|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GUERRA SEM LIMITES
Amsterdã diz não saber se avião levava prisioneiros; Europa quer resposta sobre detenções clandestinas
Vôo suspeito da CIA pousou na Holanda
DA REDAÇÃO
O governo holandês confirmou
ontem que um avião da companhia Path Corporation, que presta
serviços para a CIA (agência de
inteligência dos EUA), aterrissou
no aeroporto internacional de
Amsterdã na semana passada.
A confirmação vem na esteira
de relatos publicados pela imprensa holandesa sobre a passagem de uma aeronave da CIA pelo país, possivelmente carregando
prisioneiros de guerra. No entanto um porta-voz do Ministério
das Relações Exteriores da Holanda afirmou que o governo não tinha nenhuma informação sobre
quem ou o que estava a bordo
desse avião que pousou em Schiphol, no último dia 17.
O ministério declarou ainda que
o avião da Path Corp. não requisitou autorização de alto nível para
a aterrissagem. "O Ministério das
Relações Exteriores só precisa
conceder autorização se diplomatas ou materiais perigosos estão a
bordo, e esse não foi o caso", disse
o porta-voz Herman van Gelderen. "Não podemos, então, afirmar nem negar nada sobre o que
havia no avião", completou.
A suspeita sobre eventuais vôos
da CIA no espaço aéreo europeu
está ligada a uma denúncia feita
pelo jornal americano "Washington Post", no início do mês, de
que a CIA manteve prisões secretas no Leste Europeu e na Ásia,
onde abrigou prisioneiros de
guerra e os torturou. A acusação é
negada pela CIA, e nenhum país
confirmou que possui tais prisões
em seu território.
Não obstante, o ministro das
Relações Exteriores da Holanda,
Ben Bot, pediu a Washington esclarecimentos sobre o relato de
que um avião da CIA transportando prisioneiros teria aterrissado em seu país. Bot disse ao Parlamento holandês que o país deveria reconsiderar seu papel nas
operações militares conduzidas
pelos EUA se as denúncias sobre
as prisões secretas forem verdadeiras e, conseqüentemente, ficar
provado que Washington violou
direitos humanos. A Holanda deverá enviar, no ano que vem, mais
de mil soldados, num contingente
da Otan (aliança militar ocidental), para o Afeganistão.
Pressão
A pressão dos europeus sobre os
EUA para que esclareçam as denúncias de vôos secretos transportando prisioneiros de guerra
não parte só do governo holandês. A ministra da Justiça da Alemanha, Brigitte Zypries, afirmou
na televisão que "estamos esperando, antes de tudo, para ver o
que será revelado pelas investigações, e aguardamos que os americanos nos dêem uma resposta".
A investigação a que se referiu
Zypries está sendo conduzida por
procuradores alemães. São dois
casos, um dos quais sobre um homem de nacionalidade alemã que
foi capturado na Macedônia e levado ao Afeganistão, e o outro sobre um egípcio que foi seqüestrado na Itália e levado para o Egito
através da Alemanha.
Para complicar mais a situação
de Washington, Alvaro Gil Robles, comissário para os Direitos
Humanos do Conselho da Europa, afirmou em entrevista ao jornal francês "Le Monde" que viu,
em setembro de 2002, numa base
da Otan em Kosovo, uma "réplica
de Guantánamo" -referência à
prisão americana encravada em
Cuba onde são mantidos suspeitos de terrorismo.
O Conselho da Europa abriu investigação sobre as denúncias, e o
senador suíço Dick Marty, que
chefia o trabalho, afirmou que é
pouco provável que a Europa tenha abrigado grandes centros
clandestinos de detenção.
"Não creio que possamos ter tido prisões como Guantánamo.
Mas é possível que prisioneiros
tenham ficado aqui por 10, 25 ou
30 dias." Marty disse ainda que
imagens de satélite podem ajudar
a determinar se a CIA manteve
prisões clandestinas na Europa.
O senador suíço estava ontem
em Bucareste, na Romênia, país
em que, segundo a ONG Human
Rights Watch, há uma base americana suspeita de haver abrigado
detentos.
O ministro romeno das Relações Exteriores, Mihai Razvan
Ungureanu, afirmou que a Human Rights Watch não tem provas para sustentar a afirmação de
que a base de Kogalniceanu foi
usada pelos EUA como prisão. Ele
disse ainda que a Romênia não recebeu nenhuma solicitação dos
EUA para a instalação de prisões.
O secretário-geral do Conselho
da Europa, Terry Davis, afirmou
ter pedido aos 46 Estados-membros da entidade que respondam,
até o fim do mês, às denúncias de
que a CIA usou aeroportos no
continente para transportar suspeitos de terrorismo.
Em Portugal, o governo anunciou que vai questionar os EUA
acerca da informação, divulgada
pela imprensa, de que 34 aviões
da CIA pousaram no país nos últimos três anos. Na Espanha, o Ministério das Relações Exteriores
informou que os aviões operados
pela CIA que pousaram no solo
do país eram vôos legais.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Artigo: Naufrágio universal? Próximo Texto: Iraque: Iraque pede que Japão adie saída de suas tropas Índice
|