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São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2003

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ARGENTINA

Acusação é "disparate", diz ministro de Kirchner

Governo rebate denúncia sobre elo entre Casa Rosada e criminosos

CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES

O governo argentino qualificou ontem como um "disparate" e "irresponsável" o informe que denunciou a existência de milhares de chamadas entre repartições da Casa Rosada e telefones investigados por vinculação com crimes como sequestros e homicídios, entre 1997 e este mês. O relatório incluiu também o Ministério da Defesa e o Exército entre os registros. "Definitivamente, é um disparate", disse o ministro do Interior, Aníbal Fernández.
As denúncias constam de documento confidencial do procurador-geral da Suprema Corte de Justiça da Província de Buenos Aires, Eduardo Matías de la Cruz, que foi "vazado" para a imprensa no último fim de semana.
Com base no rastreamento de telefones de acusados em mais de 200 casos sob investigação pela Justiça argentina, o documento aponta pelo menos 700 chamadas feitas e recebidas por linhas do Ministério da Defesa e do Exército argentinos e outras 2.000 de linhas da Casa Rosada, sede do governo.
O presidente Néstor Kirchner não se pronunciou sobre o caso, mas colocou vários ministros na mídia local para defender o governo e atacar o documento.
"A lógica desse informe não permite tirar nenhum tipo de conclusão", disse o ministro da Justiça, Gustavo Béliz, para quem o documento não tem "sustentação". Já o ministro da Defesa, José Pampurro, qualificou o episódio como "confuso" e disse que não tinha confirmação de que as chamadas tenham sido realizadas.
Para os interlocutores do presidente, o episódio é uma "operação política" comandada pela polícia da Província da Buenos Aires -contra a qual Kirchner iniciou uma ofensiva, acusando-a de envolvimento na onda de sequestros que atingiu o país neste ano.
"Graças à denúncia, os diários deixaram de falar nos últimos dias da polícia e falam da casa do governo e do Exército", comentou Aníbal Fernández. O ministro afirmou que o documento tem um "grau de imprecisão assombroso" e considerou sua divulgação "irresponsável". Segundo os ministros, o governo fará uma investigação para apurar a veracidade das denúncias.
De la Cruz reagiu aos comentários dizendo que "quem fez esse trabalho foi o procurador e não a polícia da Província" e que não tem "nada a ver com brigas políticas internas". Ele reiterou que o período investigado abarca três governos anteriores - os dos ex-presidentes Eduardo Duhalde, Fernando de la Rúa e Carlos Menem.
"É difícil acreditar que haja pessoas que digam que isso não é relevante. Isso é muito grave. O que fiz foi mostrar aos governos nacional e provincial a ingerência de pessoas de organismos oficiais vinculadas a delitos", disse.


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