São Paulo, sábado, 26 de novembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GUERRA SEM LIMITES

Amsterdã diz não saber se avião levava prisioneiros; Europa quer resposta sobre detenções clandestinas

Vôo suspeito da CIA pousou na Holanda

DA REDAÇÃO

O governo holandês confirmou ontem que um avião da companhia Path Corporation, que presta serviços para a CIA (agência de inteligência dos EUA), aterrissou no aeroporto internacional de Amsterdã na semana passada.
A confirmação vem na esteira de relatos publicados pela imprensa holandesa sobre a passagem de uma aeronave da CIA pelo país, possivelmente carregando prisioneiros de guerra. No entanto um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Holanda afirmou que o governo não tinha nenhuma informação sobre quem ou o que estava a bordo desse avião que pousou em Schiphol, no último dia 17.
O ministério declarou ainda que o avião da Path Corp. não requisitou autorização de alto nível para a aterrissagem. "O Ministério das Relações Exteriores só precisa conceder autorização se diplomatas ou materiais perigosos estão a bordo, e esse não foi o caso", disse o porta-voz Herman van Gelderen. "Não podemos, então, afirmar nem negar nada sobre o que havia no avião", completou.
A suspeita sobre eventuais vôos da CIA no espaço aéreo europeu está ligada a uma denúncia feita pelo jornal americano "Washington Post", no início do mês, de que a CIA manteve prisões secretas no Leste Europeu e na Ásia, onde abrigou prisioneiros de guerra e os torturou. A acusação é negada pela CIA, e nenhum país confirmou que possui tais prisões em seu território.
Não obstante, o ministro das Relações Exteriores da Holanda, Ben Bot, pediu a Washington esclarecimentos sobre o relato de que um avião da CIA transportando prisioneiros teria aterrissado em seu país. Bot disse ao Parlamento holandês que o país deveria reconsiderar seu papel nas operações militares conduzidas pelos EUA se as denúncias sobre as prisões secretas forem verdadeiras e, conseqüentemente, ficar provado que Washington violou direitos humanos. A Holanda deverá enviar, no ano que vem, mais de mil soldados, num contingente da Otan (aliança militar ocidental), para o Afeganistão.

Pressão
A pressão dos europeus sobre os EUA para que esclareçam as denúncias de vôos secretos transportando prisioneiros de guerra não parte só do governo holandês. A ministra da Justiça da Alemanha, Brigitte Zypries, afirmou na televisão que "estamos esperando, antes de tudo, para ver o que será revelado pelas investigações, e aguardamos que os americanos nos dêem uma resposta".
A investigação a que se referiu Zypries está sendo conduzida por procuradores alemães. São dois casos, um dos quais sobre um homem de nacionalidade alemã que foi capturado na Macedônia e levado ao Afeganistão, e o outro sobre um egípcio que foi seqüestrado na Itália e levado para o Egito através da Alemanha.
Para complicar mais a situação de Washington, Alvaro Gil Robles, comissário para os Direitos Humanos do Conselho da Europa, afirmou em entrevista ao jornal francês "Le Monde" que viu, em setembro de 2002, numa base da Otan em Kosovo, uma "réplica de Guantánamo" -referência à prisão americana encravada em Cuba onde são mantidos suspeitos de terrorismo.
O Conselho da Europa abriu investigação sobre as denúncias, e o senador suíço Dick Marty, que chefia o trabalho, afirmou que é pouco provável que a Europa tenha abrigado grandes centros clandestinos de detenção.
"Não creio que possamos ter tido prisões como Guantánamo. Mas é possível que prisioneiros tenham ficado aqui por 10, 25 ou 30 dias." Marty disse ainda que imagens de satélite podem ajudar a determinar se a CIA manteve prisões clandestinas na Europa.
O senador suíço estava ontem em Bucareste, na Romênia, país em que, segundo a ONG Human Rights Watch, há uma base americana suspeita de haver abrigado detentos.
O ministro romeno das Relações Exteriores, Mihai Razvan Ungureanu, afirmou que a Human Rights Watch não tem provas para sustentar a afirmação de que a base de Kogalniceanu foi usada pelos EUA como prisão. Ele disse ainda que a Romênia não recebeu nenhuma solicitação dos EUA para a instalação de prisões.
O secretário-geral do Conselho da Europa, Terry Davis, afirmou ter pedido aos 46 Estados-membros da entidade que respondam, até o fim do mês, às denúncias de que a CIA usou aeroportos no continente para transportar suspeitos de terrorismo.
Em Portugal, o governo anunciou que vai questionar os EUA acerca da informação, divulgada pela imprensa, de que 34 aviões da CIA pousaram no país nos últimos três anos. Na Espanha, o Ministério das Relações Exteriores informou que os aviões operados pela CIA que pousaram no solo do país eram vôos legais.


Com agências internacionais

Texto Anterior: Artigo: Naufrágio universal?
Próximo Texto: Iraque: Iraque pede que Japão adie saída de suas tropas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.