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São Paulo, quarta-feira, 26 de novembro de 2003

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COLÔMBIA

Para ex-guerrilheiro, governo Uribe ainda não informou qual é o estatuto jurídico e político dos desmobilizados

Pela 1ª vez, paramilitares depõem armas

DA REDAÇÃO

Em evento inédito na história colombiana e sob críticas de entidades de direitos humanos, 855 paramilitares das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia) depuseram ontem suas armas na cidade de Medellín. É a primeira desmobilização desde que o presidente Álvaro Uribe e o grupo terrorista de direita anunciaram em meados de julho o polêmico acordo, o qual prevê a extinção até 2005 das AUC, que contam com cerca de 13 mil homens.
A cerimônia, celebrada no centro de convenções de Medellín -a segunda cidade mais importante da Colômbia-, teve como auge a entrega de mais de 500 armas dos combatentes da Frente Cacique Nutibara, entre os quais se encontravam 48 crianças e adolescentes entre 10 e 17 anos, segundo o jornal "El Tiempo".
"Este é um grande passo e é apenas o início de outro longo caminho", disse o Alto Comissário de Paz do governo colombiano, Luis Carlos Restrepo, que anunciou que mais 150 paramilitares serão desmobilizados em dezembro.
Durante a cerimônia, os participantes assistiram a uma mensagem dos dois principais líderes das AUC, Salvatore Mancuso e Carlos Castaño. Ambos têm um pedido de extradição expedido pelos EUA por envolvimento com o narcotráfico.
Castaño, em trajes civis, disse que o processo de paz enfrenta "vacilações" dentro das AUC e reconheceu que as AUC cometeram "alguns excessos" durante o combate a guerrilhas de esquerda, principais adversários dos paramilitares. Ele é condenado à revelia a mais de 40 anos de prisão por participação em dois massacres.
Apesar disso, o governo dos EUA declarou que a desmobilização foi um "grande passo" para reduzir a violência no país, mas espera que o "processo funcione de fato e que os desmobilizados se mantenham desmobilizados".
Depois da cerimônia, os ex-combatentes entraram em diversos ônibus rumo a La Ceja, na região de Medellín, onde ficarão durante três semanas para receber atendimento psicológico e capacitação profissional.

Pontos obscuros
Em entrevista por telefone à Folha, o ex-guerrilheiro do M-19 Otto Patiño, 57, disse que se trata "de um processo estranho, cuja lógica não é fácil descobrir". Sua antiga organização, uma guerrilha de esquerda, foi desmobilizada em 1990, após acordo.
Para Patiño, diretor da ONG Observatório para a Paz, não estão claro qual é o estatuto jurídico nem o futuro político dos desmobilizados. "Não se sabe como os crimes de guerra e de narcotráficos serão tratados", disse.
Outro problema, segundo o ex-guerrilheiro, é a indefinição sobre o que fazer com as áreas controladas pelas AUC, onde a presença do Estado é inexistente.
"Em algumas regiões de Medellín, a ordem pública era inicialmente controlada por grupos ligados ao Pablo Escobar, que depois foram ocupadas pelas AUC. A ausência do Estado nesses lugares tem gerado vários tipos de experiência", disse Patiño.
As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), maior guerrilha terrorista de esquerda do país, disseram que o acordo foi uma "farsa grosseira".


Com agências internacionais

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