eleitor
mais arredio a sair para votar.
Pesquisa do Instituto de Política
da Universidade Harvard mostra
que Kerry tem 52% da preferência
dos mais jovens, e Bush, 39%. Outros levantamentos revelam uma
divisão maior.
"Esta eleição talvez seja a que os
jovens mais terão participação",
diz Andrew Kohut, do Centro de
Pesquisas Pew. Em 2000, apenas
33% dos jovens entre 18 e 30 anos
votaram. Mas, mesmo entre os jovens, não há uma tendência clara
sobre quais eleitores, os de Kerry
ou os de Bush, estão mais mobilizados. Nos centros urbanos, definitivamente são os de Kerry.
Do lado democrata, os votos latinos e dos negros também são
considerados fundamentais.
Duas pesquisas recentes mostram que Bush dobrou, de 9% para 18%, o seu eleitorado negro.
Mas Kerry mantém a preferência
entre mais de 80%.
Entre os latinos, grupo de eleitores que mais cresce nos EUA, um
aumento do número de votantes
beneficiará Kerry. Desde 2000, os
republicanos tem lutado, sem
grande sucesso, para elevar os
35% de apoio que tiveram do grupo em 2000.
Depois de perder no voto popular em 2000, os republicanos iniciaram um esforço para registrar
novos eleitores e, na semana passada, informaram ter registrado
cerca de 3 milhões de pessoas.
Mas a mobilização democrata
no mesmo sentido (os dados gerais ainda não estão disponíveis)
pode ter anulado essa vantagem.
Daí a importância do novo eleitor
"espontâneo" nessa eleição.
Finalmente, restam os indecisos, estimados em 10% e concentrados em 11 Estados-chave.
Com exceção do Novo México e
da Flórida, nove desse Estados já
tiveram, em 2000, um percentual
de comparecimento às urnas acima da média nacional, de 51,16%.
Não há consenso se o número
de votantes no país subirá na
mesma proporção nesses 11 Estados, fato que complica ainda mais
prever os resultados.
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